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Política econômica do Temer: “tem que manter isso aí, viu?”

Atualmente, numa escalda de insanidade da esquerda e de setores da direita, dos jacobinos da economia, colocamos em risco a única mediação possível para salvar o Brasil: o ajuste fiscal.
Por  Alan Ghani
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Muitas pessoas julgam um presidente pelos efeitos imediatos de uma crise econômica, e não por quem a criou. Nada a favor de Michel Temer, até porque ele foi vice de Dilma e o seu partido, o MDB (PMDB), foi sócio da corrupção lulopetista de 2003 a 2016. Se é possível dizer que PT e PMDB eram parceiros do roubo na Petrobras, o mesmo não se pode falar sobre a área econômica. Embora algumas medidas econômicas dependam da aprovação do Congresso Nacional (alguns tributos, orçamento, etc.) – e, nesse caso, o apoio do PMDB era fundamental -, o presidente da república ainda conta com boa margem de manobra para a condução da política econômica no país. Dito de outra forma, o principal responsável pela crise econômica no Brasil foi a própria administração petista (leia aqui: Herança maldita do PT e cenário externo explicam disparada da gasolina)

Isso posto, convenhamos, Michel Temer assumiu a presidência numa situação bem difícil. O PIB cai 3,55% em 2015 e 3,46% em 2016, enquanto a inflação apresentava alta de 10,67% em 2015 e 6,29% em 2016. Já o desemprego batia 13% (mais ou menos 13 milhões de pessoas desempregadas) e o déficit primário R$160 bilhões em 2016. Com preços mais elevados, queda da renda e perda do emprego, a população sentia na pele os efeitos da maior crise econômica da história do Brasil.

Diante desse cenário, Temer monta uma equipe econômica dos sonhos, um Real Madrid da economia. Henrique Meirelles, Ilan Goldfajn, Pedro Parente, Fábio Kanczuck, Mansueto de Almeida, entre outros.

Em menos de 2 anos, a inflação retrocede para 2,96% em 2017 (expectativa de 3,60% em 2018) e o PIB cresce 0,99% em 2017 (expectativa de 2,37% em 2018, de acordo com o boletim Focus de 28/05/2018). E o desemprego? Bom, o desemprego continua muito elevado, no mesmo patamar de 13%, e este, talvez, seja o principal ponto para explicar a insatisfação com o governo Temer, a despeito da melhora dos indicadores econômicos. No entanto, infelizmente, o desemprego é a última variável a melhorar. Tal lentidão se deve à própria persistência do desemprego – variável anticíclica e retardada, ou seja, aquela que reage após o ciclo econômico. A demora para o desemprego subir numa crise, e para cair numa recuperação econômica, decorre dos custos envolvidos na contração e demissão de um trabalhador.

Do lado qualitativo, a equipe econômica de Michel Temer se esforçou para sanar as contas públicas: aprovou a PEC dos gastos – despesas na área da saúde e educação não podem subir mais do que a inflação  – e tentou passar a reforma da previdência: fundamental para evitar um calote da dívida pública, o qual teria consequências drásticas para a população. Além disso, aprovou a reforma trabalhista, essencial para dinamizar o mercado de trabalho, com consequências positivas para a redução do desemprego estrutural no médio e longo prazo.

Dentro das limitações possíveis, pode-se dizer que Temer fez um bom governo na área econômica. Tanto é que o mercado financeiro reagiu bem, antecipando expectativas de melhora na economia. A bolsa, o melhor lead indicator (antecipador de expectativas) para crescimento econômico, sobe aproximadamente 66% desde o início do processo de impeachment de Dilma Roussef até hoje.

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Apesar dessa melhora nos indicadores, a população não sentiu um impacto significativo em suas vidas. O estrago no passado foi grande. Pagamos hoje um preço altíssimo para ajustarmos a deterioração fiscal herdada pelos governos Lula e Dilma. Infelizmente, a recuperação do paciente chamado “Brasil” irá demorar. É lenta, é dolorosa.  E essa recuperação passa pelo um ajuste fiscal das contas públicas, pago pelo contribuinte. Alguém poderia perguntar: “Mas não dá para o governo pagar esta conta sozinho?”. Não, é justamente aí que está ponto: o dinheiro do governo nada mais é que o dinheiro da população brasileira arrecadado por meio de impostos. É inevitável que a sociedade inteira pague por um erro que não seja seu. É injusto, mas não tem outra saída.

É bem verdade que a recuperação do paciente estava sendo mais rápida do que a esperada. Se não fossem Joesley e Janot, a reforma da previdência poderia ter sido aprovada, e os investimentos retomados pela melhora das expectativas. Mas não foi só a delação da JBS que atrapalhou a retomada. Atualmente, numa escalada da insanidade da esquerda e de setores da direita, dos jacobinos da economia, colocamos em risco a única mediação possível para salvar o Brasil: o ajuste fiscal. O governo propôs subsídios e tabelamento de preço para os caminheiros. É o início da volta da década de 80, do governo Sarney.

A greve dos caminhoneiros mostrou que, de um lado, parte da população não aceita o ajuste fiscal, do outro, nenhum político tem força política para dialogar e assumir o ônus com a sociedade. Claro, a política foi barbarizada e criminalizada no país. Há uma crise de liderança no Brasil. Mas o poder não admite vácuo. Como disse a comentarista Vera Magalhães na Jovem Pan, “as portas do inferno foram abertas”. De fato, foram abertas para o populismo desenfreado. Tomara que o próximo presidente não se renda ao populismo barato e mantenha a política econômica do governo Temer – aquela anterior à greve dos caminhoneiros-, caso contrário, tempos difíceis virão.  

Alan Ghani é economista, PhD em Finanças pela FEA-USP e professor de pós graduação na SaintPaul, FIA e Insper

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Alan Ghani É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.

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