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Perspectiva semestral: o ressurgimento dos mercados emergentes

Mobius convida executivos da Franklin Templeton para analisar os fatores que estão aumentando a confiança dos investidores este ano.
Por  Mark Mobius
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O primeiro semestre de 2017 foi positivo para os mercados emergentes, de modo geral. Meus colegas Stephen Dover, diretor-presidente de investimentos do Templeton Emerging Markets Group, Chetan Sehgal, diretor de Global Emerging Markets/Small-Cap Strategies e Carlos Hardenberg, vice-presidente sênior e diretor de Frontier Markets Strategies, analisam os fatores que estão aumentando a confiança do investidor este ano e falam de alguns temas e setores cujos desenvolvimentos futuros nos entusiasmam.

As ações dos mercados emergentes (ME), conforme representadas pelo MSCI Emerging Markets Index, prolongaram sua recuperação de 2016. Na primeira metade de 2017, o MSCI EM Index gerou retornos de 18,60%, em comparação aos ganhos de 11,02% do MSCI World Index.1

O forte início de ano reflete uma melhora no cenário macroeconômico, após um período de ajustes nos preços das moedas estrangeiras e das commodities, e de mudanças políticas generalizadas. Os fatores que muitos investidores têm historicamente achado atraentes, em relação a essa classe de ativos, voltaram à cena, incluindo um crescimento mais forte nos lucros e tendências de consumo robustas.

Apesar de ainda existirem áreas de risco, nossa opinião é de que ainda estamos no início da retomada do crescimento dos lucros nos mercados emergentes. Também acreditamos que as métricas de valor e a confiança continuam a ser positivas.

Mesmo nas regiões que ainda estão passando por ajustes e rebalanceamento, encontramos sinais mais visíveis de condições econômicas subjacentes mais robustas. Alguns fatores positivos incluem o baixo endividamento, mercado de commodities em estabilização, volatilidade cambial reduzida e melhora na confiança dos consumidores. A implementação de reformas em muitos países também tem estimulado a confiança dos mercados.

É importante notar que o crescimento dos lucros empresariais dos ME atingiu um ponto de inflexão em 2016, após vários anos de queda devidos, em parte, a preços mais fracos das commodities e à desaceleração do crescimento da China. O crescimento dos lucros atualmente parece estar se recuperando. A alocação de capital e a eficiência de custos das empresas dos mercados emergentes também têm melhorado, o que acreditamos que deve impulsionar as margens de lucro e aumentar o retorno sobre o patrimônio líquido.

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Até o final de junho de 2017, o crescimento dos lucros do MSCI Emerging Markets Index foi de 13,08%, aproximadamente 53% mais elevado do que o do MSCI World Index.2 

As métricas de valor também parecem apoiar o investimento no mercado de ações dos ME em geral, em nossa opinião. Até o final de junho de 2017, o índice preço/lucro (P/L) do MSCI Emerging Markets Index foi de 14,60, enquanto que o índice P/L do S&P 500 Index foi de 21,40 e o do MSCI World Index foi de 19,86.3

Olhando o longo prazo, o argumento de investimento estrutural para os mercados emergentes continua a se basear na demografia (incluindo uma classe média emergente) e no consumo doméstico. Também consideramos importante reconhecer que tem havido mudanças fundamentais no panorama corporativo.

Os mercados emergentes estão mais diversificados do que eram há uma década. Essa classe de ativos passou por uma transformação significativa, dos modelos de negócios frequentemente simplistas do passado. Os modelos mais antigos tendiam a focar em infraestrutura, telecomunicações, operações bancárias tradicionais e negócios envolvendo commodities. Atualmente, vemos uma nova geração de empresas altamente inovadoras, migrando para processos produtivos de maior valor agregado, ou que estão à frente da liderança de tecnologias de classe mundial.

Tecnologia da informação (TI): líderes tecnológicos diversos

A crescente importância da TI nos mercados emergentes é uma importante transformação que tem ocorrido bem na nossa frente na última década. Essa tendência coincide com a redução da dependência das commodities como impulsionadores do crescimento.

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O setor de TI é atualmente o de maior peso no MSCI Emerging Markets Index. Isso é o resultado de uma performance superior nos últimos dois anos, bem como de um aumento no número de participantes de grande porte no setor (especialmente algumas empresas chinesas da Internet), que foram adicionados ao MSCI EM Index no final de 2015 e meados de 2016.

Atualmente, um conjunto diversificado de empresas dos mercados emergentes está se tornando líder no desenvolvimento de tecnologias de classe mundial.

Uma forma de ilustrar esse fenômeno é o aumento no número de solicitações de patente, oriundas dos mercados emergentes. Em torno de 15 anos atrás, os mercados emergentes representavam de 10% a 15% do total de patentes globais. Em 2015, aproximadamente 45% de todas as patentes solicitadas foram de empresas e países dos mercados emergentes.4

Existem muitos exemplos de como as empresas dos ME estão transformando diversas áreas. Um exemplo são as compras on-line. O “Dia dos solteiros” da China é o maior dia de compras online do mundo. Celebrado anualmente na China, no dia 11 de novembro, o conceito é similar ao “Black Friday” no dia seguinte ao feriado de Thanksgiving dos Estados Unidos.

Na China, mais de 14 mil marcas internacionais participaram do Dia dos solteiros de 2016, gerando mais de US$ 17,7 bilhões em vendas.5 Em comparação, o total combinado em vendas on-line de todos os varejistas dos Estados Unidos durante o Thanksgiving, a Black Friday e a  Cyber Monday (a segunda feira após o feriado) foi de US$ 12,8 bilhões em 2016.6

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Além disso, a inovação não está restrita às grandes empresas. Ela também está ocorrendo em empresas menores dos ME, mais voltadas a nichos.  Nosso foco é em empresas com lucros sustentáveis e uma vantagem competitiva que, em nossa análise, sejam capazes de sobreviver mais tempo do que o mercado possa imaginar.

Apesar de a recente retração nas ações de TI ter servido como uma lembrança da volatilidade que pode ocorrer no mercado, permanecemos otimistas quanto às perspectivas para o setor de TI em geral. Mesmo estando cautelosos com o rápido avanço dos preços das ações de algumas empresas de Internet da China, continuamos a ver valor no setor em todos os mercados emergentes.

O governo chinês permanece focado em sua estratégia “Internet Plus”, na qual a Internet desempenhará um papel fundamental no estímulo ao próximo estágio de crescimento econômico da China. Existem diversas oportunidades para as empresas se expandirem localmente. Particularmente interessante é a atração de consumidores das áreas rurais do país, onde moram mais de 40% da população.

Não apenas bens de consumo, mas também serviços

Além do setor de TI, o setor de consumo oferece uma forma eficaz de obter exposição à expansão econômica dos mercados emergentes, e acesso ao crescimento dos gastos, à medida que um aumento na riqueza regional estimula uma classe consumidora mais ativa.

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As empresas clássicas de bens de consumo dos ME operam em áreas que incluem automóveis, alimentos, bebidas e vestuário/têxteis. Os consumidores de classe média dos mercados emergentes não apenas estão demandando esse tipo de produtos, mas também estão demandando cada vez mais serviços, incluindo serviços bancários, de saúde e lazer (entretenimento, resorts, cinemas, jogos e viagens).

O crescimento do setor de serviços dos mercados emergentes é consistente com o que temos visto nos mercados desenvolvidos, à medida que a renda aumenta. Também achamos que essa área representa atualmente uma interessante oportunidade de investimento, uma vez que tende a ser mais doméstica por natureza e, portanto, menos exposta a políticas comerciais e volatilidade cambial.

Em muitas economias emergentes, temos visto um surgimento de marcas de luxo, atendendo ao crescente poder aquisitivo da classe média.

O crescimento estável da China e a persistente força de seu mercado de crédito

Apesar de a desaceleração do crescimento econômico da China ter pressionado os mercados emergentes por vários anos, muitos observadores vinham claramente superestimando o risco de uma retração brusca. O crescimento da China parece estável neste ano, e a economia atualmente apresenta reflação com uma melhora da demanda externa. Do ponto de vista estrutural, temos visto resultados positivos da reforma das empresas estatais (state-owned enterprises – SOE). Muitas dessas empresas já estão vendo fortes fluxos de caixa e melhorias em seus balanços financeiros.

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A China também desfruta de vários importantes pontos fortes, principalmente uma economia grande e diversificada, crescimento robusto e uma taxa de poupança doméstica elevada. Apesar de o país ainda enfrentar um alto nível de endividamento, esse é em grande parte interno, e não externo, para um credor. Além disso, a China mantém um forte excedente em conta corrente, e o governo também está tratando de conter o risco sistemático financeiro com propostas de aumentar a regulamentação das atividades do sistema bancário informal (shadow banking) e fechar as estatais “zumbis”, empresas altamente endividadas e de baixa performance.

Para o futuro, os principais impulsionadores que vemos para as ações da China incluem uma melhor perspectiva de lucros, retornos financeiros mais elevados (dividendos) aos acionistas, uma redução no risco de desvalorização cambial e a implementação de mais reformas na produção e nas estatais.

As áreas de risco com as quais deve-se ter cuidado incluem mudanças adversas nas políticas comerciais dos EUA, aumento dos juros mais rápido do que o esperado nos EUA (que pode fortalecer o dólar), aumento das tensões políticas com a Coreia do Sul e o Japão, e uma maior taxa de inadimplência dos títulos de renda fixa, se a liquidez sistêmica for reduzida.

Para nós, os principais temas de investimento estão nas questões estruturais e cíclicas, e incluem a tecnologia de Internet e o comércio eletrônico, o consumo de luxo (por exemplo, automóveis e cassinos), consumo de massa, recuperação dos preços das commodities e reformas na produção, e crescimento estrutural.

Nossa perspectiva e os riscos que vemos

Acreditamos que a persistente melhora nos fundamentos dos mercados emergentes deva ser positiva para as ações. As tendências de crescimento dos lucros melhoraram notadamente durante 2016 e e no início de 2017. Esperamos que essa virada continue, com as economias e os fundamentos empresariais possivelmente se estabilizando por toda a classe de ativos.

Em nossa opinião, as métricas de valor dos mercados emergentes permanecem atrativas, em relação aos mercados desenvolvidos. O desconto das métricas de valor dos mercados emergentes, em relação aos mercados desenvolvidos, permanece na parte inferior da faixa da última década, mesmo após a performance superior dos ME em 2016 e na primeira metade de 2017.

Mesmo assim, estamos cientes da potencial volatilidade e permanecemos alertas para os riscos. As mudanças na política monetária dos EUA ainda são uma fonte de apreensão para muitos participantes do mercado. Esperamos que os aumentos das taxas de juros dos EUA sejam graduais, mas alertamos que elevações maiores ou mais rápidas das taxas de juros podem pesar sobre a confiança e levar à volatilidade de mercado.

Outros riscos em nossa perspectiva incluem a incerteza sobre as políticas da nova administração dos EUA, bem como a capacidade da China de continuar seu crescimento enquanto realiza ajustes estruturais.

Dito isso, muitos mercados emergentes possuem fortes posições em reservas e endividamento externo atual mais baixo do que tinham historicamente, o que os torna menos vulneráveis a choques externos.

Em resumo, vemos muitas razões para sermos otimistas quanto às perspectivas para essa classe de ativos, no restante de 2017 e mais além.

Os comentários, as opiniões e as análises do Mark Mobius são apenas para fins informativos e não devem ser considerados como uma consultoria de investimento, uma recomendação para investir em qualquer ativo ou para adotar qualquer estratégia de investimento. Uma vez que as condições econômicas e de mercado estão sujeitas a mudanças rápidas, as opiniões, as análises e os comentários são oferecidos com base na data da publicação e podem ser alterados sem aviso prévio. Este material não tem como objetivo ser uma análise completa de todos os fatos importantes em relação a qualquer país, região, mercado, setor, investimento ou estratégia.

 

Informações legais importantes

Todos os investimentos envolvem riscos, inclusive uma possível perda de principal. Os ativos estrangeiros acarretam riscos especiais, incluindo flutuações cambiais, instabilidades econômicas e acontecimentos políticos. Os investimentos em mercados emergentes, dos quais os mercados de fronteira são um subconjunto, acarretam riscos mais elevados em relação aos mesmos fatores, além dos riscos relacionados ao menor tamanho desses mercados, à menor liquidez e à menor estrutura jurídica, política, comercial e social estabelecida para fornecer suporte aos mercados de valores mobiliários. Como essas estruturas são normalmente menos desenvolvidas em mercados de fronteira, e existem vários fatores que aumentam a probabilidade de extrema volatilidade de preços, falta de liquidez, barreiras comerciais e controles cambiais, os riscos associados aos mercados emergentes são mais elevados em mercados de fronteira. Os preços das ações oscilam, às vezes de forma rápida e drástica, devido a fatores que afetam certas empresas, determinadas indústrias ou setores, ou devido a condições gerais de mercado. As ações de pequenas empresas historicamente apresentaram mais volatilidade de preços do que as de grandes empresas, especialmente a curto prazo.

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1.  Até 30 de junho de 2017. Em dólares americanos. O MSCI Emerging Markets Index representa empresas de alta e média capitalização de 24 países dos mercados emergentes. O MSCI World Index representa empresas de alta e média capitalização de 23 países dos mercados desenvolvidos. Indicadores não são gerenciados e não se pode investir diretamente neles. Performance passada não é indicação nem garantia de performance futura.

2. Fonte: FactSet. Até 30 de junho de 2017. Visite www.franklintempletondatasources.com para obter informações adicionais sobre fornecedores de dados.

3.  O índice P/L de uma ação compara o preço da ação com o lucro por ação da empresa. O índice P/L de um indicador é a média ponderada dos índices preço/lucro das ações do indicador. Indicadores não são gerenciados e não se pode investir diretamente neles. Performance passada não é indicação nem garantia de performance futura.

4.  Fonte: Gartner, IC Insight, estimativa da JP Morgan.

5. Fontes: Bloomberg, TechCrunch. Dados até 2016.

6. Fontes: Bloomberg, TechCrunch. Vendas on-line da Black Friday de US$ 3,3 bilhões, da Cyber Monday de US$ 3,45 bilhões e do Thanksgiving de US$ 1,9 bilhões (total para o período de 24 a 28 de novembro de 2016).

Mark Mobius Possui mais de 40 anos de atuação em mercados emergentes em todo o mundo e atualmente é o presidente-executivo da Templeton Emerging Markets Group. Ao longo de sua carreira recebeu diversas premiações, com destaque para uma das 50 pessoas mais influentes do mundo pela revista Bloomberg Markets, em 2011; e uma das 100 pessoas mais poderosas e influentes, pela Asiamoney, em 2006. Formado pela Boston University, é Ph.D. em economia e ciências políticas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).

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