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México é envolvido pelas eleições dos EUA

Mark Mobius apresenta análise do impacto das eleições dos Estados Unidos no México e apresenta as medidas restritivas do banco central mexicano.
Por  Mark Mobius
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O México tem um interesse direto na política e nas políticas econômicas de seu vizinho ao norte, os Estados Unidos, que é também seu maior parceiro comercial. A corrida para a eleição presidencial dos EUA em novembro tem evidenciado várias questões importantes para o México, incluindo as de imigração e comércio, e muitos observadores destacaram a maneira como o movimento do peso mexicano tem agido como uma simulação de pesquisa para a eleição presidencial. Neste artigo, eu compartilho os meus pensamentos sobre essas questões, assim como os desafios e as oportunidades que as empresas baseadas no México enfrentam, conforme percebi durante a minha recente viagem ao país.

Enquanto o banco central dos EUA (Fed) manteve constantes suas taxas de juros, em sua reunião de política monetária de setembro, o banco central do México (Banxico) aumentou sua principal taxa para empréstimos de curto prazo em 50 pontos base, para 4,75%, o terceiro aumento deste ano. O peso mexicano desvalorizou mais de 10% este ano em relação ao dólar norte-americano, algo que o aumento das taxas visa combater. O aumento da taxa de juros mexicana não foi uma grande surpresa, já que sabíamos que havia preocupação com a taxa de câmbio, e o recente enfraquecimento do peso parecia demais para as autoridades aceitarem. Além disso, eles estavam preocupados com a repercussão de uma moeda fraca sobre a inflação. A inflação permanece abaixo da meta de 3%, mas existe a preocupação de que ela possa vir a subir mais para o final do ano. Eu não vejo essa elevação da taxa de juros como sendo dramática e ela provavelmente não irá mover montanhas. Porém, a taxa de 4,75% significa que o México oferece um rendimento atraente para muitos investidores, que estão diante da opção de taxas de juros negativas em outros países.

A política norte-americana e as consequências para o México

O peso mexicano continua a ser negociado perto do seu nível mais baixo de todos os tempos, apesar das ações do Banxico, e isto está sendo visto mais como um efeito colateral do processo eleitoral dos Estados Unidos do que como decorrência de fundamentos específicos no México. Foi reconhecido entre os observadores do mercado — e pelo banco central do México — que a retórica da campanha presidencial dos EUA e as possíveis mudanças de política econômica impactaram o peso. Muitos observadores acreditam que, para a moeda ser negociada a um nível mais razoável, Hillary Clinton precisa vencer, e temos visto o peso subir à medida que as perspectivas de Clinton melhoram em diversas pesquisas. Até o presidente do Banxico, Agustín Carstens, foi citado na imprensa dizendo que uma vitória do Donald Trump seria um “furacão” para o México. Trump tem assumido um posicionamento rígido com relação à imigração, e se comprometeu a construir um muro na fronteira e renegociar ou romper o NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte). Para ser justo, Carstens também disse que uma vitória de Clinton também poderia ser potencialmente turbulenta — por razões diferentes — embora menos problemática para o México.

Da maneira como eu vejo, muito da retórica de campanha dos EUA de ambos os lados não passa de conversa e talvez não resulte em ações políticas. Apesar das manchetes sensacionalistas que temos visto, as declarações dos dois candidatos à presidência dos EUA, em relação ao comércio e aos investimentos, não estão tão divergentes assim em muitos aspectos. Independentemente das declarações sobre um comércio mais restrito, será muito difícil, se não impossível, o comércio entre os EUA e o México ser destruído, uma vez que os laços entre os dois países são muito profundos e, é claro, haverá conselheiros políticos, o Congresso e outros para fornecer potenciais mecanismos de controle.

Na minha opinião, manter o NAFTA, que também inclui o Canadá, é importante tanto para o México quanto para os Estados Unidos. O NAFTA foi uma consequência natural do que ocorria antes dos acordos bilaterais se tornarem populares. Eu vejo um padrão onde, futuramente, os acordos bilaterais, no lugar dos multilaterais, poderão ser mais recorrentes, já que um único modelo simplesmente não serve para todos. Esse poderá ser o caso com os EUA e o México. Se o NAFTA for rescindido, provavelmente será substituído por um acordo bilateral que, no final, talvez não seja tão diferente do atual acordo.

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Reformas e Desafios  

Embora a eleição norte-americana esteja atraindo a atenção dos mercados nos dois lados da fronteira, independentemente do resultado continuaremos procurando oportunidades de investimento no México, focando na perspectiva de “baixo para cima”. Recentemente, viajei para o México, para assistir a uma conferência de finanças com o meu colega baseado no México, Rodolfo Ramos. Como muitas conferências das quais participamos ao redor do mundo, ela nos ofereceu uma maneira conveniente de nos reunirmos com empresas e aprendermos sobre o ambiente local de negócios.

Embora as previsões de crescimento venham sendo revisadas para baixo desde o início do ano, a economia do México tem se saído razoavelmente bem. Existem problemas estruturais e globais em andamento que estão impactando o país, incluindo os baixos preços do petróleo, mas a força que a economia dos EUA vem apresentando deve ajudar o México, uma vez que os EUA são seu maior parceiro comercial e o destino de 80% de suas exportações1.

O México é um mercado emergente muito importante, já que é a segunda maior economia da América Latina depois do Brasil. O país está passando por algumas reformas estruturais nos setores de telecomunicação e energia, que devem ter um impacto positivo na economia, embora o processo nem sempre tenha sido tranquilo. Talvez a reforma mais importante que está ocorrendo seja a abertura do setor de energia no México. Por exemplo, a gigante estatal mexicana de petróleo tem sido a base da receita do governo, mas também um foco de ineficiência e corrupção durante anos. Agora, espera-se que ela concorra e, em alguns casos, faça parcerias com participantes privados. Finalmente, após muita oposição dos sindicatos e outros, o governo percebeu que uma reforma era necessária, e a maneira de reformar foi a venda de ativos para empresas do setor privado, que poderiam gerenciar uma operação mais eficiente. O primeiro leilão de ativos ocorreu em dezembro de 2015, com a Comissão de Hidrocarbonetos concedendo vários campos. Foi um desafio imaginar como abrir o setor de petróleo e garantir que os investidores privados tivessem incentivo suficiente para fazer os investimentos necessários para produzir petróleo.

Os preços mais baixos do petróleo impactaram o México, uma vez que o governo tem dependido das receitas da estatal de petróleo para suprir uma grande parte de seu orçamento, e os gastos com infraestrutura no futuro poderão permanecer limitados caso os preços do petróleo permaneçam fracos. Embora os preços baixos do petróleo tenham reduzido parte da renda do governo, as receitas de impostos não relacionadas ao petróleo aumentaram substancialmente, anulando parte da queda das receitas do petróleo. Além disso, os custos de transporte caíram, e deve sobrar mais dinheiro nos bolsos dos consumidores à medida que o mercado se torne mais liberalizado.

Além da reforma no setor de petróleo, o governo também iniciou uma reorganização do setor de telecomunicação. O uso do “wireless” ainda está abaixo do nível de vários países da América Latina e esperava-se que, ao permitir mais concorrentes no mercado, as instalações seriam expandidas e os preços cairiam o suficiente para permitir que as telecomunicações, especialmente os serviços voltados à Internet, se tornassem mais acessíveis.

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Porém, alguns dos planos do México para a reforma foram prejudicados pela queda da popularidade do presidente Enrique Peña Nieto, que tem sido culpado por não tomar maiores medidas para combater o aumento da violência e da corrupção no México. O escândalo de corrupção chamado de o escândalo da “casa branca” envolveu uma empresa de construção que havia dado um empréstimo para a esposa do presidente, para comprar uma luxuosa mansão branca. Essa mesma empresa de construção tinha um enorme contrato para construir um trem de alta velocidade na parte central do México. A última ação impopular de Peña Nieto foi sua reunião com o candidato presidencial dos EUA, Donald Trump, no final de agosto, que para muitos observadores foi um desastre de relações públicas para o México.

Analisando o panorama de investimento

Rodolfo e eu tivemos a oportunidade de nos reunirmos com executivos de várias empresas do México, incluindo um importante fabricante de autopeças. Com um grande setor de manufatura automotiva no México focado em exportações (principalmente para os EUA), a necessidade de peças de qualidade é alta. A empresa se especializa em componentes de alumínio, e acredita que se as vendas automotivas nos EUA permanecerem estáveis ou aumentarem levemente, eles devem conseguir obter bons resultados.

Outra empresa que visitamos foi uma operadora de estradas pedagiadas, que desenvolve, mantém e opera concessões de estradas em uma região com o mais congestionado tráfego do México. Os executivos disseram que continuam obtendo um bom crescimento, e seus contratos têm um clausula de retorno garantido, que permite aumentos de preços ou uma prorrogação do prazo da concessão, o que é favorável. Porém, existem algumas nuvens no horizonte, uma vez que a empresa está sendo investigada pelas autoridades por improbidade contábil.

Na área de produtos de consumo, visitamos uma das maiores fabricantes de cerveja e refrigerantes do país, que também tem uma rede de lojas de conveniências bem sucedida e está expandindo para postos de gasolina, entre outras áreas. A empresa é um exemplo de como as companhias mexicanas vêm expandindo seus mercados, não apenas localmente, mas também no restante da América Latina e até na Ásia, por meio da aquisição estratégica de outras empresas. Os executivos citaram o lento crescimento econômico do México como um desafio, mas falaram que sua marca inspira confiança entre os consumidores, e que eles planejam colocar uma ênfase na qualidade.

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Também nos reunimos com os executivos de uma empresa líder em telecomunicações, que fornece serviços de telefonia fixa e Internet no México. Com a entrada de novos concorrentes no setor, sua estratégia é focar na lucratividade por meio do controle rigoroso dos custos de aquisição de clientes. Um aspecto interessante desse setor, no México, é o aumento de fornecedores de equipamentos de telecomunicações chineses que estão entrando no mercado. Um executivo nos falou que se eles tivessem problemas, mandariam vir um exército de técnicos chineses para resolvê-los.

Outra empresa que visitamos foi um fabricante de produtos alimentícios de consumo, e a visão deles foi um pouco mais pessimista. Os executivos acreditam que a principal explicação para os fortes dados de vendas “same-store” nos últimos meses é a expansão do crédito. Os executivos citaram também que as vendas no varejo têm sido impulsionadas pelas remessas de mexicanos que trabalham fora do país. Esse fluxo de capital pode também ser impactado pela política dos EUA. Trump já propôs confiscar parte dessas remessas para construir um muro na fronteira com os EUA. Isso poderia ser bastante prejudicial para o México, uma vez que as remessas representam mais de US$ 22 bilhões que entram no México, mais de 2% do PIB2.

No dia da eleição norte-americana, em novembro, podemos ter certeza de que o México estará assistindo!

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1. Fonte: Departamento de Estado dos EUA, baseado em dados de 2013.

2. Fonte: Banco Central do México, até julho de 2016.

Mark Mobius Possui mais de 40 anos de atuação em mercados emergentes em todo o mundo e atualmente é o presidente-executivo da Templeton Emerging Markets Group. Ao longo de sua carreira recebeu diversas premiações, com destaque para uma das 50 pessoas mais influentes do mundo pela revista Bloomberg Markets, em 2011; e uma das 100 pessoas mais poderosas e influentes, pela Asiamoney, em 2006. Formado pela Boston University, é Ph.D. em economia e ciências políticas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).

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