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Bull Market – hora de repensar as posições

Enquanto o controle de risco sai pela porta dos fundos e o medo de ficar de fora (FOMO – fear of missing out) reina, estamos vendo o maior apetite por risco dos últimos anos, justamente quando as Bolsas no mundo inteiro batem recordes dia após dia. Já que a maioria dos participantes do mercado não está usando controles de riscos adequados (na nossa opinião, claro), é imperativo que sejamos ainda mais criteriosos na nossa alocação de recursos.
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

  1. O final de semana foi marcado por alguns negócios multibilionários. A farmacêutica francesa Sanofi anunciou que está comprando a belga Ablynx por US$4,8 bilhões em dinheiro, um valor quase 50% superior ao oferecido pela Novo Nordisk, no dia 7 de janeiro.

A Dr Pepper também recebeu uma proposta de compra de 87% de suas ações pela JAB Holding, em um negócio de US$18,7 bilhões. Os bonds da JAB vencem entre 2021 e 2028 e apontam yields entre 0.42% e 1,73%.

Bom, se isso não for um bull market, não sabemos o que é. Preços absurdos financiados por uma taxa de juros extremamente baixa levam a valuations estratosféricos. A turma dos bancos de investimento está aproveitando o que parecem ser momentos de euforia no mercado. Lembranças de 1999 não param de aparecer.

E essa euforia no mercado de fusões e aquisições não é somente o que está preocupando. Criptomoedas, Bolsas, bonds, obras de arte e o mercado imobiliário, especialmente o de altíssimo padrão, estão nas alturas.

A Argentina, país que entrou em default 8 vezes desde a sua independência, 5 vezes no último século, sendo a última há menos de 4 anos, emitiu há poucos meses US$2,75 bilhões em bonds de 100 anos a um yield de cerca de 8% ao ano. A Tesla, empresa do polêmico Elon Musk, que queima bilhões de dólares todos os anos, emitiu também há poucos meses quase US$2 bilhões a uma taxa abaixo de 6% ao ano.

Falando do mercado acionário especificamente, o índice Shiller PE, que mede o Preço/Lucro do S&P 500 usando o lucro dos últimos 10 anos, para refletir o ciclo econômico, atingiu o segundo maior nível da história. E como as empresas têm conseguido aumentar seus lucros com uma certa frequência? Os executivos das empresas têm conseguido bater metas (baixas), graças às recompras de ações no mercado. Com a taxa de juros baixa, as empresas emitem dívida a um custo baixíssimo e usam os recursos para recomprar suas próprias ações, aumentando o Lucro por Ação (LPA) e, consequentemente, o preço das mesmas.

Com isso, todos ficam felizes: os executivos recebem bônus maiores, os acionistas veem seu patrimônio aumentar e os bankers são agraciados com mais deals. Infelizmente, essa é a mentalidade de curto-prazo. Ao expandirmos o raciocínio para o longo prazo constata-se que esse conflito de agência é autodestrutivo.

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Em vez de usar os recursos disponíveis a juros baixos para aumentar a própria produtividade, se modernizar, desenvolver novos produtos e contratar pessoal qualificado, as empresas simplesmente recompram suas ações. Afinal, por que correr riscos se elas conseguem adquirir suas próprias ações a um custo muito baixo e, com isso, bater as metas?

Temos dito que, apesar de, no papel, o QE (afrouxamento quantitativo) parecer inflacionário, ele é, na verdade, deflacionário. Agora, na nossa opinião, veremos o outro lado da moeda, na mediada em que os Bancos Centrais começam a diminuir o ritmo da expansão monetária, o que deve gerar inflação. Isso, porque as empresas não terão a facilidade que tiveram nos últimos anos para “bater” as metas. Agora sim, as empresas terão que atuar na economia real e investir em produtividade para poder continuar à frente. E isso é inflacionário.

Enquanto o controle de risco sai pela porta dos fundos e o medo de ficar de fora (FOMO – fear of missing out) reina, estamos vendo o maior apetite por risco dos últimos anos, justamente quando as Bolsas no mundo inteiro batem recordes dia após dia. Já que a maioria dos participantes do mercado não está usando controles de riscos adequados (na nossa opinião, claro), é imperativo que sejamos ainda mais criteriosos na nossa alocação de recursos.

O yield do título de 10 anos do tesouro dos EUA já passou dos 2,70%, o dólar americano está caindo e as pessoas preferem ignorar. A música está parando de tocar, mas ninguém quer sair da festa ainda. Falamos a mesma coisa em 1999 e 2006 e, apesar de termos tocado o apito cedo demais, nos protegemos dos maiores crashes das últimas décadas. Achamos melhor sair do jogo 2 anos antes do que 5 minutos depois.

Os sinais da bolha estão todos aí, sem exceção. Euforia nos mercados, deals multibilionários, recorde nas Bolsas e FOMO. Como disse Warren Buffett, devemos ser medrosos quando todos são gananciosos e gananciosos quando todos são medrosos. Obviamente esse conselho é mais fácil de ser dito do que seguido.

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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