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Essa ação deve fazer o investidor “sorrir de orelha a orelha” no segundo semestre

Gestão eficiente, sólidos resultados e histórico de pagamento de dividendos são algumas das características
Por  Rafael Souza Ribeiro
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – Ao construir uma carteira de investimento no longo prazo, todo investidor deve (ou deveria) buscar por empresas com bons fundamentos e pagadoras de dividendos, um dos mantras do megainvestidor Luis Barsi. Por trás dessa estrategia, está a maior chance de retornos positivos com empresas de qualidade, assim como revelou o estudo do gestor da Fama Investimentos, Fábio Alperowitch, e capitalizar a carteira via o lucro distribuído pelas empresas.

Bom seria se o mercado fosse recheado dos cases citados acima, ainda mais se a empresa em questão estivesse descontada em termos de valuation, ou seja, com um belo potencial de valorização. Pois bem, temos uma ação listada na B3 com essas características e que sempre foi muito elogiada por analistas e gestores, inclusive figurando no hall das empresas premium da bolsa: estamos falando de Smiles (SMLE3).

Estrutura de negócio

A empresa, que um dos maiores programas de milhagens do Brasil com mais de 13 milhões de participantes inscritos, tem como seu modelo de negócio baseado no desenvolvimento de um programa de fidelização de clientes, que consiste no acúmulo e resgate de milhas. Para entender melhor como funciona a dinâmica do programa, vamos ao conceito:

i) acúmulo de milhas: o cliente recebe milhas quando adquire passagens aéreas da Gol (GOLL4) ou de outras companhias aéreas parceiras da Smiles, assim como quando usufrui de produtos e serviços dos parceiros comerciais e financeiros da empresa – no momento em que passa o cartão de crédito para comprar algum produto, por exemplo. Em troca, eles oferecem as milhas da Smiles como forma de fidelização de seus consumidores.

ii) resgate de milhas: o cliente tem o direito de gastar os seus pontos acumulados – o que a empresa chama de prêmios. Esse processo nada mais é do que a troca das milhas por passagens aéreas (destino maior das milhas) ou ainda por produtos e serviços dos parceiros comerciais e financeiros da Smiles.

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Os resgates de milhas – quando os prêmios são efetivamente amortizados – são a principal fonte de receita da empresa. Para se ter uma ideia da importância dessa linha do resultado, a imagem abaixo mostra como o lucro líquido da Smiles é dividido. Como é possível verificar, no primeiro trimestre deste ano, o lucro com spread de pontos (resgates de milhas) representou 46% do lucro total, seguido por Breakage (milhas emitidas que expiram sem serem resgatadas) e Floating (ganho financeiro ao aplicar o caixa recebido à vista na emissão de pontos):

 

Grande parte do acúmulo de milhas, precisamente 73% no primeiro trimestre do ano passado, deriva-se das movimentações de clientes com cartão de crédito e outros parceiros comerciais da empresa, como hotéis e lojas virtuais. E uma linha de receita que está ganhando espaço é do programa Smiles & Money, modalidade qual o cliente pode efetuar a compra de uma passagem ou serviço mesclando milhas e dinheiro.

A parceira com a Gol e outras companhias aéreas entra forte no resgate de milhas, quando o cliente troca seu “dinheiro” pelos benefícios da Smiles. O gráfico abaixo, elaborado pela empresa no resultado do primeiro trimestre, demonstra como o volume de milhas resgatada é concentrado em passagens aéreas – por exemplo, no primeiro trimestre de 2017, das 16 bilhões de milhas resgatadas, 15 bilhões foram para passagens aéreas:

O que faz dela uma empresa premium?

No mercado financeiro dificilmente existe unanimidade, ainda mais falando sobre análise de empresas, em vista das inúmeras variáveis que permeiam uma companhia. Entretanto, quando estamos falando de Smiles, a satisfação com a gestão da empresa é unânime entre analistas e gestores. Além do alto nível de eficiência da estrutura e da administração, a empresa possui liberdade para determinar sua política de resgate e precificação de milhas, maximizando o retorno das estratégias implementadas.

Não por um acaso, Francisco Kops, analista da Garde Asset Management – gestora que administra R$ 6 bilhões -, e Marcos Silberman, analista da XP Gestão – atualmente possui R$ 9 bilhões de patrimônio – destacam que um dos principais drivers positivos da ação é justamente o management de alta qualidade e inovador, sempre com novos produtos e parcerias, assim como soluções para agregar ainda mais valor aos produtos já oferecidos. Atualmente, só na parte de cartões de crédito, a Smiles tem parceria com 26 empresas, com destaque para Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Santander, Bradesco e Caixa Econômica Federal.

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Outro ponto destacado por Kops e pelo time de análise da Apex Capital, fundo de investimento com patrimônio líquido de R$ 4 bilhões e capitaneado por Paulo Weickert, é que o modelo de negócio da Smiles é asset light, ou seja, possui poucos ativos em comparação a suas operações, o que torna o passivo menor e a empresa “mais leve” para, por exemplo, investir em novas alternativas de receita em vista da sólida posição de caixa, outra característica bastante elogiada pelos analistas consultados.

Nada melhor do que ver o histórico de resultados trimestrais da empresa para entender tudo isso. Conforme aponta a tabela retirada do terminal Bloomberg, salvo três trimestres (3T14, 4T14 e 1T17), o caixa da empresa desde o primeiro trimestre de 2014 é bastante estável, assim como podemos observar que a receita líquida cresceu em todas as comparações anuais e há uma clara evolução do Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) e de sua margem ao longo dos trimestres:


*Ajustado
Fonte: Bloomberg

“Apesar da crise e desaceleração dos gastos nos cartões de crédito, somada a alta do dólar, que reduz o número de pontos gerados na indústria, a companhia conseguiu manter uma trajetória crescente de acúmulo e resgate de pontos em seu programa através do amadurecimento de produtos criados nos anos anteriores, como o Smiles & Money, Clube Smiles e pagamento da taxa de embarque com milhas, enquanto sua principal competidora não conseguiu manter performance similar”, destaca Silberman.

Em vista dos fortes resultados, a empresa possui uma política de dividendos de “encher os olhos” de qualquer investidor sedento por proventos, outro ponto positivo destacado pelos analistas: a Smiles paga, ao final de cada ano contábil, 100% do seu lucro líquido sob a forma de dividendos aos seus acionistas, ao passo que distribui trimestralmente JCP (Juros sobre Capital Próprio). A tabela abaixo mostra a relação desde 2013 – ano de seu IPO:

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A junção entre forte geração de caixa, boa pagadora de dividendos e gestão eficiente justificam o status de empresa premium na bolsa e por si só uma belíssima candidata para entrar em uma carteira de investimentos, a exemplo da Carteira InfoMoney de julho, onde as ações ordinárias da Smiles entraram no lugar de Petrobras (PETR4). Ainda assim, a empresa reserva um upside que deve arrancar sorrisos dos investidores no próximo mês e propiciar uma reprecificação (para cima) dos ativos – o resultado do segundo trimestre.

Rumo ao topo!

Marcado para ser divulgado em 3 de agosto, após o fechamento do mercado, o resultado do segundo trimestre de Smiles deve surpreender novamente os investidores – segundo pesquisa do Santander, ela é a segunda empresa que mais surpreendeu o mercado nos últimos 29 trimestres. Em relatório, Samuel Alves e Renato Mimica, analistas do BTG Pactual, destacaram que a companhia está vivendo um momentum positivo de resultados e que o segundo trimestre deve ser a consolidação dessa impressão, compactuando com a visão dos analistas das gestoras.

Para o segundo trimestre, o time do banco de investimento prevê crescimento de 17% da receita líquida em base anual, atingindo R$ 409 milhões, com Ebit (lucro antes de juros e impostos) 23% maior do que no segundo trimestre de 2016 e sólida margem de 38,5% – aumento de 200 pontos-base frente o mesmo período do ano passado. Apesar da queda dos juros, fator que afeta negativamente Smiles, pois parte da receita da empresa está correlacionada diretamente com a variação da Selic, os analistas do BTG preveem receita financeira estável para o período, graças ao acordo com a Gol qual a Smiles compra passagem antecipada, ou seja, “ela prefixa parte da receita financeira por uma taxa de remuneração alta e blinda seu resultado financeiro para os próximos trimestres”, explica Kops, compensando o efeito negativo deste dinheiro em caixa que rende juros.

Além do robusto operacional, um outro evento recente motivou o time do BTG revisar para cima os números da empresa: o efeito Webjet. Em 6 de junho, o conselho de administração aprovou plano de reorganização societária e a Smiles foi incorporada pela Webjet. O importante deste movimento foi a criação de um benefício fiscal de R$ 189 milhões e a demonstração da capacidade do management em gerar valor para empresa, conforme destacaram os analistas da Apex. Ao incorporar esse lucro caixa nos números da empresa, os analistas do banco de investimento elevaram a expectativa de lucro líquido antiga para 2017 e 2018 em 10,6% e 17,6%, respectivamente.

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Assim como o BTG, outros analistas deverão ajustar seus números para incorporar os melhores resultados projetados e corrigir a atual defasagem do consenso com relação ao lucro esperado para Smiles. Para se ter uma ideia desse gap, o banco de investimento prevê lucro líquido para 2017 de R$ 634 milhões, enquanto o Consenso Bloomberg aponta R$ 614 milhões. Para 2018, enquanto os analistas do BTG projetam lucro de R$ 677 milhões, o mercado trabalha com R$ 606 milhões. E justamente esse ajuste de expectativa que torna a empresa ainda barata após a forte alta deste ano.

Vale a compra?

Tudo bem. Então temos em mãos uma empresa com bons fundamentos e pagadora de dividendos, agora só falta responder: depois de subir 50% no ano, ainda vale a compra? Na visão de Kops, a ação tem espaço para subir na esteira da precificação (para cima) dos fortes números trimestrais. Basta observar o P/L (Preço/Lucro) projetado para 2018, que ainda está longe da última máxima e com o ajuste previsto do lucro líquido deve tornar a empresa mais atrativa pelo múltiplo, revelando que ainda não está cara mesmo após a forte alta anual, pontua o analista da Garde.

O time da Apex é pouco mais conservador, mas não descarta novas altas: “acreditamos que mercado ainda tenha que ajustar os números, mas parte já foi feito. Nós vemos a empresa operando a 12x P/L para 2018 usando estimativas conservadoras, acreditando, assim, que a empresa tenha potencial para entregar acima de nossos números no ano”. Além disso, a gestora lembra que existe a possibilidade de um dividendo extraordinário mediante a incorporação da Webjet, gatilho positivo bastante relevante para Smiles.

Porém, existem alguns riscos que devem ser ponderados pelo investidor. Segundo Kops, o principal deles está justamente ancorado na Gol: “apesar de estar melhorando a situação operacional, com ganhos de margem e guidance melhores do que o esperado pelo mercado, a empresa ainda está com uma situação de caixa apertada”. Para se ter uma ideia, do quatro trimestre do ano passado para os três primeiros meses do ano, o caixa da empresa encolheu 40%, encerrando o primeiro trimestre em R$ 694 milhões, ao passo que as dívidas de curto prazo somam R$ 726 milhões.

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Por conta dessa situação de caixa apertada, que deve se agravar ainda mais no segundo trimestre, “o mercado está preocupado que a Gol tenha algum problema de liquidez”, alerta o analista da Garde. Segundo Kops, as alternativas de financiamentos neste momento são escassas, já que o mercado de capitais está fechado para empresa “devido a restruturação recente que fizeram nas debêntures e pela situação patrimonial negativa” e o tradicional financiamento via Smiles, que compra antecipadamente passagens aéreas da Gol, já está no limite da capacidade. Prova deste “desespero”, a diretoria da companhia aérea vendeu 1,25 milhão de ações ordinárias da Smiles (1% do total de ações) pelo preço de R$ 61,05 em 26 de julho, reforçando o caixa em R$ 76,3 milhões.

A preocupação é mais do que justificada, já que estamos falando da controladora da empresa e sua principal parceira no ramo de passagens aéreas. Portanto, qualquer casualidade fora dos planos do mercado com a Gol assustará bastante os investidores e o movimento natural neste sentido é de venda. Segundo Kops, se algo muito grave acontecer com a companhia aérea, “o business de Smiles será bastante discutível e essa é uma das grandes razões da empresa negociar a múltiplos atrativos”. Porém, na sua visão, o caos projetado para Gol não deve acontecer e esse desconto das ações da Smiles pode ser aproveitado pelo investidor para comprar.

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