Bilhões e um barril de alegrias: respeito ao “terroir” financeiro brasileiro

O termo “terroir” é usado para indicar os fatores naturais e humanos que controlam a cultura da vinha e a produção do vinho – algo que, no mercado financeiro, funciona de forma parecida

Lucas Collazo

(Tim Mossholder/Unsplash)

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Caros(as) leitores(as),

Me considero uma pessoa privilegiada. Possuo um acesso a lugares e pessoas que é muito especial, um trânsito fluido e singular.

Aliás, nem nos meus sonhos mais criativos imaginei que teria tamanha avenida para percorrer com essa idade, embora sempre acreditasse muito que tudo seria possível. Faço o exercício mental de voltar no tempo sempre que posso, isso me ajuda a manter os níveis de gratidão altos.

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Na última semana, tive mais um desses momentos incríveis que o tal acesso me proporciona. Passei uma hora e meia numa sala de reunião com Rogério Xavier, fundador da SPX e um dos maiores financistas brasileiros na cena global.

Nosso encontro não teve como enredo uma discussão de mercado, esse tipo de pauta é sempre priorizado no Stock Pickers, dado o nosso desejo de abrir essa porta para qualquer pessoa que tenha interesse.

Tivemos uma sessão de mentoria.

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Rogério possui uma história de luta e superação, mesmo após conquistar um sucesso inegável, ele consegue manter seu lado humano intacto e o ego não o consumiu. Podem acreditar, eu acompanho a indústria de perto e com alta intimidade: não são todos que conseguem esse equilíbrio.

Ele não precisa desses elogios, nem pretendo dedicar este texto a isso. Porém, acho que preciso ressaltar algo:

Quando ingressei no mercado financeiro, um dos primeiros textos que tive contato foi o “Onze bilhões e um barril de lágrimas”. Polêmico, a coluna faz menção ao gestor Luis Stuhlberger, na minha opinião, de forma pejorativa e desrespeitosa em algumas passagens.

Contei isso ao Rogério, ele de forma indignada me disse: “não sei como as pessoas conseguem criticar o Luis, deveríamos ser gratos a ele. Se não fosse por ele e todos os demais profissionais que fazem esse mercado acontecer, não estaríamos aqui”. Essa reflexão tomou minha mente.

No mundo do vinho, o qual sou entusiasta há pouco mais de um ano, usamos o termo “terroir” para indicar os fatores naturais e humanos que controlam a cultura da vinha e a produção do vinho. Solo, clima, aspectos do terreno (como altitude e inclinação) e práticas de cultivo (a mão do homem) que torna cada vinhedo único, além de técnicas na vinícola.

Um único produtor não constrói um terroir, é preciso de uma comunidade vinícola para que de fato ele seja construído e reconhecido. Pois bem, na minha opinião, isso funciona para todos os setores.

Esses dias estava discutindo com alguns gestores de fundos internacionais as dores do segmento deles. Eis que sou surpreendido com uma colocação: “Collazo, a gente precisa de mais ‘competidores’, mais gente boa, que faça um trabalho bem-feito e competitivo, só assim os investidores vão entender nossa cena e vamos ganhar maior relevância no Brasil”.

Ou seja, você precisa dos demais agentes para que o segmento ganhe credibilidade, para que transmita confiança. Ambas as características são fundamentais para esse setor, que tanto amo e dedico a vida.

Dito isso, criticar concorrentes, especialmente aqueles que fazem um trabalho coerente, ou os quais “começaram” o segmento, que estavam aqui quando tudo era mato, é burrice. Nós precisamos agradecer.

Claro que, assim como todos os seres humanos, eles cometem erros. Não são todas as janelas que vão apresentar bons resultados, isso faz parte do jogo de gestão.

Transparência é importante para isso. Visitar processos, pessoas, diligência dessas casas, é o que deveria balizar decisões de investimento ou desinvestimento.

Mas criticá-los de forma pessoal e desrespeitosa? Jamais.

Esses personagens do mundo da gestão, ou mesmo outros responsáveis por mudar o mercado como conhecemos, o caso do Guilherme Benchimol, por exemplo, que também tenho a honra de ter como mentor, são os responsáveis por criar esse terroir que nos permite extrair o nosso melhor. Garantiram a credibilidade que nos permite trabalhar e avançar.

São bilhões de reais sob gestão, bilhões sob custódia, que poderiam estar em condições terríveis, a despeito de qualquer solavanco de curto prazo, a janela longa não me deixa mentir. É um barril de alegrias.

Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney