Acordo dos sonhos da Vale finalmente chega e impulsiona ainda mais a já “campeã” do Ibovespa

Ações da Bradespar lideram ganhos na sessão e no ano com anúncio de que o acordo de acionistas da Vale finalmente foi celebrado

Lara Rizério

(Divulgação)

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SÃO PAULO – Se o desempenho das ações da Vale (VALE3;VALE5) já é impressionante nesta segunda-feira, com os papéis da mineradora avançando 6%, o desempenho dos papéis de sua holding, a Bradespar (BRAP4), é muito superior. Os ativos da companhia chegaram a subir 19% na abertura e registram ganhos de cerca de 16% durante todo o pregão, fazendo com que os papéis BRAP4 tenham a maior alta do Ibovespa, não só nesta segunda, como no ano, com ganhos acumulados de 77% em 2017 (após liderar os ganhos em 2016, com alta de cerca de 200%). 

Um dos motivos para esse desempenho superior está em um fator que, já há algum tempo, o blog O Investidor de Sucesso vem destacando: o acordo de acionistas da Vale, que já era amplamente esperado e que impactou muito os papéis da Bradespar nos últimos meses. 

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Entre o final de 2015 e o começo de 2016, as ações BRAP4 passaram a ser negociadas com um forte desconto em relação às da Vale, principalmente por conta das preocupações sobre a renovação do acordo de acionistas da Valepar. O acordo, que começou em 1997 na privatização da empresa, expira em abril de 2017 e os investidores temiam que uma eventual não renovação do acordo para o bloco de controle poderia levar à “reestatização” da companhia. Isto ocorreria com os fundos de pensão estatais assumindo o controle acionário da mineradora, em detrimento dos sócios privados Bradesco (BBDC4) e a japonesa Mitsui. 

 Contudo, os temores foram diminuindo após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (e a expectativa de um governo mais pró-mercado com Michel Temer), além da espera de um novo acordo. 

Após muito rumores e idas e vindas, o “acordo dos sonhos” foi finalmente anunciado na manhã desta segunda-feira (20). Os principais acionistas da mineradora – Litel Participações, Litela Participações, Bradespar, Mitsui e BNDESPar, reunidos na Valepar – concordaram em renovar um acordo que os mantém como um bloco de controle por mais três anos e meio, enquanto preparam uma proposta para listar a empresa no segmento especial do Novo Mercado da Bovespa. Eles ainda planejam tornar a companhia sem controle definido, virando uma empresa de capital pulverizado. 

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Nos termos do acordo, está prevista a conversão voluntária das ações preferenciais classe A da Vale em ações ordinárias, na relação de 0,9342 ação ordinária por ação preferencial classe A da empresa. A precificação será definida com base no preço de fechamento das ações ordinárias e preferenciais apurado com base na média dos últimos 30 pregões na Bovespa anteriores a 17 de fevereiro, ponderada pelo volume de ações negociado nesses pregões.

Após esse passo, a Vale incorporará a Valepar, e pagará aos proprietários da Valepar um prêmio de 10% por suas ações. Esse passo diluirá os acionistas minoritários em 3% e é uma condição prévia para o restante do processo de transformação da estrutura da Vale, que deixaria de existir em novembro de 2020. 

Uma vez que o acordo expirar, nenhum acionista poderá ter mais de 25% da Vale, sob pena de ter que realizar OPA (Oferta Pública de Aquisição) para os demais acionistas titulares de ações ordinárias. 

De acordo com a JPMorgan Securities, a transação parece ser uma vitória para os acionistas controladores e minoritários.  O plano também vai ajudar a limitar as interferências do governo na empresa e, conforme também aponta o BTG, este acordo é “definitivamente” positivo para os controladores da Vale e melhorias na governança corporativa podem vir antes do que muitos estavam esperando.

“Esse é um caso claro de reclassificação dos múltiplos, uma vez que os papéis da Vale estão sendo negociados a um desconto quando comparado a Rio Tinto (o par mais comparável)”. 

 No cenário atual, com expectativa no cenário-base de um minério de ferro entre US$ 50 a US$ 55 a tonelada, os analistas veem a Vale negociada a 6,6 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) esperado para 2017 versus 7,7 vezes o Ebitda da Rio Tinto. “Assumindo a convergência com os múltiplos da Rio Tinto, o ativo pode ser reclassificado em 20,9% nos nossos cálculos (uma criação de valor de US$ 11,8 bilhões)”, afirma o BTG. 

A diluição dos acionistas minoritários também não assusta: ela é de longe bem menos importante do que os ganhos em potencial com o aumento da governança, ressalta o BTG, além de considerar um prêmio de 10% para a Valepar como bastante razoável.

E, dentro deste acordo vitorioso, a Bradespar é provavelmente a maior beneficiada, conforme destaca o BTG Pactual, o que se reflete hoje nas ações da mineradora. A holding reflete a “corrida” para fechamento do desconto existente entre suas ações e as da mineradora logo após o novo contrato de acionistas da Vale, que extinguirá a Valepar.

Segundo análise do BTG Pactual, os analistas viam a Bradespar sendo negociada a um desconto entre “holding x controlada” na faixa dos 22% a 23% (assumindo alguns passivos fiscais da venda da CPFL). Contudo, o desconto pode se comprimir para cerca de 10%, o que explica o forte desempenho dos papéis BRAP4 nesta sessão. 

Assim, as ações da Bradespar finalmente vão poder se “desfazer” de vez o forte gap registrado no último ano. O acordo de acionistas da Vale foi muito positivo para os papéis da holding – como pode ser observado através do forte desempenho dos ativos. Agora, o mercado estará de olho nos próximos passos: o acordo de transição precisa de apoio do equivalente a 20% das ações com direito a voto da Vale, garantindo a governança necessária para implementar o plano de propriedade diluída. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.