Quem ganha e quem perde na bolsa se o BC adotar mais medidas macroprudenciais?

Ao contrário dos bancos, ações das imobiliárias devem se beneficiar, mas gestores fazem ressalvas a estas interpretações

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – O teor da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) reforçou a ideia de que a autoridade monetária buscará arrefecer a inflação brasileira com uma combinação entre medidas macroprudenciais e elevação dos juros, sinalizando até que o ciclo de alta na Selic pode estar chegando ao fim, na opinião dos analistas. E o resultado dessas interpretações foi logo refletido na bolsa, principalmente nas ações de bancos e imobiliárias.

Na quinta-feira (10), pregão em que o Ibovespa conheceu sua terceira queda seguida, as ações do setor financeiro, tais como Itaú Unibanco (ITUB4, -3,84%), Bradesco (BBDC4, -3,70%), Santander (SANB11, -3,52%), Itaúsa (ITSA4, -3,32%) e Banco do Brasil (BBAS3, -2,91%) figuraram entre as maiores perdas do Ibovespa, enquanto imobiliárias, como Rossi (RSID3, +2,96%), MRV (MRVE3, +2,64%), Cyrela (CYRE3, +1,42%) e PDG (PDGR3, +0,88%), responderam à ata com valorização, contrariando o movimento negativo do Ibovespa, que recuou 1,82%.

Em cenário de elevação dos juros, os bancos conseguem se defender bem repassando essa diferença aos seus clientes. No entanto, a possibilidade de que o combate à inflação seja feito por meio de medidas tais como aumento do compulsório, para enxugar e encarecer a oferta de crédito, especialmente para pessoa física, acabou impactando estas ações, movimento que ganhou forças por conta da aversão ao risco instaurada nas bolsa globais.

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Embora a ata do Copom não deixe claro que isso de fato irá acontecer, o gestor de renda variável da Saga Capital, Alexandre Caldas, explica que a exposição direta do setor a essas possíveis medidas macroprudenciais acaba tendo efeito imediato nas ações. “É natural que os bancos sofram mesmo”, avalia o gestor.

No entanto, Caldas permanece com uma visão bastante positiva para o setor, principalmente aos grandes bancos brasileiros, dando destaque ao Itaú Unibanco. Para ele, as grandes instituições já estão precificando essas medidas e quedas mais acentuadas só ocorreriam caso houvesse um aumento de aversão ao risco no mercado global. “Em outras palavras: pra cair mais, seria mais por risco de mercado”, conclui Caldas.

Interpretação pode estar equivocada
Partindo de um ponto de vista completamente diferente, Harold Thau, analista CNPI e sócio da Técnica Assessoria de Mercado de Capitais, não encontrou motivos para a movimentação das ações vista no último pregão. “Eu não vejo na ata do Copom nada que possa prejudicar o desempenho futuro dos bancos”.

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O sócio da empresa especializada em consultoria de investimentos disse que a elevação em 50 pontos-base na Selic promovida em março certamente não foi a última. Já sobre as possíveis medidas macroprudenciais, Thau afirma que isso acaba não tendo um efeito tão negativo no setor, visto que as instituições podem repassar esses custos aos clientes.

Mas então, o que explica a queda das ações? Para Thau, o movimento negativo até pode ter sido reflexo de uma interpretação negativa dos investidores em relação à ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central. No entanto, isso não significa dizer que esta é a interpretação correta. “Interpretações imediatas podem acabar mostrando-se equivocadas”, disse Thau, citando como exemplo o caso das empresas de cartões de crédito, que após acumularem significativas perdas nos últimos meses, registraram forte valorização no final de fevereiro.

Relação entre a Selic e as ações de imobiliárias
Se os bancos tiveram uma quinta-feira bastante negativa, apesar de os analistas demonstrarem que continuam confiantes com o setor, as companhias imobiliárias se beneficiaram com a interpretação do mercado, visto que o desempenho histórico das ações dessas empresas mostra-se inversamente proporcional ao movimento das taxas de juros – se a Selic cai ou sinaliza que irá cair, elas sobem, e vice-versa.

No entanto, é importante destacar que, na prática, esses eventos não possuem uma correlação tão forte, como explica Roberto Kropp, gestor de renda variável do Daycoval Asset. “É engraçado que isso acontece porque no Brasil o lastro do financiamento imobiliário está bem mais associado à TR (Taxa Referencial, utilizada para remunerar a poupança) do que à Selic”, explica.

Para o gestor, essa resposta positiva das ações deve-se muito mais por causa dos investidores estrangeiros, tendo em vista que lá fora existe essa percepção de que o financiamento imobiliário esteja diretamente ligado aos juros básicos. Tendo em vista a possibilidade de substituição do tradicional aperto monetário por medidas menos usuais, as ações do setor acabam se beneficiando dessa situação.

As fortes perdas acumuladas em 2011 também colaboram para o movimento altista dos papéis, corrigindo assim uma parte da desvalorização tida nesses pouco mais de dois meses. O destaque fica para Cyrela, que acumulava até esta quinta-feira uma depreciação de 28,05% no ano, a maior dentre os ativos listados no Ibovespa. Gafisa (-16,61%), MRV (-15,44%) e Rossi (-10,75%) também apresentam um desempenho em 2011 bem pior que o do Ibovespa (-4,71%).

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers