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R$ 5 bilhões e muitas dúvidas: os desafios que guiam o maior IPO da bolsa desde 2013

BR Distribuidora estreia na bolsa na sexta-feira - e muitas questões cercam a companhia
Por  Lara Rizério
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – O maior IPO (Oferta pública inicial, em português) desde 2013, arrecadando R$ 5 bilhões. A Petrobras (PETR3;PETR4) deu mais um passo em seu plano de desinvestimento ao realizar a abertura de capital da BR Distribuidora, que estreia na bolsa na sexta-feira (15) com o ticker BRDT3. 

A notícia é com certeza positiva para a Petrobras, que avança na intenção de vender US$ 21 bilhões em ativos para reduzir a dívida e agilizar as operações. Contudo, muitas questões seguem no radar para a subsidiária da estatal. A oferta de ações refletiu isso, com os papéis saindo a R$ 15 cada, no piso da faixa indicativa de R$ 15 a R$ 19 previsto em seu prospecto. 

Segundo sinalizações dentro da própria empresa, as incertezas com relação à situação política, o cenário de crise fiscal e a dúvida sobre a reforma da previdência levaram o mercado a não se animar tanto com o IPO. Porém, há outras questões que estão no radar que geram insegurança sobre a empresa. 

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Em setembro, os analistas do UBS Luiz Carvalho e Julia Ozenda apontam que a BR Distribuidora poderia ter um valor de R$ 29 bilhões na bolsa. Agora, os analistas ressaltam que o modelo anterior se baseava apenas  em demonstrações financeiras anuais – que não apresentavam as mesmas divulgações que o prospecto publicado na última semana – levando a uma queda nas estimativas para o valor da empresa. 

Entre os pontos destacados, os analistas apontam que o momento para o IPO poderia ser melhor, já que estamos perto do fim do ano, ao mesmo tempo em que há muitas dúvidas relacionadas a questões contábeis no prospecto. Contudo, as duas questões que chamam mais a atenção são a falta de visibilidade na implementação do plano estratégico e o desconforto com o fato de que a Petrobras manterá o controle. 

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“Enquanto a empresa está tentando reduzir as despesas corporativas e melhorar as margens, temos pouca visibilidade sobre como isso poderá ser feito”, afirmam os analistas do UBS. Vale ressaltar que a BR Distribuidora controla a maior rede de postos de gasolina no Brasil, com 8.212 unidades e mais de 1.000 lojas de conveniência. O Brasil tem o sexto maior mercado globalmente para produtos refinados, representando 3% da demanda global. Contudo, ela perde para a Ipiranga e para a Raízen (Shell) quando o assunto é rentabilidade. 

No acumulado até setembro de 2017, a BR Distribuidora registrou a venda de 7,8 bilhões de litros, enquanto gerou caixa de R$ 1,8 bilhão, 18% abaixo dos R$ 2,2 bilhões de caixa registrados pela Ipiranga (que vendeu 6 bilhões de litros no período) e a Raízen (que registrou vendas de 4,6 bilhões de litros). 

E, segundo o UBS, a recuperação das margens da BR pode ser mais difícil do que anteriormente os analistas do banco pensavam. Isso porque as vendas nos postos de gasolina são percentualmente menores no portfólio da BR Distribuidora (50%) do que na Ipiranga e na Raízen (entre 70% e 75%). Assim, considerando que os postos de gasolina são o segmento mais rentável estruturalmente, é provável que a BR tenha dificuldade em alcançar os pares. 

A outra questão apontada é o fato da Petrobras não ter deixado o controle da empresa, o que pode gerar dúvidas sobre os rumos da companhia caso haja uma mudança brusca na gestão com um novo governo assumindo em 2019. 

No começo de outubro,durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, a economista e ex-presidente do Conselho da Eletrobras Elena Landau questionou o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho sobre o motivo pelo qual não se optou pela venda de uma fatia maior da BR Distribuidora. Na mesma linha, em palestra na mesma época, o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, afirmou que a venda da fatia minoritária da BR Distribuidora não era o melhor caminho a ser trilhado, uma vez que a estatal seguiria controladora : “isso é rasgar dinheiro”. “Hoje sabemos que está lá (na Petrobras) o Nelson Carvalho no conselho, o Pedro Parente na gestão. Daqui a três anos ninguém sabe quem estará lá. Os governos arrumam as casas, arrumam as empresas e vem outro e desarruma”, explicou.

De forma a gerar maior atratividade para o papel, a Petrobras prometeu um conselho de administração com pelo menos 50% dos membros independentes. Contudo, com os desafios colocados a cima, a BR Distribuidora já pode estrear na bolsa com muitas questões sobre ela. Por outro lado, ela é vista como um ativo bastante atrativo (e o mercado vê progressos na gestão atual), ao mesmo tempo em que há expectativas de que a abertura de capital possa aumentar a transparência para ela. Enquanto isso, o UBS segue otimista sobre Petrobras, com recomendação de compra para os ativos e preço-alvo de R$ 21,50 para os ativos preferenciais. 

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Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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