Profissional perde US$ 1 milhão por não pedir aumento; veja dicas de como garantir o seu

Uma simulação mostra que profissionais deixam facilmente de ganhar US$ 1 milhão durante a carreira por não terem coragem de pedir aumento; você vai ficar parado?

Luiza Belloni Veronesi

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SÃO PAULO – Uma pessoa gosta do que faz, se dedica à empresa onde trabalha, entrega resultados e bate metas. Mas, apesar da evolução profissional e dos lucros gerados para a companhia, nunca ganha um reajuste salarial. A dúvida que não sai da cabeça da maioria dos funcionários nessa situação é se é hora ou não de pedir um aumento ao gestor. A questão é realmente delicada. Um pedido feito em uma hora imprópria ou de uma forma exageradamente agressiva pode ser um tiro no pé e reduzir suas chances de obter um reajuste ao invés de aumentá-las.

Não enfrentar esse risco, no entanto, costuma sair muito caro. Uma simulação feita pelo site americano Salary.com revelou que uma pessoa facilmente deixa de ganhar US$ 1 milhão (ou cerca de R$ 2,2 milhões, de acordo com a cotação do Banco Central) durante a vida profissional se não negociar o salário ao longo dos anos. O resultado foi baseado em uma comparação entre dois profissionais que receberam a mesma oferta de emprego com salário de US$ 45 mil ao ano. Um deles, no entanto, negociou um aumento inicial de US$ 5 mil e mais um acréscimo de 4% a cada três anos. Outro aceitou a oferta sem negociação e obtém um aumento anual de apenas 1%. Passados 45 anos de carreira, a diferença entre seus ganhos foi de US$ 1.037.774.

Para o Diretor da consultoria Michael Page, Henrique Bessa, a mesma lógica vale para os brasileiros. As diferenças salariais no país são enormes, mesmo considerando apenas pessoas nos mesmos cargos e nos mesmos setores de uma mesma empresa. “No Brasil, se o profissional não brigar pelo seu espaço, a tendência é que continue recebendo apenas o aumento anual, do dissídio”, diz. “Como o mercado brasileiro tem uma falta grande de talentos para determinados cargos demandados, há muita gente que consegue dobrar a remuneração em um ou dois anos. Não é difícil encontrar empresas que aceitarão pagar valores mais altos.”

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O caminho das pedras
Antes de rumar para a sala do chefe e colocar na mesa um ultimato, é preciso pensar em formas de abordar o assunto, em motivos que justifiquem o aumento e no momento certo para dar o bote. “Não basta o profissional merecer o aumento. A empresa precisa estar em uma fase de lucratividade e investimentos”, alerta a diretora-presidente da consultoria de gestão de pessoas Projeto RH, Eliane Figueiredo. Ela aponta que, se a empresa está em crise ou atravessa um momento difícil, dificilmente um pedido de aumento será bem recebido. Por outro lado, quando a empresa está apresentando bons resultados financeiros, investindo e contratando, suas chances crescem bastante.

O momento ideal também não depende apenas da situação da empresa. Na avaliação de Eliane, é considerado inadequado pedir um aumento se o gestor ou o próprio funcionário estiver há menos de seis meses no cargo. “O profissional tem que justificar o aumento com seus resultados. Se o gestor é novo, ele precisa conhecer melhor seus subordinados. O mesmo vale para o profissional que acabou de entrar na empresa.”

Por incrível que pareça, existem até períodos do ano mais propícios para negociação. Um estudo da rede profissional LinkedIn, baseada nos dados dos 90 milhões de usuários, revelou que janeiro e junho são os meses com maior concentração de promoções. Não por acaso são nesses dois períodos que as empresas costumam concluir as avaliações de desempenho dos funcionários e os planos de negócios para os meses seguintes.Quem vem se destacando ou acaba de ganhar novas funções pode estar diante, portanto, de uma excelente oportunidade de pedir um reajuste e ser bem-sucedido.

O próximo passo é saber como abordar o tema. “Faça o pedido direto para o chefe e pessoalmente. Não antecipe nada antes por e-mail ou por terceiros”, aconselha o coach e professor de Desenvolvimento Humano, Alexandre Prado. “Agende um horário com o chefe imediato para uma reunião presencial e seja flexível se ele precisar reagendar posteriormente.”

Segundo Prado, fundamentar o pedido com argumentos concretos, situações reais e números de crescimento dá mais credibilidade ao profissional. “Indique, por exemplo, o quanto você contribuiu para a empresa economizar. Outra possibilidade é lembrar que você costuma entregar os trabalhos ou concluir tarefas muito mais rápido que o estabelecido.” Por outro lado, evite abordar questões pessoais ou familiares. Não é porque sua esposa acabou de engravidar que a empresa deveria lhe conceder um aumento. Outro recurso que não deve ser usado é inventar que recebeu uma proposta de outra empresa. “É um risco que se corre. Pode ser que o tiro saia pela culatra e o chefe diga: ‘então pode ir’”, afirma o coach.

Outra maneira de ganhar o sonhado aumento salarial é investir em educação. Cursos de especialização, pós-graduação, MBA, inglês ou outras línguas aumentam suas chances de conseguir outro emprego. Quanto mais habilidades uma pessoa tiver, na verdade, maior será a chance de o mercado de trabalho valorizá-la. Como os gestores sabem disso, muitas vezes vão tentar se antecipar a uma eventual proposta de um concorrente com uma oferta de reajuste para preventivamente reter o funcionário.

Para Eliane, da Projeto RH, as chances de sucesso são maiores se o curso a ser realizado puder melhorar seu desempenho dentro da própria empresa. A dica é perguntar a opinião do gestor sobre determinado curso e entender se ele poderia lhe ajudar a entregar resultados melhores à companhia. Em caso positivo, o investimento em educação terá mais chances de se pagar rapidamente.

Mas quanto pedir de aumento? O coach Alexandre Prado sugere que o profissional não imponha um valor. Até é possível falar de uma faixa de variação percentual que lhe deixaria satisfeito. Mas assegure-se que o pedido é razoável e compatível com o mercado e com a estrutura de cargos e salários da empresa. Ele lembra que a decisão final cabe à empresa. Se a proposta for recusada e o profissional estiver profundamente descontente, talvez tenha chegado a hora de começar a olhar para os lados e de buscar oportunidades na concorrência.

Quando recuar
Muitas vezes, o profissional precisará ter alguma paciência até conseguir o almejado reajuste. Trocar de emprego todos os anos para obter um salário cada vez mais vantajoso pode queimá-lo no mercado. “O profissional que é motivado simplesmente pela remuneração acaba sendo malvisto pela empresa”, diz Bessa, da Michael Page. “Quando ele faz leilão de si mesmo, quando olha para o mercado em um período curto de tempo e negocia uma contraproposta com a empresa, ele mostra que não está preocupado com a organização, mas apenas com seus ganhos pessoais.”

Mesmo que esse tipo de estratégia possa funcionar no curto prazo, um funcionário com um salário muito elevado para os padrões da empresa sempre correrá maior risco de ser demitido se a companhia enfrentar algum problema financeiro. Quanto mais uma pessoa ganha, mais difícil também será obter um salário ainda mais alto. “Há casos em que o profissional não consegue uma recolocação porque seu salário está muito acima do praticado no mercado”, afirma.

Ainda de acordo com o especialista, fugir dessa situação requer cautela e bom senso na hora da negociação. “Hoje é importante que o profissional fale sobre a política de aumentos ao aceitar uma proposta de emprego porque, depois, não cai bem fazer isso com menos de um ano de casa. Um ano depois e com bons resultados para mostrar, é possível negociar um aumento que, geralmente, gira em torno de 10% a 15%”, conclui.

Essa matéria foi publicada na edição 50 da revista InfoMoney, referente ao bimestre maio/junho de 2014. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.