Produção industrial terá desempenho modesto este ano e grandes desafios à frente, dizem analistas

Momento atual é errático, com resultados dispersos por setores, mas atividade pode sofrer com aperto das condições financeiras

Roberto de Lira

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A produção industrial brasileira tem apresentado um comportamento errático nos últimos meses e os analistas esperam que o indicador vai mostrar um leve crescimento nas próximas medições trimestrais, devido à menor pressão de custos e uma ligeira recuperação do consumo das famílias.

Mais cedo, o IBGE divulgou que a produção industrial caiu 0,6% entre os meses de julho e agosto, devolvendo na íntegra o avanço de 0,6% que havia registrado no trimestre encerrado em julho.

A XP destaca em relatório que a queda de agosto representou o terceiro resultado negativo mensal desde o início do ano e que os resultados foram mistos entre as categorias econômicas. Em Bens de Consumo Duráveis, por exemplo, saltou 6,1% ante julho, o que compensou o tombo de 6,7% observado na leitura anterior. A categoria de Bens de Capital também cresceu (5,2%), encerrando uma sequência de duas quedas consecutivas na margem.

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No entanto, em ambos os casos, a atividade ainda se encontram abaixo dos níveis pré-pandemia.

Crescimento modesto

Enquanto isso, as categorias de Bens Intermediários e Bens de Consumo Semi e Não Duráveis recuaram 1,4% em agosto comparado a julho, anulando grande parte dos avanços registrados na leitura mensal anterior (1,8% e 1,5%, respectivamente).

“A nosso ver, o setor manufatureiro permanecerá em trajetória de crescimento modesto nos próximos meses, devido sobretudo à elevação do consumo das famílias  – embora a um ritmo cada vez mais suave – e à redução dos gargalos nas cadeias globais de matérias-primas”, prevê a XP.

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A estimativa preliminar para a produção industrial de setembro é de uma ligeira queda de 0,4% em relação a agosto, após ajuste sazonal. Embora ainda aguarde a divulgação de indicadores coincidentes, a XP acredita numa estabilidade entre o 2° e o 3° trimestres (-0,1%). Para o ano, a projeção é de alta modesta, de 0,5%. Para o PIB, foi reforçada a expectativa de alta de 2,8% em 2022.

Desaceleração

O Itaú destacou em relatório que a queda em agosto foi impulsionada por três importantes setores (Mineração/Extrativista; Alimentos; derivados de petróleo e biocombustíveis), que respondem por cerca de 35% da produção industrial. Por outro lado, a surpresa positiva veio dos setores  químico e farmacêutico.

“O resultado de hoje continua apontando para uma desaceleração da atividade econômica para o segundo semestre. Também esperamos outra queda nas vendas no varejo em agosto (o indicador será divulgado na sexta-feira)”, diz o Itaú.

Vai e volta

Para o Bradesco BBI, a produção industrial continuou a reafirmar seu comportamento errático. “Nas últimas quatro leituras, a indústria vem indo e voltando, ficando estagnada no mesmo nível desde dezembro de 2021, quando olhamos para a série com ajuste sazonal”, diz o banco em relatório.

Para os analistas do BBI, as subindústrias mostraram uma imagem muito melhor que o índice geral. “No entanto, não há nenhuma razão específica para esperar um desempenho muito melhor para a produção industrial. De fato, por um lado, o menor custo de produção nos últimos tempos e a demanda ainda aquecida apontam para um bom momento da indústria no curto prazo. Por outro lado, altas taxas de juros, um mercado de trabalho esfriando e expectativas de crescimento mais baixas em todo o mundo provavelmente empurrarão a indústria para um período desafiador à frente”, diz o relatório

Para o Goldman Sachs, o setor industrial deverá enfrentar ventos contrários no futuro próximo, pelo impacto defasado de condições financeiras mais apertadas (taxa de juros). Além disso, o banco de investimentos cita os retornos marginais decrescentes da normalização da atividade nos “pós-pandemia”, condições de crédito mais exigentes e demanda externa mais fraca.

“Do lado positivo, os cortes nos impostos sobre combustíveis e energia e o aumento significativo das transferências fiscais para as famílias deverão amortecer a esperada desaceleração da atividade”, prevê o Goldman Sachs.

Alertas

O BTG Pactual diz que a queda no mês foi influenciada pela piora da avaliação da situação atual dos negócios, apesar da descompressão dos custos. “No indicador de expectativas, as preocupações dos empresários ficam por conta da possível redução da produção em meio a uma desaceleração da atividade econômica e os impactos do aperto das condições financeiras nos investimentos”, afirma

A projeção é que o comportamento da indústria fique estável quando for divulgado o dado fechado do terceiro trimestres. “Ressaltamos que, no quarto trimestre, o setor pode ser impactado negativamente pelo aperto das condições financeiras e dar sinais mais claros de arrefecimento”, alerta o BTG.