Escolha a ação certa: o que Panamericano e Cruzeiro do Sul têm a ensinar?

Analista dá dicas de como encontrar os melhores bancos para se investir e escapar dos escândalos corporativos do segmento

Ana Carolina Cortez

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SÃO PAULO – Em pouco mais de um ano e meio, dois escândalos envolvendo fraudes em bancos médios abalaram a confiança dos investidores quanto à solidez dos balanços divulgados pelo setor financeiro. No final de 2010, o rombo de R$ 4,3 bilhões no Panamericano (BPNM4), e, no final de maio deste ano, o desvio de R$ 2,5 bilhões no Cruzeiro do Sul (CZRS4), mostraram ao mercado que a decisão de compra ou venda de ações de uma empresa requer uma análise mais consistente de indicadores de mercado e do resultado trimestral das instituições.

Não obstante, diversos fatores têm contribuído para o desempenho mais fraco dos papéis dos bancos na bolsa. Desaceleração da economia, aumento da inadimplência, retração do crédito, pressão do governo para redução das taxas médias de juros ao consumidor… a lista é extensa – e não deve acabar tão cedo.

Ainda assim, analistas apontam que é possível lucrar com os bancos este ano, mas será preciso garimpar mais para encontrar o ouro do setor financeiro.

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Análises do HSBC e do J.Safra apontam para algumas opções de destaque este ano, como o Banrisul (BRSR6) no segmento médio e o Bradesco (BBDC4) no nicho de grandes bancos. Entretanto, analistas ressaltam que os balanços das companhias precisam ser avaliados com mais precisão para reduzir os riscos dos investimentos.

Como escolher?
Com a implementação de novas regras de solvência a caminho – o Basileia III – será preciso cuidado redobrado com a análise da qualidade das informações divulgadas pelos bancos desde já, principalmente os de médio porte, pois são eles os mais vulneráveis às mudanças previstas pelo Banco Central.

Claro que lucro líquido, receitas e provisões são itens de peso nas decisões dos investidores, mas é preciso ir além, conforme destaca Rodolfo Amstalden, analista da Empiricus Research.

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“Manobras de fraude no balanço são muito difíceis de perceber. Afinal, quem advinhou o rombo do Cruzeiro do Sul? Mas alguns indicadores são imprescindíveis na hora de escolher as melhores ações de banco para investir”, afirma Amstalden.

Confira algumas dicas do analista:

1. Descubra quem são os clientes
O perfil da carteira de crédito do banco define o risco que ele possui na concessão – e as chances que ele têm de recuperação desses recursos. Nesse sentido, é preciso comparar os relatórios mensais de crédito do Banco Central com o perfil da carteira do banco, checando qual é a exposição da instituição aos nichos que apresentam as maiores taxas de inadimplência e os piores riscos.

“Bancos muito expostos ao financiamento de veículos, por exemplo, tendem a registrar resultados financeiros menores, pois é um segmento que está desacelerando”, aponta Amstalden.

2. Fuja da volatilidade
Verifique quão estável é a receita do banco a cada trimestre. “Muitos bancos médios apontam forte volatilidade nas receitas a cada divulgação de balanço. Estabilidade é sinônimo de riscos menores”, destaca o analista da Empiricus.

Além disso, cheque o tamanho das receitas do banco com tarifas e com seguro e previdência. Quanto maior esse volume, menor é a volatilidade.

3. Proteja-se do calote
Os bancos são obrigados a provisionar perdas com inadimplência. Tal provisão, contudo, afeta o lucro da companhia. O equilíbrio, neste caso, é o mais indicado. As provisões devem ser suficientes para cobrir o risco das carteiras com os piores ratings (mais próximas da nota H, segundo classificação do BC).

4. Entenda o perfil dos depósitos
Além de emprestar recursos próprios, os bancos também se financiam no mercado para as concessões de crédito aos clientes. Nesse sentido, é importante descobrir qual é o perfil dos depósitos da instituição. “O empréstimo que a instituição toma precisa ter um prazo maior do que os depósitos feitos pelos clientes”, explica. 

5. Demande solvência
O índice de Basileia aponta qual é a solvência da instituição. Atualmente, o Banco Central exige um nível de 11%, ou seja, a cada R$ 100 que a financeira empresta, ela precisa ter R$ 11 disponíveis em caixa. Desta forma, quanto maior for o colchão de liquidez de um banco, menor o risco que ele tem de quebrar em períodos de crise. 

6. Fique atento ao mercado
Informação é poder – e, no setor financeiro, ela vira dinheiro. O cenário macroeconômico do país e do exterior afeta diretamente este segmento, por isso, acumule o máximo de informações que puder e acompanhe indicadores imprescindíveis, como consumo, inadimplência, desemprego, inflação, nível de produção industrial, taxa de investimentos, confiança dos brasileiros e mais.

Tudo isso afeta a decisão de tomar crédito, seja do consumidor, seja do empresário. Uma economia em desaceleração presiona os resultados do setor financeiro de forma geral.

Além disso, em cenário de crise, os bancos no Brasil sentem as consequências da falta de regulamentação das instituições lá fora. “A bolsa brasileira ainda é puxada pelos investidores estrangeiros e eles, geralmente, não dissociam o desempenho dos bancos internacionais das subsidiárias brasileiras e suas concorrentes na BM&FBovespa”, pondera Amstalden.

Entenda os recentes escândalos:

Banco O que aconteceu Impacto na ação Como ela está hoje
Panamericano O Banco Central afirmou ter encontrado “inconsistências contábeis” no balanço da instituição, durante auditoria motivada por denúncias. A notícia chegou à imprensa em 9 de novembro de 2010, e revelava que a instituição tinha um rombo de R$ 2,5 bilhões, maquiados na carteira de crédito, nas operações com cartão e em CDBs (Certificados de Depósitos Bancários). Os acionistas fizeram um aporte para salvar a instituição e o FGC (Fundo Garantidor de Crédito) também foi utilizado. No começo de 2010, os papéis cheagram ao auge de R$ 11,75. Em 9 de novembro daquele ano, os ativos caíram para R$ 4,62 – queda de 29,5% sobre o fechamento do dia anterior. As ações ainda não se recuperaram totalmente, um ano e meio depois do escândalo. Os papéis fecharam em R$ 4,10 na última quarta-feira (8).
Cruzeiro do Sul Em 31 de maio deste ano, o Banco Central anunciou intervenção do FGC na instituição. O órgão regulador havia descoberto um rombo nas carteiras de crédito do Cruzeiro do Sul, hoje estimado em R$ 2,5 bilhões. A conta pode aumentar porque a auditoria do BC ainda não terminou. Neste ano, as ações chegaram ao pico de R$ 13,15, mas despencaram para R$ 9,01 em 31 de maio – queda de 25,23% sobre o fechamento anterior.  Os papéis continuaram em forte queda e atualmente estão cotados a R$ 1,78.