Falta de segurança é destaque na rede e Temer surfa onda com intervenção no RJ

A intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro não tem precedentes sob a atual Constituição.

Após decisão súbita da Presidência da República, a medida passará rapidamente pelo Congresso com apoio até de setores da oposição.

O primeiro efeito, entretanto, não guarda qualquer relação com a segurança da população. É o fim da reforma da Previdência em 2018. Além da falta de votos, a Constituição não pode ser emendada enquanto vigore intervenção estadual.

O timing da divulgação e o Estado afetado são importantes para entender os motivos da intervenção. Afinal, apesar de intensa cobertura da imprensa sobre a criminalidade no Estado, o Rio de Janeiro não é o ente com os piores indicadores de criminalidade no Brasil.

Com a intervenção, Michel Temer conseguiu com a mudar a discussão da derrota da Previdência para um tema popular de enfrentamento da violência e ainda tomou para si a agenda positiva proposta por Eunício Oliveira e Rodrigo Maia no início do ano legislativo. Não bastando, ainda pode tirar palanque de Jair Bolsonaro, pré-candidato identificado com o tema, e forçou a oposição a criticar uma medida popular.

O risco no Congresso fica para a retaliação em outros projetos de interesse do Executivo.

Para adicionar a estes pontos que já estão colocados na discussão, apresentamos dados de opinião pública e comportamento dos brasileiros sobre o tema.

Segurança pública nas redes sociais.

Mantemos um monitoramento frequente de temas relevantes nas redes sociais como segurança, saúde, educação etc. As menções a segurança pública são em média 25% das menções apuradas desde 2013, mas na última sexta-feira, dia 16-Fev, o tema chegou a registrar 70% das menções nas redes. A ação do governo Temer de interferir na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro teve importante repercussão.

Porém, apesar da medida ter alavancado o tema desde o final da semana passada, notamos que desde meados de dezembro de 2017 tem ocorrido um aumento na proporção de menções sobre segurança pública, o que mostra que mesmo antes da intervenção do governo federal as redes já vinham debatendo isso.

Opinião pública

A falta de segurança pública é uma preocupação frequente dos brasileiros cuja importância relativa a outras mazelas muda ao longo do tempo. No Datafolha mais recente (30-nov-2017) a violência foi apontada como o principal problema do país para 8% da população, apenas a 5ª preocupação no ranking, atrás de saúde (25%), desemprego (19%), corrupção (15%) e educação (9%). A única vez em que segurança foi a principal preocupação do brasileiro foi em 2006, quando houve uma série de ataques do PCC em São Paulo.

Uma outra forma de capturar o sentimento em relação ao tema é usando as consultas do IBOPE. Na última (dez-2017), a área de segurança pública foi desaprovada por 86% da população, o pior ponto da série histórica iniciada em 2009. Por outro lado, a desaprovação média dos nove temas pesquisados foi de 84%, apenas 2 p.p. melhor que a segurança.

Em termos regionais, Norte/Centro-Oeste são as regiões que menos desaprovam o tema (76%) enquanto o Sul desaprova mais (89%). No Sudeste 9% aprovam as políticas da área, enquanto 88% desaprovam.

Implicações

Como dissemos, a discussão sobre o tema tem aumentado nas redes sociais desde meados de dezembro de 2017, em parte por cobertura da mídia em face dos problemas verificados no Estado. Isso somado à preocupação do brasileiro com a falta de segurança preparou o terreno para o uso político da intervenção no Rio de Janeiro.

A ampla divulgação da medida permitirá que o presidente surfe a onda positiva pelo menos até que resultados dúbios ou algum evento contrário apareçam para encerrar a lua de mel.