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A vitória de Trump e a derrota do establishment e da grande mídia

Não existe apenas um distanciamento entre o mundo político e a população, mas entre a grande mídia e a realidade. A vitória de Trump, juntamente com o Brexit, é uma reação do cidadão comum que não se vê mais representado pelo establishment político, intelectual e midiático. Está na hora de políticos, jornalistas e intelectuais desceram do salto e começarem a entender a realidade em que vivemos de fato antes que sejam ainda mais desacreditados por leitores e eleitores.
Por  Alan Ghani
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Não existe apenas um distanciamento entre o mundo político e a população, mas entre a grande mídia e a realidade. Ultimamente, a expressão mais utilizada por intelectuais, jornalistas e analistas é: “foi uma surpresa”. Surpreenderam-se com o Brexit, com o não às FARC na Colômbia, com o Trump sendo nomeado nas primárias e, agora, com o fenômeno republicano ganhando as eleições americanas. A capa do Estadão só confirma isso: “Trump surpreende e é eleito presidente dos EUA”.

Certamente a vitória de Trump não só surpreendeu o Estadão, mas quase todos os veículos de comunicação que davam a vitória de Hillary como certa. Vejam:

NY Times: Favorita na eleição dos EUA, Hillary tenta conquistar legitimidade

R7: Hillary é favorita para vencer disputa pela presidência nos EUA, mostra pesquisa

O Antagonista: Será uma Barbada para Hillary

Blog do Reinaldo Azevedo: Hillary deve se eleger hoje presidente dos EUA. Trump, mitos e mitologias políticas

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Vamos parar por aqui porque exemplos não faltam do “grau de acerto” da grande mídia e dos institutos de pesquisa. Diante de tantos erros, a pergunta que não quer calar: por que será que não conseguem enxergar a realidade e erram tanto? Será que não está na hora de intelectuais e jornalistas descerem do salto e dizerem onde é que estão errando em suas análises?

Uma possível explicação para a falta de capacidade da maioria dos formadores de opinião em não enxergar a realidade é misturar análise com torcida, contaminados pelas ideologias progressistas (multiculturalismo, ideologia de gênero,  legalização das drogas, “culpabilização” das polícias, vitimização de bandidos e terroristas, etc..). Logo, qualquer votação que vai contra os temas progressistas, está lá a grande mídia e as universidades fazendo a sua análise (torcida).

Tais formadores de opinião se surpreenderam com o Brexit, com o não às FARC e com o Trump pelo mesmo motivo: a incapacidade de enxergar as demandas conservadores (no melhor sentido da palavra) do cidadão comum.

O establishment está tão contaminado pela torcida de temas ou candidatos progressistas que perderam a capacidade de enxergar que o povão é conservador. O cidadão médio não está preocupado com os temas progressistas já citados. O João e a Maria no Brasil, e o John e a Mary nos EUA querem saber como pagarão as contas no final do mês, como irão proteger seus filhos das drogas, de criminosos e de terroristas. O povão reza, gosta de FAMÍLIA e curte piada politicamente incorreta. O povão quer emprego para dar saúde e educação para seus filhos, e fazer churrasco com os amigos. O povão é real. É justamente essa falta de entendimento das demandas do cidadão médio que impedem os “glamourosos” analistas do Brasil e de Manhattan de fazerem análises e previsões acertadas.

Em julho de 2016, este blog há havia antecipado aqui no InfoMoney o fenômeno Trump (veja aqui). Basicamente, o texto dizia que Trump crescia porque abria um canal de comunicação direto com a população americana: “em tempos da ditadura politicamente correta, da guerra das narrativas, do sentimentalismo tóxico (o argumento recorre mais à emoção do que à razão); o discurso mais cru, mais rasgado, sem meias palavras tem se tornado um diferencial”. Em outras palavras, mesmo que muitas vezes de maneira não polida, Trump propunha soluções concretas para problemas reais; e não soluções abstratas como é típico da esquerda progressista. Por exemplo, no final das contas, muitos americanos sabem que vão se sentir mais seguros com um controle imigratório mais rigoroso, capaz de identificar terroristas islâmicos, do que o discurso abstrato e multicultural de Hillary Clinton.

Não só este blog  antecipava o fenômeno Trump no InfoMoney. Outros analistas, inclusive, previram a vitória do candidato republicano. Alexandre Borges e Flavio Morgenstern, em excelente Podcast no Senso Incomum, diziam de uma possível vitória do candidato republicano (aqui). Taiguara Fernandes de Sousa, também. E menção honrosa ao Filipe Martins que fez uma cobertura excelente das eleições americanas –  não só acertando o resultado geral, como as vitórias em quase todos os estados. E, claro, mais uma vez, Olavo de Carvalho cravou a vitória para desespero para da intelligentzia brasileira (será que quando chamam ele de “astrólogo” é pela capacidade de sempre prever o futuro?)

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Mas qual é o segredo destes intelectuais, que estão fora da grande mídia, acertarem? Como será que conseguiram prever uma vitória de um candidato que lutava contra toda a grande mídia mundial (CNN, NY Times, The Economist), Wall Street, George Soros, enfim, contra todo o establishment?

Possivelmente porque estes analistas independentes desprezavam toda a análise viesada da grande mídia a favor de Hillary Clinton. Conseguiram enxergar que a maior parte da população, A MAIORIA SILENCIOSA, é conservadora, e Trump falava para este público. Mas ter essa capacidade de enxergar o real não é tão simples: exige muita leitura!

Um bom ponto de partida para quem quer começar a enxergar o real e entender a pauta conservadora no mundo – não naquele sentido pejorativo rotulado pelas esquerdas , – é ler dois ótimos livros (apenas para começar):” O Mínimo que você precisa saber para não ser um Idiota” (Olavo de Carvalho, org. Felipe Moura Brasil) e “O que é ser um Conservador (Roger Scruton)”. Tem muito mais para ler, mas este é o ponta pé inicial para começar a entender o mundo em que vivemos, sem cair na armadilha da indústria da desinformação.

Infelizmente, em vez de acadêmicos e jornalistas fazerem uma reflexão, uma autocrítica e buscarem novas fontes de leitura, já caíram no mesmo erro de explicar a realidade por abstrações completamente desconexas da realidade: “racismo”,” é o 11/09 invertido (09/11)”, “fim da democracia”, “vingança branca, etc.. “

Em vez de criarem essas “hipóteses subprime” do jornalismo ou da academia, deixo aqui uma ótima sugestão do economista e jornalista Rodrigo Constantino: os que estão “surpresos” com a “inesperada” performance de Trump até aqui precisam sair da bolha em que vivem, abandonar a “análise” (torcida) da imprensa, toda de esquerda, e tentar compreender o fenômeno em curso, que não é contra a globalização, mas contra o globalismo desse establishment podre e corrupto.  (veja aqui texto que se tornou viral sobre o que é globalismo, publicado no Infomoney)

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Em suma, a vitória de Trump, juntamente com o Brexit, é uma reação do cidadão comum que não se vê mais representado pelo establishment político, intelectual e midiático. Está na hora de políticos, jornalistas e intelectuais descerem do salto e começarem a entender a realidade em que vivemos de fato, antes que sejam ainda mais desacreditados por leitores e eleitores.

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Alan Ghani É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.

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