Ferraris no Uber: o problema dos ICOs e o futuro dos modelo de captação

Como estão, ICO’s são uma alternativa pobre, arriscada, que usa mal a tecnologia Blockchain e os criptoativos

Equipe InfoMoney

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Por Carl Amorim, executivo do Blockchain Research Institute Brasil

Os ICO´s, sigla em inglês para Oferta Inicial de Moedas, caíram nas graças do mercado como a solução para todos os males das startups, capaz de captar dinheiro fácil, simplificar processos complexos da CVM e do Banco Central e ainda fugir das garras do Leão da Receita Federal. No entanto, o que se percebe, na maior parte dos casos, é a utilização dessa ferramenta sem qualquer reflexão por parte dos envolvidos, dos investidores aos financiados. Vejo o ICO como o caso clássico do uso de uma tecnologia superior, o Blockchain, em um modelo de negócio antigo. É colocar Ferraris para rodar no Uber.

Minha primeira questão é: por que replicar o modelo de IPO do passado e do financiamento totalmente centralizado numa tecnologia distribuída? Um ICO desperdiça o que há de mais poderoso no Blockchain ao manter práticas centralizadoras, deixando os investidores flertando perigosamente com o risco pedagógico de perder tudo que investiram. Não faz nenhum sentido pegar um modelo centralizado que exige um intermediário de confiança – CVM, Bovespa, Corretoras de Valores, e simplesmente tirar essas figuras, substituindo-as pela fé cega de que somente a tecnologia do Blockchain, e não o modelo distribuído, é segredo de sua confiabilidade, inviolabilidade e segurança.

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A segunda questão é: por que entregar milhões de dólares nas mãos de um grupo de pessoas que tem somente uma ideia em um Whitepaper e nem mesmo um MVP (Minimum Viable Product)? Por que não há limites máximos de captação ou limites de investimento por investidor? O que aconteceu com as rodadas de investimentos? O que aconteceu com o bom senso? Por fim, quem decretou que um ICO é uma única opção? Por que não replicar outros modelos de captação, como debêntures também? Enfim, como estão, ICO’s são uma alternativa pobre, arriscada, que usa mal a tecnologia Blockchain e os criptoativos. São frutos de um paradigma centralizador que farão, em breve um desserviço à comunidade, aos investidores e a toda sociedade.

Se tenho sugestões, claro, não iria trazer o leitor até aqui sem propor algo construtivo em duas linhas. A primeira para quem insiste em fazer o velho do jeito novo: emissão escalonada de tokens, limites de captação atrelados a entregáveis do projeto e de investimento por investidor. Mas isso é “Blockchain Nutella”, para aqueles que não podem aplicar a tecnologia em todo seu potencial. A segunda começa sugerindo um novo nome para ICO: TGE – Token Generation Event ou EGT Evento Gerador de Token, pois não há necessidade de oferecer participação na empresa e outros tipos de títulos podem ser emitidos.

A real inovação, no entanto, estaria na emissão de tokens para comunidades de empresas e modelos de negócios, como o mercado imobiliário ou agronegócio, mantendo assim a estrutura distribuída e todo o ganho que ela traz em termos de segurança para todos os envolvidos, dispensando entidades reguladoras e intermediários de confiança.

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Esse “Blockchain Raiz” requer coragem para investir em um novo modelo, interagir com players de mercado, pensar na comunidade, nos produtos, nos processos e construir tudo do zero. Enfim, fica a esperança de que os primeiros experimentos mais radicais comecem, que mais pessoas entendam a diferença entre descentralizado e distribuído, que valores como a Integridade da Rede, o Poder Distribuído e o Valor como Incentivo sejam extrapolados da tecnologia para os modelos de negócio para termos o potencial todo do Blockchain em nossas mãos.