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Bolsonaro e Bitcoins são levados a sério

De um modo geral, Bolsonaro se saiu muito bem na entrevista de ontem e mostrou ser um forte candidato para as eleições de 2018. Mais do que a sua força política, Bolsonaro representa uma mudança de paradigma para as próximas eleições. Ao defender ações enérgicas e concretas contra bandidos, privatizações e pilares conservadores (família, cristianismo, etc.), Bolsonaro vai tirar os outros candidatos de suas zonas de conforto. Assim como os bitcoins trouxeram uma grande inovação no mercado financeiro, a onda Bolsonaro traz uma mudança significativa para a próxima eleição.
Por  Alan Ghani
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Quando os Bitcoins começaram, muitos duvidavam de sua força. O tempo passou, a moeda teve uma valorização estratosférica e hoje é um investimento levado a sério no mercado financeiro. O mesmo raciocínio vale para o deputado Jair Bolsonaro. Quando ele lançou sua candidatura a presidente, muitos formadores de opinião o enxergavam como uma figura folclórica, sem chances reais de ser presidente. O tempo passou, Bolsonaro cresceu muito nas pesquisas e hoje estaria no segundo turno. Ontem, finalmente a grande mídia reconheceu essa força política e levou Bolsonaro a sério.

Neste último domingo, o programa Canal Livre da Rede Bandeirantes de Televisão entrevistou o candidato. Os principais pontos da entrevista estão resumidos abaixo. Adiantando um pouco a conclusão, Bolsonaro se saiu muito bem e talvez tenha sido uma das suas melhores entrevistas.

Economia

Perguntaram bastante sobre a mudança do “Bolsonaro estatista” para o “Bolsonaro liberal” na economia. Bolsonaro disse que amadureceu e tem estudado mais essas questões.

Por um lado, Bolsonaro foi a favor das privatizações no modelo “golden share”- o mesmo adotado pela Embraer-, defendeu a redução do tamanho do Estado e o direito de propriedade.  Salientou a importância da independência do Banco Central e citou a famosa curva de Laffer. Por outro lado, foi contra a reforma da previdência do governo Temer (não propôs qual seria a outra alternativa) e defendeu uma seletividade na entrada de capitais estrangeiros no Brasil ao defender algum grau de restrição para a China.

Segurança Pública

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Visivelmente esse é o tema no qual Bolsonaro se sente mais à vontade para responder. Basicamente, defendeu o porte de arma para a população, endurecimento de penas para bandidos, direito à legítima defesa do cidadão comum e dos policiais, sem perseguições jurídicas, e foi radicalmente contra a vitimização de bandidos.

Declarações polêmicas dadas há 20 anos

Este foi um bom teste de fogo para o candidato. Principalmente Mônica Bergamo e Julia Duailibi insistiram bastante neste ponto. Bolsonaro disse que amadureceu bastante durante 20 anos e que as expressões foram utilizadas como força de expressão, para mostrar a sua indignação perante alguns temas. Num dos pontos mais quentes da entrevista, Mônica Bergamo dizia: “Você é a favor da tortura?”, fazendo referência a uma declaração antiga de Bolsonaro, na qual ele defendia a prática para sequestradores falarem onde estavam as suas vítimas. Bolsonaro foi hábil em não dizer que era a favor da tortura nesses casos – o que poderia ser utilizado contra ele na guerra de narrativas -, mas de medidas enérgicas para sequestradores abrirem o jogo sobre os cativeiros.

Cargos para mulheres e negros

Os jornalistas perguntaram, caso fosse eleito, se teriam mulheres e negros compondo sua equipe e quem seriam ele(a)s. Bolsonaro defendeu a competência para a escolha das pessoas, independentemente de sua cor ou gênero.  De maneira enérgica e enfática, Bolsonaro contra-atacou e disse que defender critérios de cor para escolha do cargo seria um preconceito contra os negros, jogando para os defensores de cotas o rótulo de preconceituosos.

Questão dos gays

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Supreendentemente os jornalistas não bateram muito nessa tecla. Apenas Fernando Mitre comentou uma declaração de Bolsonaro sobre criação dos filhos e homossexualismo. Bolsonaro aproveitou a situação para dizer que não tem nada contra gays, mas contra o ativismo gay para as crianças nas escolas.

Governabilidade sem o “toma lá da cá”

Bolsonaro foi questionado como manteria a governabilidade sem fazer o jogo do “toma lá da cá” com o congresso. Bolsonaro defendeu a independência dos poderes e salientou que hoje, no Brasil, o poder executivo é refém das barganhas com o legislativo. Governar sem conceder benesses para o congresso talvez seja um dos maiores desafios da política nacional, não só para Bolsonaro, mas para qualquer candidato.  E sinceramente nenhum candidato, por enquanto, tem esta resposta diante da complexidade deste problema.  

 

Conclusão

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De um modo geral, Bolsonaro se saiu muito bem na entrevista de ontem e mostrou ser um forte candidato para as eleições de 2018. A entrevista mostrou que algumas declarações dadas há vintes anos ainda lhe custam caro na guerra política, embora tenha se saído muito bem nas respostas. Por outro lado, sua fala direta e mais rasgada passa uma autenticidade, algo mais verdadeiro – diferencial importante nos tempos de hoje. Soma-se a isso, um dos seus principais ativo: o fato de não ter uma acusação de corrupção contra a sua pessoa.  

Mais do que a sua força política, Bolsonaro representa uma mudança de paradigma para as próximas eleições. Ao defender ações enérgicas e concretas contra bandidos, privatizações e pilares conservadores (família, cristianismo, etc.), Bolsonaro vai tirar os outros candidatos de suas zonas de conforto. Depois de Bolsonaro, talvez parte da população vai finalmente entender que o embate PT x PSDB não era entre esquerda e direita, mas uma disputa de poder dentro da própria esquerda: uma social democrata e, outra, sindical.

Assim como os bitcoins trouxeram uma grande inovação no mercado financeiro, a onda Bolsonaro traz uma mudança significativa para a próxima eleição.

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Alan Ghani É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.

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