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Análise: a derrota de Freixo e o discurso da nova esquerda (new left)

O mapa das eleições no Rio de Janeiro mostra que a "new left" (a esquerda Marcelo Freixo)  conta com o apoio de boa parte dos descolados artistas, jornalistas, professores universitários e dos "cools" do Leblon, mas ainda não tem os votos do grosso da população, principalmente dos mais pobres.  Apesar da derrota, a "new left" está longe de estar morta; ao contrário, se tornará mais comum nas eleições daqui em diante.
Por  Alan Ghani
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Apesar do apoio de boa parte da mídia e dos artistas globais, Marcelo Freixo (PSOL) perdeu, para desespero da esquerda brasileira e da intelligentzia carioca.

Após a rejeição da população brasileira ao PT, Freixo tentou se vender como um candidato moderado (palavrinha do momento) para tentar se desvincular da imagem do PSOL – partido apoiador do PT, dos Black Bloc, das invasões em escola públicas, da Venezuela, enfim, do socialismo, como a própria sigla diz.  

Freixo tentou passar a imagem não daquela esquerda sindical, retrógrada e truculenta; mas de uma esquerda moderna, moderada, alinhada com as principais tendências progressistas mundiais. É a new left,  a esquerda de Fernando Haddad e de Barack Obama, a qual não faz ataques diretos à propriedade privada, mas faz um discurso vago e de forte impacto (ex: capitalismo com “inclusão social”) para tentar ganhar os votos dos inocentes úteis, dos “isentões” acima do bem e do mal (“nem de esquerda e nem de direita”), e dos “liberais com preocupação social”.

Esta guinada de Freixo para um esquerdismo “light” ficou clara quando ele negou que apoiava Black Bloc, mesmo que os fatos desmentissem sua afirmação, conforme vídeo produzido pelo jornalista Felipe Moura Brasil (veja aqui). Outra investida de Freixo, para tentar pegar o voto daquela direita que faz cara de “nojinho” ao ouvir as palavras “evangélico” ou “Bolsonaro”, foi aceitar Eduarda La Rocque, de linha liberal ortodoxa, como conselheira de campanha do PSOL.  A ideia era justamente capitalizar os votos do “moderadão“, aquele que adora dizer “, precisa de uma “convergência entre a esquerda e direita”. O jornalista e economista Rodrigo Constantino resumiu bem o espírito da coisa: “Quando começam com esse papo de não tem esquerda e direita, ou há alinhamento entre esquerda e direita, eu levo automaticamente a mão ao bolso para proteger a carteira. Esquerda é sinônimo de irresponsabilidade fiscal desde sempre”. (veja texto completo aqui).

Apesar da derrota em São Paulo e no Rio de Janeiro, esse “esquerdismo light” deve se tornar cada vez mais recorrente no cenário eleitoral brasileiro por várias razões. Primeiro, pelo enfraquecimento do principal partido e líder representativo da esquerda sindical no Brasil, PT e Lula. Segundo, pela tendência internacional deste tipo de esquerdismo, no qual Barack Obama é  atualmente o maior representante. Terceiro, por contar com o apoio intelligentzia brasileira (professores, jornalistas, artistas e intelectuais).

Sem dúvida, nas próximas eleições, mais “Freixos” e mais “Haddads” devem aparecer como uma tentativa de renovar a imagem da velha esquerda sindical, a qual provavelmente nasceu com Getúlio e morrerá com Lula. Não será nenhuma novidade que além das pautas clássicas (saúde, educação e transporte ), outros temas alinhados com o esquerdismo moderno – descriminalização das drogas, ideologia de gênero, etc… – comecem a se tornar mais recorrentes nas campanhas eleitorais. Os experimentos de Fernando Haddad na cidade de São Paulo, com o “bolsa crack” , o “bolsa travesti”, “o grafite”, entre outras medidas, só confirmam essa tendência.

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Resta saber se a população brasileira, majoritariamente de valores conservadores (no melhor sentido da palavra), comprará este discurso. De concreto até agora, sofreram duas importantes derrotas, uma em São Paulo; e outra, no Rio. A derrota se tornou mais amarga porque em São Paulo perderam justamente para um milionário do PSDB, que não tem vergonha em assumir sua riqueza, ao contrário da new feft que vende a pobreza como algo cool (alô, Regina Casé!). Já no RJ perderam justamente para um candidato evangélico ligado à Igreja Universal para desespero dos progressistas.

Em suma, o mapa das eleições no Rio mostra que a new left (a esquerda Marcelo Freixo) conta com o apoio de boa parte dos descolados artistas, jornalistas, professores universitários e dos cools do Leblon, mas ainda não tem os votos do grosso da população, principalmente dos mais pobres.  Apesar da derrota, a new left está longe de estar morta, ao contrário, se tornará mais comum nas eleições daqui em diante. Mais do que isso: Marcelo Freixo teve mais de 1 milhão de votos, sinalizando que o petismo não está morto; pelo contrário, começa a migrar e se reerguer aos poucos no PSOL, (ver meu artigo no InfoMoney “Fim do PT, e do petismo?). Novamente, é o socialismo assumindo uma nova cara e uma nova bandeira, para continuar a vender a mesma essência ideológica: a destruição de valores conservadores e aumento do poder estatal sobre a vida do individuo.

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Alan Ghani É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.

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