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Operação Carne Fraca: Lições e Reflexões

Quando se preparavam para encerrar mais uma semana nesta atribulada temporada, os brasileiros foram surpreendidos pelas notícias de uma mega operação deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, na última sexta-feira, sob o codinome de “Carne Fraca“. 
Por  Rubens Menin
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Quando se preparavam para encerrar mais uma semana nesta atribulada temporada, os brasileiros foram surpreendidos pelas notícias de uma mega operação deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, na última sexta-feira, sob o codinome de “Carne Fraca”. O alcance dessa operação, todos já conhecem: foram mobilizados mais de 1.100 agentes policiais em diversos estados e executados 309 mandados judiciais, incluindo prisões preventivas, prisões temporárias e conduções coercitivas, além de busca e apreensão em residências e locais de trabalho. As primeiras notícias davam conta, também, da interdição de frigoríficos e de unidades de processamento de proteína animal e do bloqueio judicial da quantia de um bilhão de reais nas contas bancárias dos envolvidos. As razões alegadas para toda essa operação, embora conectadas, foram expostas pelas autoridades como sendo de duas categorias: a corrupção de funcionários públicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA para a liberação fraudulenta de produtos com validade e características adulteradas; e a comercialização de produtos estragados, enganosamente reciclados e elaborados sem obediência aos padrões sanitários e de qualidade.
Como não poderia deixar de ser, a repercussão dessa operação foi imediata e muito grande, crescendo progressivamente ao longo do fim de semana, alcançando a atônita população brasileira e a grande mídia internacional. Afinal, o Brasil é o maior exportador de carnes do mundo (U$ 12,6 bilhões em 2016); esse item corresponde a mais de 7% do volume total das exportações brasileiras; e o agronegócio vinha se apresentando como o pilar mais sólido da nossa combalida economia. Além disso, essa mesma população passou a dar sinais inequívocos de aflição diante da possibilidade de já ter consumido produtos impróprios ou de vir a adquiri-los na próxima compra de supermercado. A importância do episódio foi grande o suficiente para que a alta cúpula do governo brasileiro passasse o domingo reunida no palácio presidencial em busca de uma diretriz eficaz de ação e para que convidasse os membros interessados do corpo diplomático acreditado em Brasília para um simbólico churrasco feito com a carne nacional. Não faltou sequer a palavra final dos Ministros e do próprio Presidente da República em pronunciamento oficial específico.
O fato real, no presente estágio da crise, é que ninguém sabe ao certo, ainda, quais serão os verdadeiros efeitos da Operação Carne Fraca. Não só porque a nação vive um processo político-judicial em que já não são mais aceitas medidas que possam resultar na impunidade de culpados comprovados, especialmente no que diz respeito à corrupção de agentes públicos, como também por causa das incertezas que começaram a surgir nos últimos momentos acerca a efetiva extensão dos problemas detectados no âmbito do setor econômico fiscalizado. A nação já se deu conta, também, do perigo de pôr a perder, indevidamente, por excesso de garra persecutória, o privilegiado posto alcançado no mercado internacional de carnes e proteínas animais.
No entanto, qualquer que sejam os imprevisíveis desdobramentos futuros desta crise, uma coisa já se pode positivar sem controvérsia: se houve excesso nas providências policiais ou incorreção na forma de sua divulgação, o principal responsável por isso foi a polarização radicalizada e ideologizada que contaminou a sociedade brasileira, notadamente em seus extremos à direita e à esquerda. Com a mesma gana com que esses extremos pedem cabeças, criam palavras de ordem e apelidos ridículos como “petralhas” e “coxinhas” ou exigem atitudes radicais da representação política, firmam-se as posições contra ou a favor dos frigoríficos, dos processadores de proteína animal e das instituições encarregadas de administrar e fiscalizar os processos produtivos. Algo simbolicamente semelhante ao terror exigido pelos jacobinos da Revolução Francesa na condenação de uns e outros à guilhotina. Isso não serve ao país. Mais do que nunca, precisamos do bom senso e do juízo para tomarmos as decisões certas, sem radicalismos e tendo em vista, sobretudo, o interesse nacional e o bem-estar da nossa sociedade. Esse chamado à razão e à inteligência se aplica, especialmente, à nossa criticada representação política e àqueles que, de alguma forma, têm um papel de liderança a cumprir nos variados estamentos da nossa administração. Em minha opinião, se captarmos bem este ensinamento, já teremos algo de muito positivo para compensar, ainda que parcialmente, os efeitos danosos desta última crise (que criamos ou que deixamos surgir).

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