Salário falso, habilidades mentirosas: conheça as fake news do mercado de trabalho

As eleições de 2018 trouxeram à tona mais do que nunca as chamadas fake news e candidatos, empresas e políticos podem mentir pelas mesmas razões    

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO – As eleições de 2018 trouxeram à tona mais do que nunca as chamadas fake news. E o assunto pode ser pauta também no mercado de trabalho. Mentiras contadas para ganhar status, encantar entrevistadores, aumentar a remuneração e omitir desconhecimentos e experiência de pouco valor são algumas das mais comuns, segundo um estudo da Page Personnel, consultoria global de recrutamento para cargos de nível técnico e suporte à gestão. 
“Isso serve de alerta para empresas e profissionais: não é só nas campanhas eleitorais que as informações falsas são estratégias de concorrência. Este ano marcou para sempre o termo fake no inconsciente coletivo dos brasileiros. Infelizmente, o mercado de trabalho também registra esse comportamento, inclusive, com características estratégicas bem similares”, explica Lucas Oggiam, gerente executivo da Page Personnel. 
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Segundo ele, candidatos, empresas e políticos, nesse sentido, podem mentir pelas mesmas razões: omitir deslizes de conduta, ocultar desconhecimento sobre temas específicos, melhorar a imagem perante públicos diferentes, aumentar as reais qualificações ou os níveis de experiência. 
Oggiam compilou 5 exemplos de fake news no mercado de trabalho que você não deve contar. Confira a análise:

Salário falso: aumentando os rendimentos para negociar um teto maior

“Alguns candidatos ‘turbinam’ o salário das experiências anteriores – isso é bastante comum em vagas de regime PJ – nas quais é mais difícil a comprovação dos rendimentos”, alerta Oggiam.

“Não há nenhum problema em buscar melhorar a expectativa de ganhos, pelo contrário, isso é universalmente praticado. O problema aqui é quando o candidato, na ânsia de melhorar sua condição, pode ser confrontado pelo RH, o que certamente, vai gerar algum grau de desconforto. A saída para isso é simples: abrir o jogo sobre o salário real, e explicar o porque deseja e precisa ganhar mais. É simples e mais profissional”, aconselha.

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Vagas falsas: anúncios para colher dados ou “mapear” o mercado 

De acordo com Oggiam, essa prática tem sido comum com momentos de desemprego em alta. Algumas empresas criam anúncios de vagas na internet que na verdade estão fechadas. O intuito aqui é apenas mapear o mercado, entender como está a demanda, quanto os profissionais estão pedindo de salários e benefícios.

“É uma sondagem ‘fake’. Um anúncio de emprego deve, em primeiro lugar, oferecer uma oportunidade. Essa prática de sondar o mercado deve ser feita com o auxílio de uma consultoria especializada, ou de plataformas online com banco de currículos”, diz.

Há também um risco maior com vagas falsas quando alguns “aproveitadores” divulgam essas informações para obter dados pessoais dos candidatos projetando eventuais golpes ou até mesmo para vender para empresas. “Ao receber vagas por e-mail ou até WhatsApp, vale checar a procedência da empresa, se há divulgação em outros portais e até mesmo entrar em contato com a companhia para verificar a autenticidade das informações”, explica o executivo. 

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Qualificação além do real

Na primeira leitura, talvez todo mundo possa pensar que é “normal” promover suas próprias habilidades (elevando um pouco o nível real) diante de uma nova chance de trabalho. Mas promover é diferente de mentir ou ultrapassar o razoável. Em pouco tempo os gestores vão perceber que a pessoa não tinha a experiência exigida pela vaga, e isso certamente vai gerar desgaste.

“A empresa investe dinheiro na captação de talentos. É óbvio que profissionais de todos os níveis hierárquicos vão se projetar diante de uma nova chance, mas isso não pode de forma alguma alterar o nível de conhecimento ou a experiência adquirida. A conta sairá cara”, diz o especialista.

“Vale sim incorporar ao currículo viagens, cursos online, palestras, experiências de contato com influenciadores e profissionais consagrados do mercado. Mas descrever qualidades que nunca foram testadas, ou pior, se “vender” com uma experiência jamais vivida, são práticas que vão gerar problemas, mais cedo ou mais tarde”, afirma Oggiam. 

Saídas fantasiosas: mentiras sobre as razões de ter largado um emprego

“É compreensível que um candidato não queira expor problemas e desencontros de experiências anteriores em um novo trabalho. Mas, quando essa omissão de informação impacta diretamente em alguma exigência técnica ou comportamental para a uma nova posição, aí é um problema”, diz o executivo.

Segundo ele, vale muito mais ser franco e explicar os reais motivos de ter largado (ou ter sido despedido) um trabalho e argumentar o quanto isso o fez crescer e melhorar, pensando na nova oportunidade. A omissão pode custar um preço caro, incluindo quebra de confiança ou mal-estar, a partir do momento que alguém saiba ou descubra a outra versão da história.

Certificados/projetos duvidosos

Inventar certificados, omitir informações sobre a carga horária real de cursos, extensões ou experiências no exterior, acontece mais do que se imagina.

“Além da distorção em termos de experiência, conforme abordamos na questão anterior, aqui temos um problema ainda mais grave: a presunção de que um certificado fake ou a suposta participação em um projeto que não condiz com a verdade vão ajudar na escolha da empresa na hora da contratação”.

A mentira ou distorção pode até ajudar nas palavras-chave do currículo, mas não vai sobreviver às entrevistas presenciais, garante ele. “Não vale a pena deslizar nesse quesito. É muito mais interessante o candidato descrever seus conhecimentos informais no currículo, e explicá-los na entrevista presencial, do que fantasiar com as certificações”, aconselha Oggiam.

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.