Vender a descoberto: saiba como ganhar dinheiro com a queda de uma ação

Acesso para pessoas físicas no Brasil ainda é restrito; nos EUA operação é muito comum entre todos os investidores

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Embora no mercado brasileiro esteja praticamente restrita aos investidores institucionais, como administradores de recursos e fundos de pensão, a venda a descoberto é uma estratégia muito utilizada também por investidores pessoa física em mercados como o norte-americano, por exemplo. Você sabe como ela funciona e qual é seu objetivo?

Quando o investidor aposta na alta de uma ação, a alternativa mais comum é comprar este papel no mercado a vista. A dinâmica é simples e conhecida pela maioria dos investidores: basta colocar sua ordem de compra junto a uma corretora e ter recursos para saldar o pagamento.

Mas e quando o investidor acredita que ação irá cair? Caso ele tenha o papel em carteira, uma alternativa é vender, caso não tenha, simplesmente não comprar. Porém, existe uma alternativa que pode ser mais rentável: assumir uma posição vendida.

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Conceito simples, execução complicada
Assumir uma posição vendida significa simplesmente vender um ativo que não está na carteira. Assim, quando um investidor realiza uma venda a descoberto, ele está vendendo algo que não tem, mas que irá tomar emprestado junto à sua corretora. Para assumir uma posição vendida, o investidor deve alugar o mesmo ativo junto a algum investidor que possua o ativo.

O aluguel de um papel tem paralelos com o aluguel de um imóvel, por exemplo. No caso, quem toma emprestado, ou tomador, irá pagar uma taxa pelo aluguel, com o proprietário do ativo, ou doador, ficando com os riscos de alta ou baixa do ativo durante o prazo do aluguel.

Para reverter esta transação, basta o investidor comprar a mesma quantidade do ativo no mercado, zerando sua posição. No caso de operações com ações, estas transações são realizadas através de uma corretora de valores, contando com a CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia) como reguladora da operação, exigindo garantia para quem toma as ações emprestadas.

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Embora o conceito seja relativamente simples, a execução é mais complicada, principalmente no Brasil. A grande maioria das corretoras somente permite que investidores institucionais assumam posições vendidas. Pessoas físicas são, portanto, exceção neste mercado, ao contrário dos EUA, onde as vendas a descoberto são muito difundidas entre todos os investidores.

Razões para assumir uma posição vendida
O motivo mais comum para assumir uma posição vendida é especulativo: acreditar que o preço do ativo irá cair. Isso permite que o investidor “venda caro” para depois comprar mais barato. Um caso conhecido de posição vendida foi a aposta do mega-investidor George Soros contra a libra esterlina em 1992. Tomando uma posição vendida de US$ 10 bilhões, ele faturou cerca de US$ 1 bilhão com a desvalorização da moeda britânica.

Porém, muitos investidores adotam posições vendidas como parte de estratégias, ou mesmo para realizar hedge de outras posições. Por exemplo, um investidor pode acreditar que o diferencial entre ações preferenciais e ordinárias pode cair, assumindo posição comprada nas ONs e vendida nas PNs.

Riscos aumentam
Assumir uma posição vendida traz riscos muito maiores do que tomar uma posição comprada. Em primeiro lugar, ao alugar ou tomar emprestado um papel, o investidor terá que pagar ao doador um taxa, ou seja, mesmo que o preço não mude, ele já estará incorrendo em perdas.

Outro fator é inflação. Ao longo do tempo os preços tendem a subir, o que é favorável para quem está em posição comprada, mas desfavorece quem está em posição vendida. Deste modo, assumir uma posição vendida implica em tomar uma posição contrária à tendência natural do mercado.

Destaque também para o fato de que, em uma posição vendida, o risco é teoricamente infinito. Uma ação pode subir de forma contínua, o que pode abalar seriamente as finanças de quem assume uma posição vendida. Para os comprados, o risco máximo é a ação tender a zero, ou seja, o risco é limitado.

Por fim, um quarto risco é a possibilidade de todos os que tomaram posições vendidas resolverem cobrir suas posições ao mesmo tempo. Quando isso acontece, conhecido em inglês como short squeeze, os preços do ativo disparam, multiplicando as perdas de quem não cobrir a posição rapidamente.

Risco e recompensa
Apesar de todos os riscos, a popularização das operações de venda a descoberto também para investidores pessoa física seria um importante passo para o desenvolvimento do mercado brasileiro de ações. Isso iria permitir estratégias mais sofisticadas, até mesmo com redução do risco dos investidores, além de contribuir para o aumento da liquidez do mercado.

A mecânica é simples e já adotada freqüentemente por investidores institucionais. Aliás, alguns gestores de recursos vivem quase que exclusivamente deste mercado: são os hedge funds long/short que assumem posições compradas e vendidas em papéis diferentes, correndo menos risco de mercado e apostando nas oportunidade de arbitragem entre estes ativos.