Um dos melhores gestores do Brasil lança fundo acessível a pequeno investidor

Marcio Appel construiu nos últimos 20 anos a reputação de ser um dos melhores investidores do Brasil lucrando mesmo quando o mercado só cai; ele acaba de abrir a própria empresa e lançou um fundo em que buscará manter seu histórico de retorno de CDI + 7% ao ano

João Sandrini

Márcio Appel, sócio fundador da Adam Capital

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(SÃO PAULO) – O mais frustrante para quem decide investir por meio de fundos é que, via de regra, os melhores produtos estão quase sempre fechados para novos aportes ou exigem uma aplicação inicial mínima de milhões de reais – duas barreiras que acabam sendo intransponíveis para a maioria dos brasileiros. Esse é o caso dos multimercados mais bem-sucedidos do Brasil, como o fundo Verde e o SPX Nimitz. A explicação é um pouco óbvia: se um gestor se destaca e consegue apresentar consistentemente lucros muito acima da média do mercado, todo mundo vai querer dar o próprio dinheiro para ele administrar. E logo o gestor que alcança essa condição começa a escolher os clientes, priorizando os mais endinheirados e aqueles com visão de longuíssimo prazo. Nesse contexto, o lançamento do fundo Adam Macro FIC de FIM pode ser considerado uma rara oportunidade para pequenos investidores. O fundo tem como principal gestor Marcio Appel, de 43 anos, que foi o CEO da área de gestão de fundos em grandes bancos como o Santander – clique e veja as gestoras que ele comandou. 

Appel conseguiu ganhar dinheiro de forma consistente ao longo dos últimos 20 anos, surfando ciclos econômicos bastante distintos. O fundo carro-chefe da gestora onde ele trabalhou nos últimos sete anos obteve um retorno de CDI mais 7% ao ano – exatamente o mesmo rendimento que ele espera obter com o Adam Macro FIC de FIM. É lógico que ninguém ganha isso sem correr riscos e Appel admite que seu produto não é para investidores muito conservadores. A volatilidade de seu novo produto deve ser parecida com a do Verde e do Nimitz. “Já fiquei nove meses sem ganhar nada. Em renda variável, não tem como ganhar muito sem perder às vezes.”

O Adam Macro vai ser distribuído para clientes milionários e investidores institucionais nos maiores bancos de investimento brasileiros, mas também chega ao varejo para clientes da XP, a maior empresa independente de investimentos do Brasil. Na XP o fundo tem aplicação inicial mínima de R$ 50.000, cobra taxa de administração de 2% ao ano mais taxa de performance de 20% sobre o exceder o CDI e permite resgates apenas 30 dias após a solicitação. Como o fundo só investe em ativos extremamente líquidos, pode captar muito dinheiro sem precisar fechar para novos aportes. “Podemos rodar nossa estratégia com R$ 10 bilhões em patrimônio. Já geri fundos maiores que isso”, diz Appel.

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O fundo pode investir em juros, moedas ou índices de ações no Brasil, nos EUA, na Europa, no Japão ou nos principais emergentes. A estratégia pode ser comprada ou vendida, mas sempre de longo prazo. “Tento prever as marés porque é bem mais fácil que prever as ondas.” A principal posição do fundo será em Bolsa americana por meio de contratos de S&P 500 em reais. Em relação ao Brasil, assim como Luis Stuhlberger, do fundo Verde, considerado o mais bem-sucedido gestor do Brasil, Appel também acha que as ações da Bovespa estão caras e que, após a euforia com o provável impeachment, o país voltará a uma realidade de dificuldade para a implementação de reformas e de baixo crescimento. Mas os dois gestores discordam em relação ao desfecho dessa história. Stuhlberger tem escrito em suas cartas mensais que acha que a fraqueza da economia brasileira deságua em desvalorização adicional do real em relação ao dólar. Já Appel acredita que o setor externo já está “razoavelmente saudável” e que o crescimento pífio do PIB levará um processo desinflacionário que está em curso. O próximo passo seria uma forte queda dos juros reais. É por isso que a segunda maior posição de seu fundo será nos títulos do governo brasileiro atrelados à inflação com os vencimentos mais longos, as NTN-B 2055.

Leia a seguir os principais trechos de entrevista exclusiva de Appel ao InfoMoney e de palestra que o gestor fez na última terça-feira a clientes da XP:

Economia brasileira

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O Brasil vai passar por uma razoável desinflação. Vamos sair de uma inflação de quase 11% no ano passado para 7% neste ano e já tem gente que acha que chega a 4,5% em 2017. Os juros vão acompanhar e cair, mas o PIB não vai crescer. Vamos bater no fundo do poço neste ano e depois vai ser 1% a 1,5% ao ano. O Brasil vai ficar muito parecido com o resto do mundo, com juro baixo e crescimento baixo.

Calote

Um calote em moeda local não é usual. O Brasil não tem nada a ver com a Grécia, que devia em euros, mas não podia emitir euros. Já o Brasil pode emitir a própria moeda. Acho muito distante a possibilidade de haver um calote na canetada. Já o calote pela inflação não é incomum, mas também não é fácil [nesse caso o próprio governo tomaria medidas para aquecer a inflação de forma que houvesse um ajuste fiscal]. O déficit público atual é resultado de uma frustração da arrecadação. O governo perdeu receitas porque a atividade privada desabou. A redução da demanda é desinflacionária e seria ainda mais desinflacionária se o governo também cortasse despesas. Mesmo que o gasto público permaneça alto, o conjunto da obra é desinflacionário. O governo precisaria gastar muito para gerar inflação. E acabamos de ver que o governo não consegue passar uma LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] no Congresso com mais aumento de déficit. É por isso que também acho remoto o calote inflacionário.

NTN-B 2055

Gosto muito do investimento em NTN-B 2055. O fundo larga 25% alocado nesse papel. Achamos que o juro real tem que cair para 3% ou 4% ao ano no longo prazo, independentemente de haver ou não impeachment. O impeachment e a repatriação de recursos na verdade seriam um bônus para essa estratégia, mas não é por isso que compramos NTN-B. Quando comecei a falar em queda de juros todo mundo me achou louco, mas não era eu que estava otimista demais. Era todo mundo que estava vendo um país “walking dead”. A atividade econômica está um desastre e isso vai trazer a inflação para baixo. Se houver uma boa equipe econômica, a inflação e os juros vão cair mais ainda. Se além disso também houver enxugamento da máquina pública, seria ainda mais bem-vindo. Agora é mais fácil fazer impeachment do que tomar medidas impopulares, como CPMF, reforma da previdência, reforma trabalhista e desvinculação de receitas orçamentárias. No Brasil as pessoas gostam de alegria de curto prazo que levam a tristezas de longo prazo. Acho que o fato de o Brasil não fazer grandes melhoras do ponto de vista fiscal não impedirá o país de baixar o juro real. Muitos países têm uma situação fiscal ruim, mas o juro é baixo. O juro se dá majoritariamente em função da dinâmica inflacionária, e não pela perda do grau de investimento ou pela deterioração das contas públicas. A gente já precisou de um juro real de 8% a 10% ao ano para manter o crescimento de 2% a 2,5% compatível com a inflação na meta. Hoje talvez nem com um juro real de 3% a gente tenha um crescimento de 2,5%.

Bolsa americana

A maior posição do fundo será um investimento em Bolsa americana em reais, que vai absorver 40% do patrimônio. Essa posição rende a variação percentual positiva ou negativa do S&P 500 [principal índice de ações dos EUA] mais o CDI. Estou comprado nisso desde 2012, mas acho que a posição ainda está longe do objetivo. O atual nível de atividade americana já suportaria um S&P 500 muito mais alto. Mesmo em tendência de alta desde 2009, o S&P 500 deveria se valorizar mais cerca de 50% nos próximos anos. A maioria das pessoas acha que os juros vão subir nos EUA e a Bolsa vai cair, mas a história não mostra isso porque os juros sobem lá quando a economia está forte. Nos EUA é muito comum vermos movimentos de alta da Bolsa com alta de juros.

Dólar

Até alguns meses atrás tive uma grande posição em dólar. Mas quando a moeda americana chegou a R$ 3,85, passei a duvidar que tivesse força para render mais que o CDI. O setor externo está razoavelmente saudável devido ao colapso da demanda doméstica. Quanto maior a crise do mercado interno, menor a demanda por dólar. Eu ainda não compraria dólar no preço atual. Compraria a R$ 3,20? Talvez. Mas se a economia estiver muito ruim, ainda assim não sei se compraria. Aconteceu um movimento mundial de valorização do dólar no ano passado, mas acho que esse movimento chegou perto do fim. Tanto que estou começando a montar uma posição de euro contra dólar. Os preços mundiais das moedas já são baseados num cenário de economia americana mais forte e de aumentos graduais dos juros nos EUA. Acho que o dólar só continua se valorizando se houver uma expansão monetária ainda mais forte no Japão e na Europa. Só que os dados econômicos europeus têm se mostrado um pouco melhores. Um pouco dessa posição de euro contra dólar é resultado da provável redução da heterodoxia que vimos nos últimos tempos na Europa. É como se a gente houvesse comprimido uma mola. Houve uma compressão do euro, mas à medida que essas forças forem aliviadas o euro vai ter uma volta mais expressiva. Já o aumento de juros nos EUA já está no preço e vai ser raso, com uma taxa terminal baixa comparada com as históricas.

Bovespa

Não tenho dinheiro investido em ações na Bovespa. E estamos estudando ficar vendidos. Nos últimos 20 anos a Bolsa brasileira perdeu para a renda fixa. O Brasil é um dos poucos países onde a Bolsa não paga prêmio de risco. Os preços dos ativos não corrigem o suficiente para se ajustar à taxa de juros pagando prêmio sobre ela. Um bom “hedge” para qualquer fundo é ficar vendido em Bovespa. Se houver a queda dos juros reais no Brasil como eu espero, acho que esse movimento não vai beneficiar a Bolsa devido à fraqueza econômica. Se você olhar os múltiplos de vários setores da Bolsa, estão muito acima do que deveriam estar dada a fraqueza da economia. Não significa que porque os juros vão cair a gente vai ter uma melhora da Bolsa. Estou esperando um bom momento para entrar vendido. O Brasil está muito pouco alocado nos portfólios dos gestores globais. Tenho medo que uma melhora no cenário político leve a uma alta de curto prazo que gere prejuízo para o fundo. Então prefiro que a gente tenha um cenário de euforia maior para depois entrar vendido.

Reformas no Brasil

O Brasil precisa abrir a economia. Essa é a única forma de aumentar a demanda por dólar sem gerar inflação. O Brasil precisa se integrar a uma cadeia global de mercados. Fechados seremos sempre um exportador de commodities com real sobrevalorizado. País emergente que prospera é com economia aberta – ou então é como querer fazer o carro andar com uma roda quadrada. O problema é que a abertura comercial não está nem no radar.

Trump

A eleição nos EUA não me preocupa. O presidente não faz muita diferença lá. Uma das poucas coisas que um presidente americano pode fazer sem o aval do Congresso é uma guerra. Fora isso o poder do presidente é muito limitado. Se ganhar, Donald Trump vai enfrentar muita resistência de seu próprio partido, o Republicano, para aprovar qualquer coisa. Então vejo a eleição americana mais como um ruído.

Economia mundial

O mundo vai continuar a passar por um processo desinflacionário por dois grandes fatores: 1) os custos para a geração de energia estão em queda, inclusive com a energia solar já competitiva em termos de custo; e 2) a evolução da tecnologia vai continuar a reduzir os custos da mão de obra.

Decisão de empreender

O destino final de quem gere recursos é ter a própria gestora. Quando alguém consegue juntar reputação, história e patrimônio, esse vira o caminho. Quero ter uma asset e gerir um fundo macro até morrer. Vou fazer isso porque é o que eu gosto de fazer, morando no Rio de Janeiro.

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