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Argentina sobre rodas

O risco é algo interessante. Ele aparece inicialmente bem pequenininho e vai crescendo aos poucos, até que dispara de uma vez, causando um comportamento de manada e trazendo consequências desastrosas. Exemplos não faltam. A Argentina, nosso vizinho, está com grandes problemas. E esses problemas estavam aí no ano passado, quando eles emitiram os bonds de 100 anos e eram os queridinhos do mercado. Mas não estou escrevendo para falar do país Argentina, estou escrevendo para falar sobre a Argentina sobre rodas, ou Tesla, como preferirem.
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O risco é algo interessante. Ele aparece inicialmente bem pequenininho e vai crescendo aos poucos, até que dispara de uma vez, causando um comportamento de manada e trazendo consequências desastrosas.

Eu associo o movimento a uma sala de teatro onde se encontram várias pessoas. Primeiro uma pessoa se levanta e sai correndo do auditório. Ninguém presta muita atenção, somente alguns comentários engraçados sobre a pessoa que saiu correndo. Logo em seguida, outras 5 pessoas se levantam e também saem correndo. O público começa a ficar apreensivo. Momentos depois, 30 pessoas se levantam e saem correndo. Como ninguém quer ficar para tentar descobrir o motivo, todos se levantam e saem correndo ao mesmo tempo, causando caos e acidentes, ainda que não saibam o porquê.

Exemplos não faltam. A Argentina, nosso vizinho, está com grandes problemas. E esses problemas estavam aí no ano passado, quando eles emitiram os bonds de 100 anos e eram os queridinhos do mercado. Em agosto do ano passado eu ainda escrevi sobre isso (aqui) e avisei que, apesar de todo o mercado gostar e ignorar os problemas, eles estavam aí. Também dei entrevistas na televisão em dezembro do ano passado e março desse ano avisando que os investidores iriam ter problemas porque a Argentina é um país quebrado.

Não é coisa nova o que está acontecendo na Argentina e foi muito fácil prever. Mas ninguém prestou atenção aos avisos. A grande verdade é que os riscos nunca importam, até o dia em que eles de repente começam a importar. Daí se tornam a coisa mais importante do mundo!

A queda assustadora na moeda argentina, que chega a quase 40% esse ano, pegou muita gente de surpresa. Apesar dos investimentos astronômicos da Franklin Resources em maio e do maior programa de ajuda financeira do FMI na sua história esse mês, o peso não parece encontrar o fim do poço.

Mas não estou escrevendo para falar do país Argentina, estou escrevendo para falar sobre a Argentina sobre rodas, ou Tesla, como preferirem.

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A empresa do fanfarrão Elon Musk é a queridinha do mercado e vale mais do que a Ford ou General Motors, que vendem 100 vezes mais carros que ela. Além do mais, Ford e GM (como várias outras montadoras) são lucrativas e pagam dividendos, coisas que a Tesla ainda não foi capaz de fazer.

Muitas pessoas acham que carros elétricos são o futuro. Eu também acho! Mas nem por isso gosto de Tesla.

Começando pelo CEO, que teve a sorte de estar no Paypal juntamente com Peter Thiel e acabou levando a fama de visionário. Certamente ele tem uma visão de como quebrar empresas. Não fosse por Thiel e outros, que o expulsaram do Paypal, essa empresa nem existiria hoje. O próprio CFO da Paypal na época disse isso.

Além da péssima administração que Musk exerce na Tesla, suas atenções estão divididas com empresas como a Boring Company, SpaceX , Neuralinks dentre outras. Apesar disso, o Conselho da Tesla (que está longe de ser imparcial e focar nos acionistas) aprovou há alguns meses o que poderá se tornar a maior remuneração para um CEO da história. A história de Musk na Tesla é marcada por mentiras absurdas (pelas quais ele já está sendo processado), acidentes fatais causados pelo que deveria ser o diferencial da empresa, o piloto automático, e tweets inimagináveis para um CEO de empresa incitando o mercado a ir contra os shorts (pessoas que vendem a ação a descoberto). Será que a Tesla não tem problemas suficientes para mantê-lo ocupado? Vamos ver…

A Tesla realmente precisará de mais capital para sobreviver, apesar das inúmeras declarações de Musk de que a empresa não precisará. Aliás, ele é famoso por mentir. Não vou mencionar o processo atual em que ele está sendo julgado, levado adiante por ex-empregados, sobre as várias mentiras ditas por ele sobre o Model 3 e a sua produção.

Mas vou mencionar algumas. Em junho de 2009, Musk anunciou que a Tesla iria se tornar lucrativa a partir do próximo mês. Em fevereiro de 2016, ele disse que a Tesla não dá descontos para ninguém, mas a verdade é que a Tesla tem um programa de descontos para indicações. Mas a mais impressionante de todas foi dita em fevereiro de 2012, quando ele disse que a Tesla não precisaria mais levantar capital para sobreviver. Bom, vou até escrever abaixo os capital raisings, porque a lista é grande.  

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Setembro 2012: US$195 milhões

Maio de 2013: US$913 milhões

Fevereiro de 2014: US$2 bilhões

Agosto de 2015: US$652 milhões

Maio de 2016: US$2 bilhões

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Março de 2017: US$1.4 bilhões

Agosto de 2017: US$1.8 bilhões

E muitos mais ainda virão, se o mercado assim aceitar e se a SEC (a CVM norte-americana) deixar. Digo isso, porque, na minha opinião, a Tesla está sendo investigada pela SEC – e é só por isso que ela ainda não levantou mais capital esse ano, haja vista que empresas sob investigação não podem fazer emissões públicas.

A empresa não consegue gerar lucro apesar dos incentivos do governo (US$7.500 por veículo) e do fato de ela não ter concorrentes… até agora. Imagina o que acontecerá com as vendas da Tesla quando os concorrentes realmente chegarem. A Jaguar está lançando agora o i-pace, um carro maravilhoso. Ano que vem será a vez da Audi, da Porsche e da Mercedes. Depois virão Toyota, Seat, Renault, BMW, GM, Volkswagen, Austin Martin, Volvo, etc… Com um detalhe: essas empresas são lucrativas e tem recursos para investir, não precisam ir ao mercado captar dinheiro por meio de dívida ou mais diluição emitindo ações para se manter. E é bom lembrar que o mercado financeiro “fecha” de tempos em tempos. Aí será bye bye Tesla.

E as más notícias não param por aí. Vários executivos estão saindo da empresa e deixando muito dinheiro para trás. O último deixou uma remuneração potencial de US$8 milhões! Isso por si só já te diz muito sobre o que um insider pensa da empresa. Eu não vejo um êxodo como esse desde a Worldcom, empresa com um fim triste e CEO na cadeia.

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Bom, os avisos estão aí, mas ninguém quer sair do teatro. 5 pessoas já saíram correndo pela porta. Quem será o último?

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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