Disparada de CCX antes do anúncio da OPA: mais um caso de insider trading?

Alta de 64,7% nos três dias antes do anúncio e com volume acima da média evidenciam possibilidade de vazamento de informações; LLX já havia sido "vítima" no ano passado

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Apenas 8 meses depois de terem ingressado na BM&FBovespa, as ações da CCX Carvão da Colômbia (CCXC3) está com os dias contados para deixar o mercado brasileiro de ações. Isso porque na noite da última segunda-feira (21) o seu acionista controlador, o megaempresário Eike Batista, anunciou a intenção de realizar uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) desses papéis com o intuito de tirá-los da BM&FBovespa. Contudo, a movimentação recente dessas ações nos pregões que antecederam o anúncio liga o sinal de alerta sobre um possível vazamento de informações ao mercado.

Segundo comunicado, Eike está disposto a pagar R$ 4,31 por cada ação CCXC3 negociada na bolsa – pagamento que será feito através em ações das outras empresas do Eike listadas na bolsa, que serão escolhidas pelos próprios detentores de papéis da CCX. O valor equivale a um prêmio de 37,7% sobre o fechamento do ativo na última segunda. Apesar do forte prêmio embutido, algumas considerações importantes merecem ser feitas: no último dia 16 – três pregões antes do anúncio – esses papéis haviam fechado valendo R$ 1,90, o que indicaria um prêmio de 126,84% em relação à oferta feita pelo acionista controlador. De lá pra cá, eles subiram 5,26% na quinta-feira (17), 8,00% na sexta (18) e 44,91% na segunda (21), atingindo os atuais R$ 3,13 – o que aponta uma alta acumulada de 64,74% em apenas três sessões.

Além da forte alta, também impressionou o volume financeiro movimentado pelas ações da empresa de carvão da Colômbia: R$ 2,29 milhões no dia 17, R$ 4,0 milhões no dia 18 e R$ 15,14 milhões no dia 21 – apenas como base de comparação: o volume médio diária dos papéis CCXC3 girava em torno de R$ 690 mil antes desses dias atípicos.

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As instituições que intermediaram as operações também fugiram da normalidade: por ser uma ação de pouca liquidez e valor de face baixo, ela costuma ser mais atrativa para investidores pessoa física, e por isso as corretoras que mais participaram da movimentação dessas ações foram aquelas focadas nesse público, como Ativa Corretora, XP Investimentos e ICAP. Contudo, nesses três pregões, corretoras de bancos internacionais como Morgan Stanley e Credit Suisse movimentaram quantia significativa de ações da CCX, evidenciando que alguns investidores mais qualificados – e, não por isso, também melhores informados – transacionaram esses papéis junto com o varejo.

Eike, seu passado te condena…
Mesmo com essa forte alta, com um volume financeiro acima da média e com a participação de outros tipos de investidores nas negociações com as ações da CCX, nenhum dos muitos analistas consultados pelo Portal InfoMoney sabia explicar a causa dessa oscilação e nem mesmo confirmou a existência de qualquer rumor até o fechamento do pregão anterior. Ao mesmo tempo, a empresa não respondia aos contatos quando foi procurada pelo Portal.

Todas essas evidências apontam para a possibilidade de que a informação dessa OPA tenha vazado de alguma forma para o mercado e alguém tenha se aproveitado disso para lucrar com a iminente alta – o que é popularmente chamado de “insider trading”, expressão utilizada para quando são feitas operações com informações privilegiadas. E essas evidências ganham ainda mais forças pelo fato de uma das empresas de Eike Batista já ter passado por algo muito parecido em julho do ano passado.

No dia 23 daquele mês, as ações da LLX Logística (LLXL3) dispararam 12,12% diante dos rumores de que ela poderia receber uma OPA do acionista controlador, segundo fontes revelaram ao Portal InfoMoneySete dias depois, Eike confirmou o interesse em fechar o capital da empresa, o que estimulou novas altas para a ação, que fechou aquele mês com valorização de 34,84%.

Contudo, Eike desistiu da OPA dois meses depois após o Bank of America Merrill Lynch – instituição escolhida para elaborar o laudo de avaliação da LLX – avaliar que o preço justo a ser pago pelas ações da empresa girava entre R$ 6,94 e R$ 7,63, superando em mais que o dobro a oferta feita pelo megaempresário, que havia sido de R$ 3,13 por cada LLXL3.

Eike, o “shorteador”?
Se a OPA for realizada ao preço oferecido por Eike, qualquer acionista que adquiriu esses papéis depois da segunda metade de agosto de 2012 e os possui até o momento receberá um prêmio sobre o valor da oferta. Contudo, o cenário é exatamente o oposto para o acionista que adquiriu os ativos da CCX no seu dia de estreia na BM&FBovespa, em 28 de maio do mesmo ano: na ocasião, os papéis CCXC3 terminaram o dia valendo R$ 8,51, quase o dobro do que o presidente da EBX está oferecendo para para fechar o capital da CCX. Ou seja: Eike pretende tirar a CCX da bolsa pagando quase 50% a menos do valor de mercado que ela apresentava quando entrou na bolsa em maio de 2012 – a CCX foi originada através da cisão parcial 
de ativos da MPX Energia (MPXE3) na Colômbia.

Voltando ao caso da LLX, o mesmo cenário seria visto caso a OPA fosse realizada ao que Eike ofereceu (R$ 3,13 por cada LLXL3), já que as ações da empresa de logística do Grupo EBX estrearam na BM&FBovespa em julho de 2008 cotadas a R$ 4,50.

Esses movimentos do homem mais rico do Brasil deram origens a muitos comentários – com um certo ar de sarcasmo, diga-se de passagem – de operadores de mercado de que Eike Batista na verdade é um exímio “shorteador” – investidor que busca lucrar com posições “short”, ou seja, apostando na queda das ações. Em outras palavras: Eike vende as suas ações para o mercado e, quando elas se desvalorizaram demais, ele as recompra a um preço bem abaixo.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers