Esquecida pelos analistas, Kepler Weber já subiu 130% no ano – e pode ir além

Depois de quase quebrar em 2006, companhia se mobilizou para dar a volta por cima e agora surfa na onda dos negócios do campo, com perspectivas de safra recorde em 2013

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Poucas companhias tiveram crescimento tão robusto neste ano de bolsa em queda acumulada como a Kepler Weber (KEPL3), small cap com forte atuação no segmento de armazenagem de grãos. Enquanto o Ibovespa, apesar da recuperação dos últimos meses, ainda recua 11,12% em 2013 – segundo cotação de fechamento da última quarta-feira (30) -, a ação da empresa mostra surpreendente alta de 132,23%. O número impressiona ainda mais se for levada em conta a crise pela qual a empresa passou anos antes, com o mercado contando os dias para a companhia “jogar a toalha” e decretar falência, tamanho nível de endividamento adquirido no período.

Na primeira metade da década passada, a Kepler Weber apostou em um crescimento forte do mercado agrícola e fez ousadas operações de elevado nível de alavancagem, criando uma nova fábrica com o intuito de acompanhar o movimento esperado para o segmento de armazenagem de grãos – a principal fonte de receita da companhia, que hoje corresponde a cerca de 70% de seu faturamento. No entanto, a investida fracassou e o tiro acabou saindo pela culatra, com a empresa quase quebrando em 2006.

“A Kepler Weber é uma empresa que passou alguns anos sob dúvida. Tinha muita gente que questionava a consistência dos níveis de rentabilidade e lucratividade da empresa, por conta da crise que passou em 2005-2006, época de graves problemas, com a companhia chegando perto de quebrar”, conta Fernando Fachin, analista de investimentos e renda variável da Rio Bravo Investimentos. Após reportar forte prejuízo em 2006, a empresa começou a se reestruturar no ano seguinte, quando os credores converteram suas participações nas dívidas em ações. “Foram feitas várias melhorias de governança corporativa para, a partir de 2008, a empresa começar a tirar a cabeça de fora d’água”, ressalta o analista.

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De “mico” para possível mid cap
A reviravolta aconteceu graças à política de austeridade da companhia, que reviu suas operações, fez importantes mudanças para se adaptar ao mercado e, anos depois, voltou a entregar bons resultados aos investidores. “Para sanar a crise, a Kepler fez um acordo com os credores e resolveu alongar o perfil da dívida, injetar dinheiro para o capital de giro, retomando rapidamente sua trajetória de crescimento”, explica o diretor vice-presidente da companhia, Olivier Colas.

Desta forma, o mercado passou a acreditar um pouco mais na companhia, que começou a apresentar resultados mais vistosos aos investidores, surfando na onda do bom momento do agronegócio brasileiro – que tem expectativas de safra recorde em 2013. Com uma sequência de duas altas anuais superiores a 10% nos lucros líquidos de 2011 e 2012, a empresa caminha para uma mudança de patamar na Bovespa. Segundo Colas, a Kepler projeta deixar o status de small cap para se tornar uma midcap em 2017, “com geração de caixa robusta”.

Começou a ficar mais claro que a empresa estava com outro nível de resultado operacional, apresentando finalmente um Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) acima de R$ 50 milhões por ano, tudo isso com pouca alavancagem financeira. “A nossa impressão é que a empresa deve mesmo mudar de patamar e tamanho, tendo em vista que não tem nada no horizonte – a não ser uma eventual quebra de safra – que possa ser contrário ao crescimento da companhia”, afirma o analista da Rio Bravo.

Fachin conta que a gestora adquiriu 1% do capital da entre janeiro e fevereiro deste ano. “Não pegamos essa alta inteira, porque, quando iniciou, nossa posição era pequena – não deu para comprar tudo a um preço só –, mas a gente conseguiu capturar uma boa parte deste ganho”, conta.

Um ano de ouro para a empresa…
Para os analistas da Coinvalores, Bruno Piagentini e Marco Aurélio Barbosa, a disparada das ações da Kepler Weber na Bovespa em 2013 teve como estopim o ótimo 1º trimestre da companhia, que apresentou uma boa carteira de opções e pedidos. “Além disso, a partir de maio, vimos uma subida mais contundente por conta da ideia da safra [com fortes perspectivas de recorde histórico] de 2013. Isso trouxe bastante ânimo ao mercado”, observam os analistas.

Na visão do vice-presidente da companhia, além do cenário favorável para os setores em que a Kepler Weber atua, uma série de medidas tomadas pela atual gestão da Kepler agradou o mercado e atuou como importante “pano de fundo” para atrair novos investidores. Dentre elas, Colas destaca a melhora na governança corporativa da empresa – com a eliminação das ações preferenciais -, os grupamentos feitos para que fosse possível sair das negociações a centavos e a sólida política de dividendos adotada.

“O bom momento da Kepler combinado com o bom momento do mercado e com as boas práticas de governança fez com que o mercado refletisse com a Kepler onde ela deveria estar”, enfatiza o diretor.

… e para o setor de agronegócio
Os negócios do campo têm sido o destaque positivo da tímida alta do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro neste ano, com seu melhor desempenho desde a época do Plano Real. O setor tem crescido bastante com a expectativa de recorde na produção de grãos, além da recuperação dos preços, que acompanham a retomada da economia dos Estados Unidos. A Kepler Weber tira proveito deste cenário pela sua forte atuação no segmento de armazenagem, que consiste na produção de silos, secadores, máquinas de limpeza, transportadoras de grãos, entre outras atividades. 

“Se você olhar o nosso portfolio, cerca de 70% do faturamento é formado pelo mercado de armazenagem no Brasil. Nós temos aproximadamente 22% de exportação – basicamente para América do Sul, África e Oriente Médio -, e o restante, na ordem de 8%, de movimentação de granéis”, afirma Colas, que faz grandes apostas no terceiro segmento apontado, buscando diversificar ainda mais o modelo de negócios e, consequentemente, trazer mais segurança ao investidor.

Contudo, embora o agronegócio deva seguir crescendo, provavelmente a expansão será com menor força daqui pra frente, já que a base de comparação ficou muito elevada – com safra recorde em 2013, é difícil registrar um forte nível de crescimento anual em 2014 -, aponta o economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini. A infraestrutura também é vista como um grande empecilho para o crescimento mais robusto do setor, aponta o economista. Os recentes investimentos, no entanto, podem fazer com que o cenário se mostre mais viável nos próximos anos.

Mas o economista destaca também alguns fatores positivos identificados no âmbito global, como a mudança na cultura de consumo dos países europeus durante a crise – que migrou dos bens duráveis para os não-duráveis – e as mudanças estruturais pelas quais passam as economias emergentes. “Economias como a Espanha, que ainda estão fragilizadas, mudam o tipo de consumo neste momento. Em momento de crise, você só não pode parar de comer”, completa Agostini.

KEPL3: ainda um “fantasma” para os analistas
Mesmo com uma alta de mais de 100% e todo um cenário propício para o setor, a Kepler continua sendo uma empresa sem receber cobertura de analistas. Para Fachin, da Rio Bravo, a perda de relevância da companhia para bancos e corretoras se deve em parte à sua quase quebra na década passada, o que castigou severamente seus papéis durante algum tempo.

Esse quase anonimato da Kepler para os olhares críticos dos analistas já prejudicou bastante a companhia, conta Olivier Colas, que diz ter feito várias medidas para driblar os efeitos negativos desta situação. “A gente está colocando um pouco a nossa cara na janela. O Felipe [Fontes, membro do setor de RI da companhia] e eu estamos constantemente agora conversando com os investidores e incentivando também instituições financeiras a acompanhar o papel”, disse o vice-presidente da empresa.

A Coinvalores Corretora é a primeira corretora a acompanhar o papel e Colas diz que mais três instituições estão prestar a dar início à cobertura de KEPL3.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.