Governo está dividido sobre acordo Embraer/Boeing, dizem fontes

Enquanto a Fazenda se mostra mais disposta a conversar sobre um acordo, a Defesa está mostrando uma maior resistência

Bloomberg

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(Bloomberg) — O governo brasileiro está dividido em relação à proposta da Boeing para assumir o controle da Embraer, disseram três pessoas com conhecimento direto do assunto.

O time do Ministério da Fazenda considera um acordo vital para a sobrevivência da Embraer e está mais disposto a discutir uma possível mudança de controle, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas porque as negociações são privadas.

Já no Ministério da Defesa, mais suscetível à pressão das Forças Armadas, há uma resistência à ideia de aquisição, disseram as pessoas. A equipe de Defesa propõe uma parceria entre as duas empresas e argumenta que a Embraer é chave ao desenvolvimento tecnológico no país e desempenha um papel estratégico, disseram as pessoas.

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As negociações em nome do governo brasileiro estão sendo comandadas pelo Ministério da Defesa, segundo oficiais do Palácio do Planalto, da Fazenda e da Defesa. Nenhum dos três quiseram fazer comentários para esta reportagem.

A campanha para as eleições presidenciais deste ano vai pesar na balança de uma decisão, pois parte do eleitorado pode considerar que a venda do controle da Embraer seria como entregar a joia da coroa industrial do país. No início deste mês, pessoas familiarizadas com as discussões disseram à Bloomberg que as empresas estavam pressionando por um acordo em breve, em meio ao risco de que uma oposição política ao negócio se avolumasse às vésperas das eleições de outubro. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem dito que avalia se candidatar à presidência do país.

A Boeing quer uma estrutura na qual ela ganha o controle da Embraer e está aberta a discutir uma divisão da empresa brasileira, com o governo mantendo poderes sobre o negócio de defesa, as pessoas disseram. Enquanto o Ministério da Fazenda poderia estar aberto a essa proposta, o da Defesa não está, de acordo com as pessoas.

O Brasil detém uma “golden share” na Embraer que dá ao governo o poder de veto sobre uma mudança de controle, bem como sobre as principais decisões estratégicas. A Boeing poderia aceitar manter a golden share para questões de defesa e ganhar o controle total sobre as outras questões, disseram as pessoas.

Um acordo entre a Boeing e a companhia brasileira daria ao fabricante americano uma aeronave na categoria de 100 lugares para enfrentar a nova ameaça da Airbus SE, que concordou em outubro a assumir o controle do programa C Series da Bombardier Inc. O jato canadense, que compete com os maiores aviões comerciais da Embraer, é alvo de uma reclamação comercial dos Estados Unidos apresentada pela Boeing.

Os analistas do Bradesco atribuíram uma probabilidade de 60 por cento de que as negociações terminem com a Boeing adquirindo uma participação minoritária na Embraer, sem mudanças substanciais nas perspectivas para a empresa.