Sem dinheiro e sem bom senso.
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Um dos cuidados que tomo ao estar em local público é falar baixo e evitar nomes, não apenas por uma questão de segurança, mas também pela privacidade, afinal de contas, as paredes têm ouvidos.
Nessa semana achei muito interessante um pequeno texto que li nas redes sociais.
Uma prima minha fora almoçar sozinha e em meio ao silêncio de seus pensamentos, surgiu uma conversa na mesa ao lado, que foi por ela assim relatado:
Um casal, pai e mãe, sentados lado a lado e o filho aparentando uns 30 anos de idade, à frente dos dois, discutiam a respeito da namorada do rapaz.
(Mãe) – Eu falei pra Cláudia. Já que ela veio até aqui para comprar as coisas para o cabelo, que levasse mais para revender e já fazia um dinheirinho extra.
(Filho) – Mas mãe, ela já disse que não quer virar sacoleira, tem vergonha do que as amigas vão dizer.
(Mãe) – Vergonha ela deveria ter de ficar encostada em você. Na condição de desempregado, não deveria ficar pagando essas coisas para ela. Eu nunca dependi do dinheiro do seu pai, sempre fui independente! E outra, precisa gastar tudo isso só com o cabelo?
(Pai) – E você recusou um trabalho bom em Goiânia só porque a Cláudia não quis ir. Era uma boa vaga filho. O país está em crise e não está fácil, nem para você que é engenheiro.
(Filho) – A Cláudia disse que eu não a tirei de casa para passar necessidade, então é minha obrigação pagar as contas da casa.
(Pai) – Mas atrasar o aluguel para ela gastar dinheiro em salão de beleza e Shopping Center, meu filho? Por um acaso o cachorro precisa daquelas roupas?
(Mãe) – Não vou nem comentar sobre isso!
(Filho) – Poxa, mas o Thor fica tão estiloso!
Infelizmente o relato termina aqui, pois a minha prima não se aguentou e caiu na gargalhada. Mudou de lugar.
Trouxe esse diálogo para refletir sobre alguns pontos.
O primeiro deles é que as pessoas parecem ter vergonha de empreender, de começar pequeno.
A impressão que eu tenho é que o brasileiro busca fortuna como se ela viesse em um passe de mágica e isso talvez explique tanta gente fazendo a sua fezinha nas casas lotéricas.
O único problema em comprar produtos para revender, conforme sugerido pela mãe no diálogo, é tratar-se de uma atividade comercial informal.
O segundo ponto que levanto é o enraizamento do brasileiro: em meio à crise, um jovem sem filhos poderia conhecer outro Estado e aceitar a oportunidade de trabalho oferecida. Não sugiro uma mudança definitiva, mas aceitar a ideia de que mudanças podem ser positivas.
O terceiro e último ponto que desejo colocar em discussão é a decisão tomada de postergar o pagamento do aluguel para a aquisição de mais roupa para o cachorro e produtos caros para os cabelos da namorada, considerando especialmente a condição de desempregado do rapaz.
Escolhas sempre serão pessoais, mas quantas outras pessoas será que andam por aí vivendo fora de sua realidade e capacidade financeira, devedoras, desempregadas (ou não), mas não abrindo mão de supérfluos?
Infelizmente, parece que a falta da educação financeira traz com ela também a falta de bom senso.