“FALANDO DE FRANQUIAS” – O INGRATO NEGÓCIO DE CONCESSIONÁRIO DE VEÍCULOS
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Antes de qualquer coisa, peço desculpas à blogueira aqui ao lado: peguei “emprestado” o nome do blog da Lyana Bittencourt para fazer esse texto.
O texto de hoje vai fazer uma análise sobre como andam os negócios em um dos elos mais fracos da cadeia automotiva: o distribuidor (concessionário) de veículos.
Quem acompanha o nosso blog, sabe que há mais de um ano sempre tocávamos na mesma tecla, dizendo que o mercado de veículos neste ano iria se retrair, em média, -2%.
Uma retração no mercado é normal e faz parte da dinâmica do jogo. Porém, como apontamos, mesmo vendendo menos, estamos faturando mais. Até aí, tudo ótimo para o setor.
Bem… se o setor está faturando mais, podemos afirmar – por osmose – que o distribuidor de veículos está também faturando mais, certo?
Erradíssimo!
Como em toda franquia, vamos nos atentar, aqui, apenas ao objetivo final do distribuidor de veículos, que é: DISTRIBUIR/REVENDER VEÍCULOS DA MARCA QUE ELE REPRESENTA. Se ele vende banco de couros, seguros, pneu, bonés ou qualquer outra coisa, não será visto neste momento.
Então, vamos lá!
Vamos pegar a Fiat como exemplo. Para nós, a Fiat registra neste ano (jan/set) retração de -5,2% no seu faturamento, sobre o mesmo período do ano passado. E quanto está o faturamento dos concessionários Fiat? Eles registram queda de faturamento de -10,1%, basicamente o dobro.
Pegando as informações da VW, a vice líder do mercado (provisoriamente), registra retração no seu faturamento de -9%. Já a sua rede de concessionários, registra perdas de -9,6%.
Ok. Vocês podem estar questionando: Pegaram as duas principais marcas do mercado que não fizeram grandes lançamentos nos últimos tempos…
Vou tomar como exemplo a Hyundai: a marca mais desejada, a marca que registra crescimento no volume de vendas deste ano de 130%. Vamos a ela:
A Hyundai, mesmo crescendo 130% em volume de vendas, registra aumento no seu faturamento (pois afinal de contas, o que vale para nós não é quantidade e, sim, dinheiro no bolso) de apenas 36,75%. Já a sua rede de concessionários, amarga perdas de -16,5%.
Qual foi a grande mágica que todas essas três marcas fizeram? Simples… eu aumentei o meu número de distribuidores/concessionárias. Assim, EU – montadora – consigo manter os meus objetivos enquanto EU coloco mais bocas para dividir o bolo!
A média aqui é burra, como toda média. Logicamente que tem concessionários ganhando dinheiro; e tem uma ENORME quantidade que está perdendo muito dinheiro. O raciocínio, aqui, foi pegar o faturamento total de cada marca e dividir pela quantidade de concessionários que ela possui.
O que verificamos é que: como em toda franquia, em geral, o franqueado faz tudo para manter as suas margens e rentabilidade; nem que para isso ele tenha que dividir o quinhão dos outros.
Mas uma coisa que aprendemos ao longo deste quinze anos trabalhando no setor automotivo é: AQUILO QUE ESTÁ RUIM, SEMPRE PODE FICAR PIOR!
Se nos exemplos da Fiat e VW as suas redes de distribuidores estão com queda no faturamento de -10,1% e -9,6%, respectivamente, esse percentual é pior do que o apresentado. Por quê? Se nós excluirmos da conta o volume que foi comercializado diretamente pela fabricante, teremos novos percentuais de queda para a rede de concessionários, na ordem de -13,6% para a Fiat e de -13,12% para a VW. Aqui além dessas duas marcas sofrerem com o aumento no número de concessionários, tivemos o aumento do volume vendido diretamente pela montadora, ou seja, o buraco é bem mais em baixo!
Mas vamos finalizar o texto com uma dose de otimismo! Nem todas montadoras adotaram essas políticas. Temos o exemplo SUPER, MEGA BLASTER POSITIVO da FORD. A Ford teve aumento de Faturamento de 10,9%, sua rede de concessionário registrou crescimento de 9,34%. Mas se excluirmos da conta o volume que é vendido diretamente pela FORD, o faturamento da rede sobe para 21,9%. Aqui, para a rede de concessionários Ford, o seu desempenho foi duas vezes melhor que a da montadora.
O mesmo é valido para a Toyota, com aumento de faturamento de 48,75% e de 50,2% para a sua rede de concessionários, já descontando o volume de faturamento direto.
No caso dessas duas marcas, elas fizeram o oposto: não houve aumento – significativo – de novas concessionárias e, principalmente, o volume que estas marcas comercializavam diretamente ao consumidor final diminuiu drasticamente.
A conclusão é: existem montadoras e “montadoras”.
A tabela abaixo exemplifica melhor o desempenho de cada marca.
E você, o que acha?
EVOLUÇÃO DO FATURAMENTO JAN-SET/13 SOBRE JAN-SET/12 | |||
MARCA CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE | V% MONTADORA | V% CONCESSIONÁRIA | V% CONCESSIONÁRIA (-FD) |
CHERY | -59,68% | -52,08% | -51,84% |
CITROËN | -8,81% | -12,70% | -14,37% |
FIAT | -5,19% | -10,07% | -13,61% |
FORD | 10,86% | 9,34% | 21,90% |
GM | 5,87% | 4,49% | 5,59% |
HONDA | -3,80% | -3,08% | -4,55% |
HYUNDAI | 36,75% | -16,51% | -16,49% |
JAC | -21,52% | -19,77% | -19,37% |
KIA | -33,97% | -26,99% | -26,81% |
MITSUBISHI | -1,90% | -4,41% | -5,83% |
NISSAN | -25,50% | -33,12% | -25,16% |
PEUGEOT | -15,85% | -25,85% | -26,95% |
RENAULT | -5,42% | -13,61% | -19,30% |
TOYOTA | 48,75% | 45,74% | 50,15% |
VW | -8,97% | -9,60% | -13,12% |
TOTAL | 0,49% | -4,98% | -4,39% |