Primeiras leituras: “novos” ministros, governo igual

A indicação da presidente de mais 13 nomes para o ministério do Dilma II não foi recebida com entusiasmo. E deixou aliados, como o PMDB e o PT, apesar das declarações formais de contentamento, insatisfeitos.

José Marcio Mendonça

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A grande novidade desses dias tomados pelo Natal foi a escalação de mais 13 ministros pela presidente Dilma Rousseff, atendendo alguns aliados como o PMDB, o PSD e o PP. Algumas grandes surpresas, como a do ministro dos Esportes, o deputado mineiro George Hilton, pouco conhecido e ligado ao chamado “baixo clero” da Câmara. Outros, já cansativamente especulados como Eduardo Braga, senador peemedebista do Amazonas que vai manter o feudo do partido nas Minas e Energia.

De um modo geral, tivemos mais críticas do que elogios a este pedaço da “nova” equipe de Dilma. Foram decisões fisiológicas, para acomodar compromissos partidários – sem preocupações com possíveis competências e méritos. É claro que se deve esperar pelo trabalho dessa turma antes de se fazer um julgamento mais preciso, mas os sinais não foram bons. Ao contrário do que ocorreu com a nova equipe econômica.

Pode-se dizer que nessas áreas contempladas agora, o Dilma II fica igual ao Dilma I – ou pior. Em alguns casos trocou-se seis por meia dúzia e em outros seis por três. Exemplo típico é do Ministério dos Esportes, onde o atual ministro Aldo Rabelo vinha fazendo um bom trabalho, bem familiarizado com o principal evento na área nos próximos dois anos, a organização da Olimpíada. Seu substituto não parece ter familiaridade com nada. E Rabelo não é a pessoa mais indicada para tocar uma área essencial como a da Ciência e Tecnologia.

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O lema de Dilma durante a campanha – governo novo, ideias novas – não prevaleceu. As caras podem ser até novas, mas as ideias… Alguns partidos também parecem não ter ficado muito satisfeitos. Aparentemente, o PMDB, pois levou um ministério a mais que os cinco que tem atualmente, gostou. Porém, não levou algumas de suas principais aspirações, como Cidades, Integração Nacional, Saúde ou Transportes.

Na Agricultura, com Katia Abreu, o partido no fundo não se considera representado. Peso mesmo, só o Minas e Energia. Teve de se contentar, por exemplo, com a Pesca, zero à esquerda, com os Portos, coisa de segunda linha e pode ser que tenha vindo para atender a certos interesses particulares. O saldo, nos bastidores, está sendo considerado negativo.

O PMDB, contudo, não chia, espera na tocaia.

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O PT ainda não recebeu sua cota completa, mas nos bastidores já está reclamando. Porque vai perder espaços importantes – como a Educação, dirigida para o Pros, com Cid Gomes – e porque o lulismo esta sendo desalojado pelo dilmismo. Essa insatisfação inclusive atrasou a indicação do deputado Pepe Vargas para as Relações Institucionais e a ida de Ricardo Berzoini para as Comunicações. Vargas não cabe bem ao coração lulista.

A corrente Construindo um Novo Brasil, de Lula, majoritária na legenda é que mais deve perder. Outra queixa é a escalação de Jaques Vagner para a Defesa. Esperava-se que ele ocupasse uma pasta de maior peso. Vagner se declarou contente, porém sabe-se que este lance no tabuleiro dos ministérios é um lance de mais longo prazo, no tabuleiro dos possíveis candidatos do PT à sucessão de Dilma se Lula não ficar no páreo. Aloizio Mercadante, claramente postulante à sucessão, teria manobrado para afastar um rival.

Lula não vai passar recibo, mas já deixou antever suas insatisfações. Como escreveu o repórter Raymundo Costa no “Valor Econômico” de hoje, desta vez Dilma não terá Lula nos seus calcanhares diretamente.

Hoje Dilma pode soltar mais uma leva de ministros do segundo mandato, confirmando alguns que vão continuar, escalando alguns petistas e completando a cota de outros aliados. Ela marcou o dia 29, segunda-feira para fechar os 39 ministérios. Por enquanto.

Outros destaques

– PETROBRÁS

1. Para evitar a quebradeira no setor de óleo e gás e manter a política de uso de conteúdo nacional, a Petrobras está assumindo pagamentos a fornecedores devidos por firmas com as quais mantém contratos, inclusive três envolvidas na operação Lava Jato, da Polícia Federal. Paralelamente, a estatal procura maneiras de encerrar os contratos vigentes com as companhias que estão inadimplentes. A Folha apurou que a Petrobras está agindo dessa forma em pelo menos quatro casos distintos: 1) no consórcio UFN III (planta de fertilizantes), da Galvão Engenharia; 2) no projeto Charqueadas, do estaleiro Iesa; 3) no consórcio Integra, da Mendes Júnior; 4) na fabricação de 17 barcos de apoio, da Brasil Supply.

2. O município de Providence, capital do Estado americano de Rhode Island, entrou na véspera de Natal com um processo contra a Petrobras, sua administração, duas subsidiárias e bancos envolvidos na emissão de papéis da companhia. A notícia chega depois de a empresa ter sido alvo de outras três ações nos Estados Unidos em dezembro, movidas por fundos e grupos de investidores individuais. A alegação da cidade de Providence é que o município teve prejuízo ao investir em títulos da Petrobrás, que perderam valor por causa das denúncias de corrupção e pagamento de propinas.

3. Temendo que a Petrobrás seja forçada por credores a antecipar pagamentos por não ter divulgado balanço financeiro auditado, a Moody’s está revisando as notas de crédito da estatal para possível rebaixamento. Segundo informou a agência de classificação de risco ontem à noite, a revisão “é resultado da preocupação com os riscos de liquidez” que a situação pode acarretar. A nota da petroleira na escala da Moody’s é “Baa2”, já resultado de rebaixamento realizado em outubro. Naquela ocasião, o motivo foi seu alto endividamento. Caso sua nota piore novamente em um nível, a empresa terá rating “Baa3”, apenas um degrau acima da classificação de “grau de investimento” — espécie de selo de boa pagadora. A sinalização da Moody’s surge um dia após a presidente Dilma Rousseff dizer que o governo trava “luta incansável” para que a Petrobrás não seja rebaixada.

– ECONOMIA NACIONAL

No Boletim Trimestral de Inflação divulgado na terça-feira o Banco Central reduziu de 0,7% para 0,2% sua previsão do PIB para este ano. Também indicou que nas circunstâncias atuais a inflação não chega à meta de 4,5% nem no fim de 2016. Como a autoridade monetária deu sinais de que fará o possível para alcançar esse número e não usou a expressão “parcimônia” para falar da taxa de juros, analistas passaram a achar que o BC pode acelerar o aumento da Selic em sua próxima reunião.

– BNDES

Anunciadas mudanças na política operacional do banco:. juros mais altos e subsídios para projetos prioritários – infraestrutura, energias renováveis, transporte coletivo urbano, transportes hídrico e ferroviário, inovação tecnológica.

LEITURAS SUGERIDAS

Sexta-feira 1. Claudio Couto – “Ministério para além do governo” – Valor

2. Alex Ribeiro – “BC tem medo da flutuação do câmbio” – Valor

3. Editorial – “Mais um ano ruim, aponta o BC” – Estadão

4. Celso Ming – “Ficou mais difícil” – Estadão