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2018 e o mercado financeiro

Se Lula for interditado, todos poderão virar Hillarys Clinton, menos o capitão reformado, pois o populismo é resultante do divórcio das pessoas com o establishment
Por  Equipe InfoMoney
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

* por Leopoldo Vieira

Atualmente, o mercado financeiro tem emitido os seguintes sinais sobre as eleições do ano que vem:

– Sondagens entre investidores revelaram torcida por João Doria Jr.;

– Projeta-se que o Ibovespa chegue a mais de 80.000 pontos em caso de vitória do prefeito de São Paulo, superando o recorde batido no governo Temer e no segundo governo Lula.

Isto decorre de quatro incidências:

1) O governo da presidenta Dilma Rousseff, que dispensa dissertação no que se refere ao impacto sobre o mercado financeiro;

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2) A disputa que os interlocutores tucanos realizam neste meio, agitando o espantalho de que Lula é um risco populista;

3) A disputa que realizam os interlocutores do governo Temer sobre a viabilidade de um candidato reformista liberal, uma certa ilusão quando Jair Bolsonaro se consolida na segunda posição como expressão do alvejamento da liderança tradicional de centro-direita pela Lava Jato;

4) A disputa indireta que realiza a Eurasia Group, aparentemente focada em derrotar a centro-esquerda explorando o sentimento de antipolítica, o que é um enorme exagero dado o risco da empreitada.

Se Lula for interditado, todos poderão virar Hillarys Clinton, menos o capitão reformado, pois o populismo é resultante do divórcio das pessoas com o establishment. E o ex-presidente, com 30% dos votos, num triplicar da aposta das classes C, D e E, é o último vínculo seguro entre ambos, embora, pela sua história e gestão, seja o melhor outsider.

Um alerta que vale não só para o mercado, mas para todos os sensatos das cortes judiciais, das Forças Armadas, da imprensa, das corporações públicas e da intelectualidade.

Já não funcionou

Quem gosta da ideia de gestor presidente e da França, deve saber que  último produzido pela  Ecole Nationale d’Administration (ENA),fracassou: o socialista François Hollande. Aos olhos do mercado, um gestor do Brasil também não deu certo, pois a autossuficiência da gerência conflitou com a negociação política.

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Pior poderá ser este impasse sob a nova regência do “presidencialismo de cooptação”, classificação do PSDB que resume a governança a meros acordos políticos, um sub-produto do “salve-se quem puder” da Lava Jato, já que o gestor só terá viabilidade se consagrado pelo voto da antipolítica ensejado pela operação, gerando um impasse potencial com as expectativas deste eleitorado.

Pior se o gestor vitorioso passar pela janela eleitoral aberta pela Lawfare, incendiando as duas pontas do País.

Governabilidade instável, insegurança jurídica e populismo parlamentar, que explode as despesas com benesses parlamentares, na certa.

Brasil precisa  é de estabilidade para se recompor, não de mais gasolina no incêndio econômico, social, político e institucional.

Savoir faire um caminho do meio

Se a torcida é por um Macron tropical, deve-se saber que o presidente francês jamais pensou em acordar homeless com água gelada na noite mais fria do ano. E é um fenômeno do savoir faire. E quem entende disso, com sensibilidade que gera harmonia social, unindo diferentes para propósitos comuns, como combater a fome, ou, por isso, conciliar sair do Mapa da Fome com virar credor do FMI, tem nome, apelido e sobrenome.

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Vamos a um interessante exemplo.

Pesquisa da Ipsos Public Affairs revelou que quando infraestrutura é o assunto, os brasileiros associam à saúde (37%), seguido por mobilidade urbana (36%), por educação (28%), por direitos da população e qualidade de vida (26%), por saneamento e abastecimento de água (19%), entre outros. O levantamento mostrou que 48% são parcial ou totalmente contra o aumento das despesas para incentivar o crescimento a longo prazo; porém 40% são parcial ou totalmente favoráveis e 12% não sabem ou não responderam.

Isto é um motivo para uma solução eleitoral ao meio termo no ano que vem, com a mediação construída desde já, uma vez que um dos extremos nesta seara pode prevalece.Aí ou haverá uma explosão social ou uma explosão fiscal muito pior do que na atualidade.

Dilma Rousseff, em recorde de tempo, conseguiu provar que a sociedade não abre mão de conquistas legadas pelo ex-presidentes FHC (inflação controlada) e Lula  (empregos como catapulta da mobilidade social e estabilidade das condições de vida).

Ou seja, é preciso recombinar estabilidade econômica, responsabilidade fiscal, crescimento e distribuição de renda. Para tal, a principal questão a ser enfrentada é reafirmar um balanço positivo da Carta aos Brasileiros de 2002, que sintetizou a melhor fórmula de todos os tempos para isso, e atualizá-la:

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– Como equacionar o déficit primário sem estourar ainda mais o risco de calote da dívida?

– Como mediar a reinclusão dos mais pobres no orçamento com o Novo Regime Fiscal (PEC do Teto de Gastos) ?

– Como financiar a urgente retomada da geração de empregos e investimentos em infraestrutura e ir superando a crise fiscal concomitantemente?

– O que fazer com a TLP aprovada pelo governo e a demanda, por exemplo, dos políticos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, por abrir uma brecha na aplicação da nova taxa nos recursos do FCO, FNE e FNO, sem NTN-B?

– Como conciliar as reformas que o mercado considera importantes com a promoção de direitos aos trabalhadores?

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‘Deus’ com credibilidade e ‘anjos’ improdutivos

Ainda é vigente a ideia de se tomar o setor industrial (dito produtivo) como o meio para retomar o crescimento. Sobre isso, é importante resgatar um breve histórico:

–     No governo Sarney, foi a indústria ou “setor produtivo” quem boicotou, como já é História, o Plano Cruzado;

–     O mesmo “setor produtivo” se recusou a sustentar o equilíbrio de preços proposto pelo Plano Real;

–     Dos efeitos negativos da âncora cambial e outras medidas sobre o “setor produtivo”, estes se moveram em parte para o apoio à Lula em 2002, não por um “projeto de desenvolvimento nacional”;

–     Nos governos Lula, a política industrial lato senso permitiu a recuperação de perdas, mas, em seguida, nos governos Dilma, ainda que a presidenta tenha incorrido em diversos erros de condução da economia,  o “setor produtivo” se engajou pelo  Impeachment, mesmo com uma agenda elaborada  na FIESP;

–     O sucesso da política anti-cíclica em 2008 deveu-se, em grande parte, pelo PAC, no qual o estado entrava com quase tudo e a iniciativa privada com a execução. Principalmente devido aos impactos da operação Lava Jato sobre a construção civil, somados ao rombo fiscal, tais condições não estão mais presentes.

Em suma, a eventual retomada de interlocução com o mercado financeiro, pela centro-esquerda, é o que pode fazer surgir as almejadas propostas exequíveis para tirar o Brasil da crise.

Esta fórmula, que foi a base do que especialistas tem chamado de Lulismo, semeada entre 2003 e 2005, parece ser o que ainda estabilizaria o País. 

Considerando a delicada situação nacional, demonizar a centro-esquerda é perder uma oportunidade, principalmente de negócios, mais ainda se o isolamento + interdição de sua maior representação, inflamar a “guerra” profetizada pelo ex-ministro Gilberto Carvalho.

* Leopoldo Vieira é especialista em Administração Pública pelo Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB), foi coordenador da accountability do Plano Plurianual Federal 2012-2015  e tem aperfeiçoamento em em Problem Solving in Public Policy: Eightfold Path Approach, pela University of California, Berkeley, e em Engaging Citizens: A Game Changer for Development, pelo Banco Mundial. Como diretor da Trajeto Inteligência Estratégica, organiza o ciclo de lightning talks Idealpolitik-Análise de Cenários.

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