Jovem que já dormiu na rua agora ganha salário de US$ 9,5 mil no LinkedIn; conheça a história

Aos 29 anos, Preston Phan trabalha hoje no LinkedIn e contou ao InfoMoney como aconteceu essa transformação em sua vida

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO – Aos 29 anos, o americano Preston Phan ganha em torno de US$ 9,5 mil por mês, cerca de R$ 30 mil, como aprendiz de engenheiro de software do LinkedIn. Mas até pouquíssimo tempo atrás ele estava em sérias dificuldades financeiras: o jovem chegou a dormir na rua enquanto estava desempregado no fim de 2016 e só começou a trabalhar na companhia em abril deste ano. 

Em entrevista ao InfoMoney, Phan contou como foi essa mudança de vida, que aconteceu em praticamente seis meses. Filho de vietnamitas, o jovem nasceu no Texas, mas foi criado com o irmão em Seattle pela mãe. Estudou em escola pública a vida toda e sem ir para a universidade não conseguiu se consolidar em nenhum dos empregos por quais passou.   

Apaixonado por tecnologia, ele sempre estudou sobre o assunto por conta própria e desenvolveu algumas habilidades na área. Passou por empresas como a Boeing, onde trabalhou com drones e após fazer um curso técnico em biologia, trabalhou até em uma empresa de doação de órgãos, chamada OneLegacy, em 2015. A companhia ficava em Los Angeles. Nesse emprego descobriu uma oportunidade: o primo de um de seus colegas de trabalho tinha mudado de vida ao fazer um curso de tecnologia que prometia conectar os alunos com grandes empresas da área. Ele decidiu largar o trabalho e voltar para Seattle para desenvolver mais habilidades em tecnologia.  

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Ele conta que se preparou para o curso, chamado Code Tenderloin, e em dezembro de 2016 sua vida realmente começou a mudar, quando foi para São Francisco, na Califórnia, local do programa. Para pagar o curso ele pegou emprestado todas as economias do irmão.

Com US$ 250, cerca de R$ 780, na conta e sem ter onde dormir, Preston arriscou tudo nessa chance de conseguir um emprego em empresas de tecnologia. “Deixar Seattle para ir para São Francisco foi o maior risco da minha vida. As primeiras três noites foram difíceis, dormi embaixo da escada de uma casa em construção. Eu estava com vergonha e não queria dormir em qualquer lugar em público. Mas eu comecei a procurar por abrigos, porque não aguentei ficar dormindo no cimento”, revela.

Então ele começou a procurar por abrigos. Quando achou, esperou durante três horas na fila. Mas as camas eram sorteadas, e ele não foi selecionado, por isso, dormiu em uma cadeira por mais três noites. Com a chegada do Natal, Phan recebeu uma ligação em vídeo da mãe e do irmão – fora do abrigo. “Eu não contei minha situação. Não queria enfrentar o constrangimento da minha família descobrir que eu era um sem-teto”, afirma.

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As aulas do programa começaram em janeiro deste ano e tinham foco em desenvolver habilidades para entrevistas, como montar currículos, entre outras dicas de carreira. Toda noite ele tinha que ir para o abrigo e tentar ficar com uma cama e tinha que liberar o espaço todo dia 5h30 da manhã.

“Eu saia cedo todo dia e ia para um café usar meu computador. Fazia uns trabalhos com segurança digital e internet para o dono. Fui me virando”, diz. Ele foi se acostumando à rotina aos poucos, mas toda noite era uma surpresa com a chance de não conseguir uma cama para dormir. “Eu comecei a perceber que o sistema de agendamento do abrigo, tanto pelo celular como pessoalmente, era problemático”, conta.

Foi a partir dessa observação que Phan teve a ideia que mais tarde mudaria sua carreira. “Com as minhas frustrações no sistema de abrigo local, vi uma oportunidade de usar as minhas habilidades tecnológicas para o bem maior. Comecei a desenvolver um aplicativo que ajudaria desabrigados a entrar em abrigos”, explicou Phan. A partir disso, durante o dia trabalhava no aplicativo e a noite ia para o curso.

Ele mostrou a ideia ao diretor do programa, Del Seymour, que o ajudou a apresentar a ideia em uma reunião da Câmara Municipal sobre pessoas desabrigadas. No entanto, a ideia não foi bem recebida porque já existiam aplicativos do tipo, segundo ele. “Depois disso, eu realmente quis melhorar o aplicativo”.

Phan terminou o programa em fevereiro e no começo de março foi convidado por Seymour para ir em um evento do LinkedIn com os principais representantes da companhia. “No evento consegui conversar com Ish Verduzco e Zach Roberts [profissionais de RH da empresa] que gostaram do aplicativo que desenvolvi para o abrigo. Então, eles me encaminharam para o Programa de talentos no LinkedIn, onde desenvolvedores de origens não-tradicionais têm a oportunidade de receber treinamento de engenheiros na prática”, explica Phan.

Com esse programa, Phan entrou para o processo seletivo da empresa. Eram 700 candidatos, sendo que apenas 30 seriam contratados, e o jovem de Seattle foi um deles. Começou a trabalhar em abril. Seu cargo é de “aprendiz de engenheiro de software”, com um salário de US$ 9,5 mil por mês, cerca de R$ 30 mil, com moradia corporativa perto da sede do LinkedIn, que fica em Sunnyvale, também na Califórnia.  

Ele revela que com o primeiro salário que recebeu destinou mais que a metade para pagar o débito que tinha com o irmão e que está ajudando a família. “Mas eu quero muito voltar a trabalhar no aplicativo para os desabrigados. Acho que iria ajudar muita gente”, revela.

Segundo ele, o maior desafio de tudo que passou foi lutar com um mercado de trabalho injusto. “Mesmo que você tenha as qualificações, você pode não se encaixar na “cultura da empresa”. Muitas pessoas não sabem como obter os recursos disponíveis para garantir um emprego. Algumas pessoas perderam a esperança e decidiram apenas viver no abrigo. Depois do que passei em São Francisco vejo a segregação, por mais que as pessoas ajam como se estivéssemos unidos”, confessa.

Preston conta que foi muito difícil viver no abrigo em alguns momentos, mas que tudo valeu a pena. “Mesmo sendo introvertido, fiz muitos amigos na minha jornada e tomei algumas decisões difíceis. Honestamente foi psicologicamente exaustivo, mas com um pouco de sorte tudo deu certo”, diz.

Sobre os rumos da sua carreira daqui para frente, ele afirma que mesmo trabalhando no LinkedIn, “nada na vida é garantido”. “Eu acredito na missão e na visão que o LinkedIn tem. Espero que, por meio desta oportunidade eu possa ajudar a população que passa pelo que eu passei para dar as chaves do sucesso e as ferramentas para que possam construir um futuro”, finaliza.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.