Ação da Hering segue como bom investimento, apesar de desaceleração

Para analistas, queda nas vendas - que motivaram desvalorização dos ativos HGTX3 - ocorreu por fatores conjunturais

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Desde 2005 as ações da Hering (HGTX3) engataram uma performance invejável. Daquele ano até o pregão desta quinta-feira (12) o papel já avançou 9.106%. A performance superior aos concorrentes do setor de varejo e o bom desempenho mesmo em momentos de aversão ao risco, foi respaldado por resultados sólidos, com a reestruturação da marca e da estrutura de produção, levando a um forte crescimento das vendas e expansão das margens de rentabilidade. 

No começo da semana, porém, perspectivas de desaceleração de vendas, feitas pelo próprio presidente da empresa, Fábio Hering, trouxeam preocupação ao mercado, o que levou a uma forte desvalorização dos papéis na semana. Na última terça-feira, dia seguinte às declarações do presidente do grupo, os ativos HGTX3 despencaram 5,57% e com um volume financeiro de R$ 152,9 milhões, o segundo maior giro diário visto na história das ações da varejista na BM&FBovespa. O maior volume foi alcançado em 30 de novembro de 2011, atingindo R$ 345,8 milhões.

Após uma leve recuperação na quarta-feira – alta de 0,02% -, as ações voltaram a cair nesta quinta-feira, apesar do clima positivo instaurado no mercado. Enquanto o Ibovespa teve forte alta de 2,88% nesta sessão, os ativos HGTX3 fecharam com desvalorização de 1,36%, aos R$ 44,19. Na semana, as perdas já somam 8,41%.  

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Em meio a essas expectativas de crescimento menor, surge a questão: será que a Hering esgotou o seu modelo de crescimento ou ainda há mais espaço para expansão da empresa e, consequentemente, dos seus ativos?

Crescimento menor, mas ainda sólido
De acordo com o analista Luiz Carlos Cesta, da Votorantim Corretora, ainda existe um espaço bastante grande para a expansão da companhia, levando em conta principalmente o crescimento que a economia brasileira vem apresentando, o que deve sustentar o movimento positivo das vendas da companhia.

Para Cesta, o que acontece com as ações da companhia é um movimento atrelado à conjuntura econômica, já que as expectativas econômicas ainda não estão consolidadas. Além disso, há outros fatores, como questões climáticas, que não podem ser controlados pela Hering e que também acabam por influenciar o resultado da companhia, assim como de outras do setor.

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“O que aconteceu foi uma frustração das perspectivas do mercado com relação ao desempenho das vendas, mais fracas do que era esperado pela própria Cia Hering no primeiro trimestre deste ano”, afirma Cesta. O fato foi anunciado na segunda-feira (9), pelo presidente da companhia, Fabio Hering, em encontro com analistas e investidores. Cesta, por sua vez, avalia que apesar de não apresentar o crescimento observado anteriormente, a companhia deve continuar com fundamentos sólidos e um bom desempenho comparado aos seus pares do setor. 

Já a analista da Coinvalores, Sandra Peres, ressalta que o primeiro trimestre costuma ser um período especialmente ruim para o setor de varejo, já que os consumidores estão mais endividados com as despesas de Natal, material escolar, impostos, entre outros. Sandra ressalta ainda que os meses de março e abril marcam a mudança de coleção da companhia, de primavera-verão para outono-inverno. “Caso as condições climáticas não acompanhem essa mudança, há um forte prejuízo para as empresas, ainda mais porque essas novas coleções costumam ser mais caras”, avalia a analista.

Sandra afirma ainda que, ao contrário de 2011 – considerado um ano atípico, em que o primeiro trimestre foi mais aquecido e os últimos três meses foram mais fracos para o setor -, o ano de 2012 será mais “normalizado”. Ou seja, haverá uma desaceleração das vendas no primeiro trimestre, mas com números mais fortes de outubro a dezembro, afirma. Contudo, para Sandra, apesar da sazonalidade apontar para uma desaceleração natural dos preços, as perspectivas são de queda do crescimento das vendas da companhia no ano, mas sem atingir níveis preocupantes. 

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Ações em alta desde 2005: movimento deve continuar?
As ações HGTX3 vêm apresentando um bom desempenho desde 2005, mas começaram a apresentar uma alta especialmente forte a partir de 2009. Em 2005, cada ação da companhia chegou a valer R$ 0,39, enquanto, no fechamento da última quinta-feira elas valiam R$ 44,19. Ou seja, o papel da companhia chegou a triplicar mais de 113 vezes no período.

No início do movimento de valorização, há seis anos, as ações da companhia tiveram alta de 56,25%, e seguiram com alta de 96% em 2007. Já no ano de 2008, em meio à crise econômica mundial, os papéis interromperam a sequência de ganhos e apresentaram queda de 23% – performance acima do Ibovespa no ano, que caiu 41,22%.

Em 2009, contudo, foi quando o papel da empresa engatou sua alta mais expressiva, de 287,68% e, sem interromper a sequência de ganhos, fechou com valorização anual de 183,26% em 2010. O desempenho positivo continuou em 2011, com alta de 22,30%, e o otimismo com as ações HGTX3 segue nesse ano, com alta de cerca de 38%.

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Para o analista da Votorantim Corretora, essa alta pode ser atribuída à estratégia da companhia, que se baseou na consolidação da marca e na busca por maior margem de resultados. O desenvolvimento de produtos voltados para segmentos ainda não explorados pela companhia, como a criação da Hering Kids – voltada ao público infantil -, também são fatores determinantes para o desempenho da companhia e deve balizar seus resultados pelos próximos períodos, afirma. 

Sandra avalia que, além da reestruturação, que buscou uma maior diversificação dos produtos e passou a acompanhar mais a moda, merece destaque a estratégia da companhia em expandir-se através de franquias, levando a menores gastos para aumentar sua presença no mercado. Além disso, a Hering também diversificou o modo de produção, que passou a ser tanto próprio quanto terceirizado. “Com isso, tanto as margens Ebitda (relação percentual entre a receita líquida e a geração operacional de caixa) quanto a margem bruta são as maiores do setor”, afirma a analista. 

Preocupação no curto prazo, mas bom investimento a longo prazo
Em meio ao crescimento da Hering, as ações performaram positivamente e devem continuar crescendo, de acordo com os analistas. A analista da Coinvalores possui recomendação de manutenção para os ativos HGTX3, com preço-alvo de R$ 50,00 para dezembro de 2012, o que configura um potencial de valorização de 13,15% em relação ao fechamento da última quinta-feira. 

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“Porém, essa recomendação é para os investidores que vislumbram o curto prazo, já que as ações da companhia vêm sofrendo um pouco com esses acontecimentos recentes. Contudo, no médio e longo prazo, os papéis são bem atrativos e uma boa opção de investimento”, afirma Sandra. 

Cesta, por sua vez, possui um preço-alvo de R$ 46,50 por ativo HGTX3 para dezembro de 2012, o que configura um potencial de valorização de 5,23% em relação ao mesmo período de fechamento. O analista também recomenda a manutenção dos ativos da companhia.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.