HSBC sofre resgates de R$ 5,7 bilhões no ano; há motivos para fugir?

Com a iminente venda de operações no Brasil, clientes do HSBC correm para resgatar dinheiro de fundos

João Sandrini

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(SÃO PAULO) – Os fundos do HSBC no Brasil sofreram resgates de R$ 5,7 bilhões nos cinco primeiros meses deste ano, segundo a Anbima (a associação de gestores de fundos e bancos de investimento). Apenas em maio, foram R$ 2,250 bilhões em saques. O movimento é claramente influenciado pela iminente saída do banco do Brasil. Os resgates no HSBC podem ser considerados os maiores da indústria brasileira de fundos neste ano se forem excluídos da amostra os fundos do Credit Suisse Hedging-Griffo. Com a criação da Verde Asset, uma cisão do CSHG, R$ 22,1 bilhões saíram do CSHG em direção à Verde. Mas esse caso não é comparável ao do HSBC porque os clientes não pediram o resgate do dinheiro, que só mudou de gestão devido à cisão da empresa em duas, uma controlada pelo suíço Credit Suisse e a outra comandada pelo gestor Luis Stuhlberger. No ranking de resgates neste ano, depois do CSHG e do HSBC aparecem os fundos do BTG Pactual (fuga de R$ 4,756 bilhões neste ano) e do Bradesco (saída de R$ 3,467 bilhões).

Mas os clientes do HSBC têm motivos para fugir? O InfoMoney apresentou essa pergunta à assessoria de imprensa do HSBC duas vezes no último mês, mas o banco preferiu não se manifestar em ambas as oportunidades. Em conversas com especialistas do setor bancário, no entanto, fica claro que não há motivo para a debandada.

Em primeiro lugar, o HSBC não está deixando seus clientes na mão. A unidade brasileira do HSBC deve ser vendida nos próximos dias para um dos três grandes bancos privados brasileiros: Bradesco, Santander ou Itaú. Nas bolsas de apostas do mercado, o Bradesco aparece como favorito. Mas o ativo também é bastante estratégico para o Santander, que corre por fora. O Itaú seria o azarão.

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Independentemente de quem for o comprador, ele herdará todas as obrigações atuais do HSBC com seus clientes brasileiros. É importante notar que o risco bancário para o cliente deverá ser menor após a transação. O HSBC teve um prejuízo de mais de R$ 400 milhões no Brasil em 2014. Já Bradesco, Itaú e Santander estão entre as empresas mais lucrativas do país e só reforçaria seu compromisso de longo prazo com o Brasil após uma aquisição que pode superar R$ 10 bilhões. Então o cliente do HSBC não precisa se desesperar nem achar que o banco pode abandonar no país e levar todo o dinheiro junto. Não vai acontecer.

Em relação aos serviços, o cliente do HSBC também não tem motivos para se preocupar. Os clientes do HSBC costumam avaliar muito bem o internet banking da empresa. O site é inteligente e amigável, permitindo que os clientes consigam realizar operações pela internet sem necessitar de muita ajuda dos gerentes nas agências. No mundo físico, no entanto, o HSBC oferece um serviço mais restrito que os concorrentes na maior parte dos Estados. Em primeiro lugar, há menos agências que do Itaú, Santander e Bradesco. Se há menos agências, há menos caixas eletrônicos – ou seja, menos comodidade na hora de sacar dinheiro. O contato com o gerente também naturalmente se torna mais escasso quando a distância até a agência é maior.

Um claro sinal de que o banco tem mais dificuldade em atender o cliente é que era obrigado a dar mimos para compensá-lo. Um bom exemplo são a grande quantidade de cartões do HSBC que paga mais de 2 milhas por dólar gasto. Essa conta não fecha para o HSBC, segundo especialistas de mercado. O produto só é oferecido atualmente pare reduzir a diferença de competividade entre o HSBC e os principais rivais.

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Com a venda do HSBC a um rival, no entanto, os clientes tendem a ter acesso a serviços melhores. Em alguns meses, é provável que os cartões e as agências ganhem a bandeira do comprador. Os antigos clientes do HSBC terão a comodidade de ter muito mais caixas eletrônicos e agências a sua disposição. Vale lembrar que os clientes podem exigir a continuidade da prestação dos serviços conforme contratado na época em que o HSBC era o controlador. Mais importante do que nisso, na verdade, é que o comprador tem incentivos para se esforçar para manter os clientes do HSBC porque só assim a aquisição fará sentido. É factível os atuais clientes do HSBC esperarem algo igual ou melhor. “Em aquisições bancárias, o comprador adquire a empresa, mas não os clientes. Então geralmente o cliente continua a ter acesso ao que tinha de bom naquele banco antes da aquisição mais os serviços melhores oferecidos pelo comprador a seus próprios clientes. No final, o cliente do banco comprado geralmente tem vantagens que nem clientes do banco comprador tem”, diz uma alta executiva de um grande banco que já passou por fusões de porte parecido.

Em relação aos investimentos e ao dinheiro depositado em conta corrente, todo esse passivo passa ao comprador. Quando o atual cliente do HSBC quiser sacar o dinheiro que está na conta corrente, o comprador deverá honrar a obrigação e entregar os recursos a ele. O dinheiro que está depositado em CDB ou LCA, por exemplo, também será honrado pelo comprador, que, como dito anteriormente, deverá ter um perfil de crédito melhor que o do HSBC se um dos três favoritos realmente vencer a disputa.

Já os clientes que investem em fundos serão convidados para uma assembleia em que será escolhido os novos gestores e administradores dos fundos. Imagine, por exemplo, que o Bradesco é o comprador. Nessas assembleias o mais provável é que seja aprovado que o Bradesco passe a ser o gestor dos fundos do HSBC. Novamente nada para se assustar.

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Em relação ao crédito, pode haver algum tipo de problema principalmente para os clientes pessoa jurídica. Isso porque empresas costumam ter mais de uma conta bancária. Então imagine que o Bradesco compra do HSBC. Se a empresa tem uma conta no Bradesco em que tem uma linha de crédito pré-aprovada de R$ 1 milhão e tem outra conta no HSBC com outra linha de crédito pré-aprovada de R$ 1 milhão, é provável que, com a fusão dos dois, essa companhia passe a ter apenas uma linha de R$ 1 milhão. “A linha de crédito é aprovada de acordo com o faturamento da empresa. Como o faturamento não cresce com essa operação bancária, é provável que o montante final de crédito seja reduzido. Mas nada impede de, depois de concretizada a operação, a empresa abra outra conta em outro banco se julgar necessário. Não há motivo para se afobar”, diz a executiva de um grande banco.