Recado de alemão mostrava falhas da CBF e de Felipão um ano antes do vexame

Em entrevista à rede de televisão ESPN, realizada em abril de 2013, Paul Breitner destacou os motivos pelos quais acreditava que a Alemanha seria uma das favoritas da Copa e disse que o Brasil parou no tempo

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Profético, o ex-jogador alemão Paul Breitner falou sobre os erros de preparação da CBF e do técnico Luiz Felipe Scolari um ano antes deles mesmo acontecerem. Em entrevista à rede de televisão ESPN, realizada em abril de 2013, Breitner destacou os motivos pelos quais acreditava que a Alemanha seria uma das favoritas da Copa e cravou: o Brasil parou no tempo desde 2002. 

Sem saber o que viria adiante, Breitner foi extremamente crítico nas falhas de preparação da seleção – que não fez nada desde a última vez que foi campeão mundial. “Vocês no Brasil dormiram desde 2002, quando ganharam o título no Japão, vocês não estão observando o que acontece com os outros países. Vocês precisam aceitar que estão jogando um futebol do passado, de ontem”, alertou. 

Prova disso é que o técnico de 2002 é o mesmo de 2014. O principal auxiliar é o mesmo que comandou a seleção em 1994. Tudo bem, se o resultado recente deles não mostrassem que eles estavam “ultrapassados” para gerir uma seleção: desde que saiu de Portugal, Felipão não emplaca bons resultados, Parreira, por sua vez, é ainda mais contestado, tem poucos títulos de expressão na carreira e aparenta estar lá apenas pelas amizades.

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Ao falar do declínio do futebol alemão na década de 90, Breitner evoca uma arrogância que tomou conta dos brasileiros: a percepção de que eles eram os melhores do mundo e que não precisavam aprender com ninguém. Querendo ou não, é a mesma resposta que José Maria Marín tem dado constantemente ao Bom Senso FC a respeito de qualquer modernização no futebol brasileiro. 

Atrasado, o problema atinge também a formação de atletas no Brasil. “Quando eu vejo jogadores jovens brasileiros, é a mesma coisa de 10 a 20 anos atrás, eu espero que não apenas aprendam a tocar na bola. Eu espero que alguém lhes avise o que está acontecendo no futebol atualmente, que é algo que não está acontecendo no Brasil”, disse Breitner, afirmando que o futebol europeu atualmente é completamente diferente do praticado no País atualmente. 

Com esse diagnóstico, parecia óbvio para Breitner que o Brasil não teria chances de ser campeão mundial em 2014. “Se vocês conseguirem se adaptar ao jogo de hoje, levando em consideração a mentalidade brasileira, talvez em seis ou oito anos o Brasil volte a dominar o futebol novamente”, alertou. 

A evolução alemã
Breitner destaca que o futebol alemão se reergueu depois de atingir um breve fundo do poço. “Nosso ponto de virada foi em 2004, na Eurocopa em Portugal. E aí começamos a mudar muitas coisas. Antes de 2004 pensávamos apenas em períodos curtos de dois anos. Da Eurocopa para Copa do Mundo, da Copa do Mundo para Eurocopa”, disse.

A mentalidade passou a ser no longo prazo, sair do status quo do planejamento de curto prazo. “Se por acaso ganhássemos a Copa do Mundo tudo estava ótimo e nada precisaria de mudar. E ficamos sem fazer nada durante dois anos, só enrolando”, alertou. Nada mais parecido com o Brasil, onde o ciclo de quatro em quatro anos por Copa do Mundo geralmente é respeitado. Muda-se o técnico, muda-se a mentalidade. 

Dunga teve quatro anos e foi substituído por Mano Menezes, com um estilo completamente diferente do seu. Depois de dois anos à frente da seleção, Mano foi substituído por Felipão – outro que tinha um estilo completamente diferente. Sem coesão, mudando muitos jogadores, a seleção nacional ficou completamente perdida em estilo e passou a depender do brilhantismo de um único jogador, Neymar. “Você não tem que ficar procurando um técnico a cada quatro anos, nada vai mudar. E hoje quando eu vejo o Brasil jogar não vejo o futebol sensacional de antigamente”, destaca o alemão. 

Para isso, a Alemanha buscou o que havia de mais sucesso no mundo do futebol, o Barcelona de Josep Guardiola, que dominou o mundo de futebol nos últimos anos. “E nós jogamos mirando o exemplo do Barcelona e da Espanha, tentando aprender com eles o futebol para hoje, um futebol para os próximos cinco ou dez anos”, destacou. Para ele, o importante é mudar a mentalidade enquanto os jogadores são adolescentes de 12 e 13 anos.  

Ensinar quem sabe jogar a chutar a bola
Um dos pontos mais importantes e ignorados na preparação da seleção brasileira foi a ausência dos treinos táticos. Os treinos de Felipão eram, em sua maioria, de fundamentos – como chutes a gol. Um erro crucial para um líder: ignorar o trabalho em equipe para focar em aperfeiçoar o que seus comandados já sabem fazer e dificilmente vão melhorar. Ensinar o Neymar a bater faltas. 

Breitner destaca o papel do técnico Helmut Schön em 1974, que ao invés de tentar ensinar Gerd Müller a marcar gols, não foi um técnico tradicional – e sim manter a equipe coesa, emocionalmente equilibrada. “Ele tinha que ser um parceiro dos jogadores. A responsabilidade dele era que todos se sentissem bem, sedentos pela próxima partida, sedentos pela próxima vitória”, lembrou. 

Confira a entrevista na íntegra: