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Crash à vista: hora de se preparar

Muitos economistas insistem em dizer que a economia norte-americana está crescendo de vento em popa, que os estímulos fornecidos pelo Federal Reserve (FED) têm dado resultado e que o próximo passo é uma situação de Goldilocks - tudo perfeito e sob medida. Em outras palavras, acreditam que a economia não está aquecida demais a ponto de causar inflação e nem arrefecida demais a ponto de gerar deflação. Mas será que isso é verdade?
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Muitos economistas insistem em dizer que a economia norte-americana está crescendo de vento em popa, que os estímulos fornecidos pelo Federal Reserve (FED) têm dado resultado e que o próximo passo é uma situação de Goldilocks – tudo perfeito e sob medida. Em outras palavras, acreditam que a economia não está aquecida demais a ponto de causar inflação e nem arrefecida demais a ponto de gerar deflação.

Vimos a Bolsa de Valores e o preço dos imóveis para os super ricos de lá subindo, e achamos que está indo tudo bem realmente. Infelizmente, na nossa opinião, isso é apenas uma ilusão.

Em 2006, o preço dos imóveis também estava em alta, assim como as Bolsas de Valores, e os economistas, os mesmos que agora dizem que hoje está tudo bem, diziam que era a economia dos Goldilocks.

Não conseguimos ver diferença entre a economia dos EUA em 2006 e a de hoje, exceto pelo tamanho da encrenca.

Os mesmos problemas que causaram a crise em 2008 estão aí hoje, só que bem maiores. A economia dos EUA naquele período estava crescendo devido aos estímulos do FED, mas não era um crescimento sustentável.  Dinheiro barato induziu muitos a fazer investimentos bem aquém de razoáveis, o que propiciou o surgimento de uma bolha na economia. Deparamo-nos com as nefastas consequências desta política de crédito farto a juros baratos no estouro da bolha, em 2008.

Hoje, o dinheiro está ainda mais barato e o crédito ainda mais abundante. Os EUA conseguiram se safar das consequências daquela crise, porque o mundo inteiro correu para o dólar americano, o que manteve a moeda forte, os juros baixos e a inflação sob controle, apesar de termos presenciado o maior programa de estímulos que uma economia já viu (vale a pena mencionar que os estímulos no Japão foram proporcionalmente maiores, embora tenham sido monetariamente menores).

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Dessa vez, não há garantias de que o mundo vai correr para o dólar uma vez mais — e o perigo para a economia norte-americana pode estar justamente aí. Começamos a ver mais e mais transações internacionais entre países com moedas que não incluem o dólar americano (vide China e Rússia, Austrália e China etc).

Para sair do programa de QE (Quantitative Easing, ou afrouxamento quantitativo), a então presidente do FED, Janet Yellen, afirmou que continuaria a subida da taxa de juros por mais alguns anos. Lembrando que foi a subida da taxa de juros que causou o estouro da bolha da internet nos anos 2000 e a dos imóveis em 2007/08.

A verdade é que isso não ocorrerá e o FED não tem estratégia de saída plausível. Como já dizia Einstein, “a definição de loucura é fazer a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes”.

Já nos esquecemos dos anos antes da crise de 2008, quando o presidente do FED à época, Alan Greenspan, baixou os juros para 1% ao ano visando estimular a economia, pós-estouro da bolha da internet nos EUA.

Em 2004/05, a estratégia de saída do FED foi subir os juros devagarzinho, para não acabar com a recuperação da economia, ou seja, exatamente a mesma coisa que está sendo feita agora. Em 2008, quando a taxa de juros chegou a pouco mais de 5%, vimos o que aconteceu. Vale lembrar que a maioria dos empréstimos podres feitos pelos bancos foi realizada no período de 2006-07; se o FED tivesse sido rápido para subir os juros, a crise de 2008 não teria sido tão ruim.

Hoje a economia dos EUA está viciada em estímulos. O que deveria ter sido uma ajuda temporária se transformou em algo constante, como uma droga. Agora a economia não consegue viver sem eles e precisa cada vez mais estímulos para se manter “saudável”.

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Na verdade, a economia não vai melhorar enquanto a taxa de juros for tão baixa. Os japoneses estão fazendo isso há 20 anos e não há sinal de melhora naquele país também. Há pouco, anunciaram um programa de afrouxamento quantitativo lá ainda maior em termos proporcionais que o dos EUA. É como tentar quebrar uma faca dando murros em sua ponta; quando não se consegue, dão-se murros mais fortes ainda.

Por isso, achamos que não haverá um fim definitivo à vista para os QEs (embora já não existam mais nos EUA, acreditamos que devam voltar): quanto mais estímulos são dados, pior será a crise quando os juros subirem. E eles vão subir! Ou eles sobem agora e descarrilam de vez a economia norte-americana ou subirão depois e as consequências serão catastróficas.

E por que os juros subiriam?

Acreditamos que eventualmente a inflação aparecerá: o governo tem feito um trabalho espetacular (aliás, isso não é só mérito do governo dos EUA, mas de vários outros, incluindo o nosso) de mascarar a inflação, mas quem tem que sair e fazer compras sabe que a inflação não é tão pequena assim.

Estamos vendo um crescimento robusto na economia dos EUA ajudado por índices de inflação muito baixos e deflator pequeno. Há quem ache que eles já estão em recessão e que se a inflação fosse medida corretamente, isso viria à tona. Sem falar na curva de juros, cuja inclinação já está diminuindo – lembrando que, quando a curva de juros se inverte, ou seja, os vértices mais longos têm taxas menores que os vértices mais curtos, tem-se um forte indício de recessão. Imagina o país em recessão com taxa de juros real negativa? O problema seria gravíssimo.

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Mas divagamos. Voltando à inflação, acreditamos que quando não der mais para o governo mascarar a inflação, os juros terão que subir e aí essa bolha será furada. Só que o problema será maior, já que mais pessoas compraram casas com hipotecas que serão reajustadas, vários bancos estão atolados em títulos públicos americanos (que caem quando os juros sobem) e o próprio FED, maior detentor de títulos americanos, sofrerá um grande prejuízo. E quem irá resgatar o FED, especialmente depois da operação twist, em que o FED alongou o perfil da sua dívida? Um aumento significativo na taxa de juros seria fatal.

Por isso, recomendamos cautela aos investidores. Parafraseando Howard Marks, só porque precisamos de rentabilidades maiores, não quer dizer que o mercado vai nos atender. Agora não é hora de aumentar os riscos na tentativa de manter retornos. Agora é hora de cautela para aproveitarmos as barganhas que virão.

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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