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Como transformar uma crise pessoal num impulso para sua carreira

Vou contar a vocês a história mais terrível da minha vida: quando quebrei, fiquei muito doente e pensei que tudo estava perdido. Pela natureza do meu trabalho, ouço histórias muito tristes de meus clientes. Todas elas me remetem a momentos difíceis da minha vida, que se revelaram muito úteis para compreender, e também para dar força àqueles que sofrem nesse momento.
Por  Silvio Celestino
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Vou contar a vocês a história mais terrível da minha vida: quando quebrei, fiquei muito doente e pensei que tudo estava perdido. Pela natureza do meu trabalho, ouço histórias muito tristes de meus clientes. Todas elas me remetem a momentos difíceis da minha vida, que se revelaram muito úteis para compreender, e também para dar força àqueles que sofrem nesse momento.

Lembro-me de que a crise no mercado das empresas “pontocom” e de telecomunicações, no início de 2000, se arrastou e, a partir de janeiro de 2002, minha empresa começou a ter sérias dívidas. Depois de dois anos lutando para reverter a situação, percebi que era o momento de mudar tudo. Queria me livrar do setor de tecnologia da informação. Havia sido muito feliz nele, mas sabia que era o momento de procurar outras atividades.

Fazer essa mudança em meio a dívidas foi um trabalho muito difícil. A pressão de credores, a vergonha de ter fracassado na área de TI, após anos incríveis de sucesso, foi uma carga muito pesada. Tomei a decisão de trabalhar com treinamento para líderes empresariais e me esforcei ao máximo para que o negócio desse certo. Até que passei do limite razoável que meu corpo era capaz de suportar.

Inadvertidamente, parei de tomar remédios para minha bronquite e trabalhava 16 horas por dia. Até que, finalmente, paguei todas as dívidas com os bancos. O problema é que, no dia seguinte, tive uma embolia pulmonar. Foram dez dias entre os primeiros sintomas e o diagnóstico. Na verdade, no décimo dia, no auge de meu desespero com o fato de que os médicos acreditavam que eu só tinha um estresse sem muita importância, acessei o Google e pesquisei, em inglês, todos os sintomas que sentia. Acabei indo parar em um site que listou oito possíveis enfermidades, uma delas era embolia. Como já tive muitos problemas no pulmão, sabia que era isso. Fui ao hospital e tive de convencer o médico a realizar o exame para detectar a embolia. E estava certo.

No hospital e endividado

Os dez dias entre os primeiros sintomas e o tratamento acabaram comigo. Quando saí do hospital, conseguia ficar no máximo 40 minutos acordado, e tinha de dormir por duas horas. Tentando recuperar a energia, acordava às 4h, tomava o remédio e voltava a dormir. Acordava às 7h, mas cansava com a mastigação do café da manhã. Voltava para a cama e não conseguia fazer quase nada. Retornei aos médicos, que me disseram que estava bem clinicamente e que já podia levar uma vida normal. “Como?”, pensava eu.

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Até que, em um ato de desespero e a convite de meu coach, participei de um retiro de meditação profunda com um avatar nos Estados Unidos. Tive de vender meu carro e usar as últimas economias para isso. Funcionou, mas fiquei destruído financeiramente.

Nos meses seguintes, percebi que a maneira como tinha resolvido meus problemas com as dívidas não me permitiria continuar vivo. Tive de estabelecer um número máximo de horas de trabalho por dia, fazer exercícios físicos e aceitar que não poderia me recuperar na velocidade que desejava, ou meu corpo não aguentaria. E a vida é o nosso bem mais precioso.

Até que, um dia, o dinheiro acabou. Não tinha mais crédito, era uma quinta-feira, e o próximo recebimento de um cliente seria somente na segunda. Eu sabia que, após uma palestra, teria de voltar a pé para casa. Não tinha dinheiro nem para o ônibus e decidi que tinha de vivenciar isso naquele momento. Não pediria carona a ninguém.

Para muitos homens, para mim inclusive, ficar completamente sem dinheiro é apavorante. Mas, depois de passar por uma situação de quase morte, você consegue colocar isso em uma perspectiva verdadeira. Acabei a palestra, fui aplaudido e saí do evento pela porta da frente. Não sei a distância que estava de casa. Sabia que teria de passar próximo a um ponto de venda de drogas e lugares desertos. Foi um passo de cada vez. Lembro-me da primeira quadra, mas, depois, os pensamentos foram tomando conta de mim e não sei quanto tempo passou até finalmente chegar em casa. Não comentei com ninguém a respeito do que ocorrera.

Recomeço e aprendizagem

Segunda-feira chegou, recebi novos recursos. Ainda haveria dias muitos difíceis pela frente, mas sabia que teria de dar um passo de cada vez. Períodos difíceis não servem apenas para exercitar nossa aceitação e resiliência. São etapas de grande aprendizado, ainda que enfrentá-las seja triste, frustrante e, por vezes, aterrorizante.

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Nas horas em que vemos nossos sonhos se desmancharem, pensamos neles como irreais e acreditamos que a realidade somente está presente quando é dura conosco. E, o que é pior, que devemos abandonar nossos sonhos.

Esses pensamentos sempre estarão presentes, se você não enxergar a crise como uma oportunidade. Claro que a pergunta que surge é: “Oportunidade para quê? Para sofrer?”

Não! A crise é uma oportunidade para reforçar o futuro desejado e quem você é como pessoa digna de merecê-lo. E não importa o que lhe ocorra, você irá na direção dele. Esse pensamento é uma mola que impulsiona você e a sua carreira.

A vida, por vezes, é uma peça de teatro com diretor, atores e produtores imbecis. Eles não sabem que você, o autor da peça e também o protagonista, nesse momento, não escreveu que era para ficar sem emprego, adoecer, ficar endividado ou perder alguém muito querido. Mas seu papel é integrar essa situação e dar sentido a ela na peça como um todo. E você não pode abrir mão do final que escreveu, o “grand finale”. Você será aquilo que deseja, não importa o que ocorra. É a partir dessa visão que você deve agir.

Portanto, você pode não escolher 100% das pessoas, dos cenários e temas com os quais vai lidar na vida. Mas pode escolher como agirá com todos esses elementos. Se aqueles que você não deseja estão arruinando sua peça, afaste-se deles, vá para o outro lado do palco. Abra espaço para aqueles cenários, pessoas e diálogos que fazem parte do enredo que criou para sua vida.

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Acima de tudo, compreenda que a crise é uma oportunidade para exercitar, manter a cabeça alta em um momento de derrota. E que, quando a vitória chegar, a lembrança desses momentos fará você manter a humildade dos verdadeiros vencedores.

Acima de tudo, nunca, nunca, nunca desista!

Vamos em frente!

Silvio Celestino É coach de gerentes, diretores e CEOs desde 2002. Também atende a executivos que desejam assumir esses cargos. Possui certificação e experiência internacional em coaching. Foi executivo sênior de empresas nacionais e multinacionais na área de Tecnologia da Informação. Empreendedor desde 1994.

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