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A economia vai sofrer com a crise no mercado de carnes?

Leonardo Palhuca, editor do Terraço Econômico, apresenta dados que demonstram que a economia brasileira provavelmente não sofrerá grandes efeitos negativos decorrentes da operação "Carne Fraca", da Polícia Federal
Por  Terraço Econômico
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

* Por Leonardo Palhuca – editor do Terraço Econômico

SÃO PAULO – Com a deflagração da Operação “Carne Fraca” na última sexta-feira (17), que descobriu esquemas para aprovar a venda de carne imprópria para o consumo e o uso de produtos fora das especificações em embutidos, por exemplo, muitos já começaram a perguntar: uma crise nesse mercado de carnes pode prejudicar o Brasil e suas exportações, fazendo a economia já combalida sofrer mais ainda?

De bate-pronto: provavelmente, não.

Alguns países podem pedir inspeções mais rígidas, algumas explicações sobre o que aconteceu. Podem até proibir a importação de carne brasileira, mas isso não significa que a economia brasileira, como um todo, sofrerá um baque por conta disso.

Por que? Apesar de parecer ser um mercado imenso, com notícias sobre enormes grupos frigoríficos, as exportações de carne brasileiras ainda não são significativas a ponto de causar um grande problema, mesmo se reduzidas a zero (algo que dificilmente ocorrerá). Nossa picanha pode ser muito famosa, mas sua exportação representa menos de 3% (em valor) dos produtos que vendemos aos estrangeiros, segundo dados da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).

Ainda, as exportações de carnes (in natura, industrializadas, miúdos, tripas e salgada) mantiveram-se basicamente constantes em volume ao longo de 12 anos, mesmo com os esforços de internacionalização dos grupos brasileiros.

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O gráfico abaixo mostra que, apesar de as exportações em dólares terem crescido, o volume exportado manteve-se basicamente constante – efeitos de preços internacionais? Ainda, mesmo com a depreciação cambial de 2011 até 2016, o volume manteve-se constante.

Fonte: ABIEC e Banco Central do Brasil. Elaboração própria. 

Conforme mencionado, o gráfico abaixo ilustra a variação cambial e a proporção das exportações que o mercado de carne representa das exportações brasileiras.


Fonte: ABIEC, ADVFN e Banco Central do Brasil. Elaboração própria.

Novamente, parece que a exportação de carne ficou relativamente constante como proporção das nossas exportações, rondando os 3%. Caiu a 2% após a crise mundial de 2008/2009, talvez fruto de ajustes de consumo. Mas retornou ao patamar anterior e já vem caindo desde 2014. Apesar de mantermos a nossa posição de maior exportador mundial de carnes [1].

No conjunto da obra, não parece que as exportações de carnes sejam tão importantes quanto o agronegócio como um todo ou quanto o minério de ferro, por exemplo – talvez haja um efeito de ser um produto muito consumido por aqui, assim pensamos que também exportamos tanto e somos muito importantes nisso. Outro ponto é que tais exportações já parecem estar em declínio desde 2014. Não há muito com o que se preocupar em termos macroeconômicos. Já em termos sanitários…

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O caso investigado pela Polícia Federal é gravíssimo. Entretanto, mesmo que haja fechamento de mercados aos produtos brasileiros, o impacto na macroeconomia deve ser bastante limitado – para “acalmar” algumas mentes histéricas que já começaram a elaborar teorias conspiratórias sobre o “gigante” mercado de carnes brasileiro e algum vilão norte-americano querendo destruir essa nossa indústria tão pujante.

Mas fica a ressalva que se outros setores não analisados aqui sofrerem sanções (aves ou alimentos processados em geral, por exemplo), o impacto pode ser maior. E fica também a vergonha internacional.

Notas:
[1] http://beef2live.com/story-world-beef-exports-ranking-countries-0-106903

Terraço Econômico O Terraço Econômico é um espaço para discussão de assuntos que afetam nosso cotidiano, sempre com uma análise aprofundada (e irreverente) visando entender quais são as implicações dos mais importantes eventos econômicos, políticos e sociais no Brasil e no mundo. A equipe heterogênea possui desde economistas com mestrados até estudantes de economia. O Terraço é composto por: Alípio Ferreira Cantisani, Arthur Solowiejczyk, Lara Siqueira de Oliveira, Leonardo de Siqueira Lima, Leonardo Palhuca, Victor Candido e Victor Wong.

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