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As prioridades da Citrosuco diante das mudanças no mercado de suco de laranja

Uma das maiores exportadoras da bebida do mundo, empresa amplia aposta na diversificação enquanto foge do greening

Fernando Lopes

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A quarta-feira amanheceu nublada em Boa Esperança do Sul, município com 15 mil habitantes que até 1898 era parte de Araraquara, no coração do Estado de São Paulo. Uma chuva leve, que não duraria muito, mantinha a temperatura abaixo de 25 graus, e na fazenda Entre Rios o cenário ampliava o silêncio de uma entressafra que está chegando ao fim. Em algumas semanas os ônibus com colhedores de laranja voltarão a circular pelos quase 10 mil hectares da propriedade, e o mar de pomares voltará a se agitar.  

A Entre Rios foi a primeira sede da Citrosuco, onde no passado viveram Carlos Fischer, o fundador da empresa, e sua família. As três filhas de Fischer, que faleceu no ano 2000, aos 61 anos, mantêm a casa onde viveram como era na década de 1960, apenas com pequenas reformas. Mas é só o que não mudou. De lá para cá, a Citrosuco se consolidou como uma das maiores produtoras e exportadoras de suco de laranja do mundo, assumiu a liderança desse mercado com a fusão com a Citrovita, do grupo Votorantim, no fim de 2011, e neste exercício 2023/24 voltará a faturar mais de US$ 1,5 bilhão, patamar recorde que já havia alcançado em 2022/23.

Aumentam os desafios

Os bons resultados, porém, não escondem os desafios que se avolumam no segmento. A alta dos preços do suco no mercado internacional, que puxou o faturamento e ainda deverá dar o tom na temporada 2024/25, que “oficialmente” começará em julho, decorre da queda da oferta no Brasil e na Flórida, que lideram a produção mundial de laranja e suco de laranja. Sustentada pelo choque de oferta, causado por problemas climáticos e fitossanitários, a valorização do suco mascarou a tendência de retração da demanda mundial nas últimas décadas, mas para a Citrosuco e suas principais rivais – a também brasileira Cutrale e a francesa Louis Dreyfus Company –, inovar e diversificar continuam na ordem do dia.

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“Nos próximos cinco anos, acreditamos que a oferta continuará restrita, mas um pouco menos, e que haverá uma correção de preços. O suco pronto para beber [NFC, um produto premium] deverá ganhar mais peso no mercado que o FCOJ [suco de laranja concentrado e congelado], ao mesmo tempo em que deverão crescer as vendas de produtos funcionais consumidos no lugar do suco de laranja integral”, afirmou Marcelo Abud, CEO da Citrosuco, durante visita de jornalistas à fazenda Entre Rios e à fábrica da empresa em Matão, município da mesma região e onde atualmente está sua sede.

Marcelo Abud, CEO da Citrosuco (foto: Divulgação)

Em meio a essas mudanças, o conselho de administração da Citrosuco, no qual as filhas de Fischer têm participação ativa, já identificou novas oportunidades de negócios nas quais a empresa está investindo. A principal delas é o enorme potencial de crescimento das vendas de ingredientes naturais produzidos a partir da laranja. A Citrosuco explica que, atualmente, 49% da fruta vira suco, 46,6% é transformada em ração animal (CPP) e o restante serve à fabricação de óleos, polpas e essências. O CPP já tem valor, mas é possível agregar muito mais com o melhor aproveitamento de bagaço, folhas, flores e sementes.

Ingredientes valorizados

De olho nesses mercados, a companhia criou em 2022 a Evera, instalada dentro da fábrica de suco de laranja de Matão. Foram investidos R$ 10 milhões em pesquisas, desenvolvimento e na estrutura inicial de produção da divisão, que desenvolve ingredientes para os setores de alimentos e bebidas, entre outros, e que deverá faturar US$ 100 milhões em 2024. A Citrosuco calcula que a Evera está inserida em um mercado global capaz de movimentar US$ 40 bilhões por ano, e para fortalecer os negócios nessa frente já foi adquirida uma subsidiária nos Estados Unidos.

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Outra característica que pode acelerar o crescimento da Evera é o desenvolvimento de novos produtos em parceria com os clientes, como realçou a gerente de pesquisa e desenvolvimento Flavia Malacrida Escobar. Os clientes são mantidos em sigilo, bem como as novidades que estão saindo dos laboratórios de Matão, onde o acesso é limitado até para os próprios colaboradores.

Curiosamente, durante a construção da sede da Evera foi redescoberto, sob o mato alto, o marco zero da fábrica de Matão, cujas obras tiveram início em 1964. Neste fim de entressafra, a unidade está praticamente parada, mas a partir de maio voltará a operar a todo o vapor, recebendo diariamente entre 400 e 500 caminhões com laranja e processando, no pico, 16,5 mil toneladas da fruta por dia. A Citrosuco, que exporta mais de 90% de sua produção de suco, conta com outras duas unidades, localizadas em Catanduva e Araras, também no interior paulista. No total, pode processar mais de mil toneladas de laranja por hora, segundo Fabio Mitsuru Saito, gerente-geral industrial da empresa.

A ameaça do greening

É laranja a perder de vista, e aqui mora a principal preocupação da companhia: garantir matéria-prima para continuar crescendo e diversificando seus negócios. O fantasma que desde o início do milênio assombra o segmento nos principais cinturões citrícolas do mundo – São Paulo/Minas Gerais e Flórida – é o greening, doença de difícil controle provocada por uma bactéria e transmitida por um inseto, cuja cura ainda não foi encontrada por mais que os americanos já tenham investido mais de US$ 2 bilhões em pesquisas.

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A Citrosuco, que no pico da colheita chega a empregar mais de 12 mil colaboradores, conta com 25 fazendas com pomares em produção, espalhados por quase 60 mil hectares no total. Mas, no cinturão brasileiro como um todo, a incidência de greening, que derruba a produtividade das árvores, cresceu de 24% para quase 40% nos últimos anos, o que tem motivado a empresa, suas concorrentes e produtores independentes de laranja a buscarem novas fronteiras para o plantio, em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e até em Estados do Nordeste.

Nesses esforços, disse o COO Tomás Balistiero, a Citrosuco adquiriu sua 26ª fazenda no ano passado, no sul mineiro, e prospecta regiões livres de greening para ampliar o cultivo próprio de laranja, responsável por cerca de 40% de sua demanda pela fruta – os 60% restantes são cobertos por cerca de mil fornecedores independentes, com os quais a empresa mantém contratos de fornecimento de longo prazo. Enquanto isso, é obrigada a intensificar ações de controle, com maior aplicação de defensivos químicos e biológicos, o que eleva os custos.   

Bilhões em risco

Renovação constante de pomares e outras ações ligadas à sustentabilidade e à descarbonização da produção, que exigiram investimentos de US$ 200 milhões nos últimos anos, também ajudam a conter a proliferação da doença. 

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Com esse conjunto de medidas, a cadeia produtiva do Brasil, que responde por mais de 70% das exportações globais de suco de laranja, tenta evitar o que aconteceu na Flórida, onde o greening foi o principal responsável por uma redução da produção da fruta em dez vezes na última década. Até agora conseguiu, mas para preservar embarques de suco que rendem US$ 2,5 bilhões por safra, 55 mil empregos gerados apenas na colheita na fruta e os planos de diversificação, não poderá se acomodar. Que o diga a Citrosuco.