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Fundamentos e volta de “sonho antigo” se unem para formar onda perfeita para setor – e ações comemoram

As ações do setor de papel e celulose voltam aos holofotes do mercado - e por muitos bons motivos
Por  Lara Rizério
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – O mês de agosto tem sido alvissareiro para o setor de papel e celulose, que voltou a chamar a atenção do mercado e dos analistas em meio a uma série de notícias positivas e emblemáticos para o setor – apesar da virada para os papéis já ter ocorrido desde o final do primeiro trimestre. Com alta de 28% no acumulado do ano, as ações da Suzano (SUZB5) subiram 26% apenas neste mês, enquanto a Fibria (FIBR3), que sobe cerca de 26% em 2017, vê seus papéis subirem 18% apenas em agosto. Com um desempenho menos brilhante, as units da Klabin (KLBN11) caem 2% no ano, mas já avançam 7% neste mês. 

Alta nos preços da celulose surpreendendo o mercado, levando a revisões para cima nas estimativas para as companhias (também levando em conta previsões mais otimistas de curvas de preços para frente), uma boa atuação das companhias em seus níveis “micro” e possibilidades de consolidação no setor  são alguns dos fatores que têm levado ao ânimo recente com os papéis.

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Tendo em vista o cenário positivo, o BTG Pactual fez um extenso relatório ressaltando a volta do segmento para os “holofotes” do mercado e fazendo ajustes relevantes nas estimativas para os preços da celulose, apontando que os fundamentos estão surpreendendo pelo lado positivo. Para 2017, a previsão do reajuste foi revisada de US$ 700 a tonelada para US$ 792, de US$ 650 para US$ 780 no ano que vem. Para 2019, a previsão foi revisada de US$ 700 a tonelada para US$ 750, enquanto para 2020 a previsão de cotação foi revisada de US$ 700 a tonelada para US$ 720, tendo em vista que os mercados estão muito mais “apertados” do lado da oferta do que o esperado. Além disso, as interrupções da oferta foram uma constante, caso da CMPC, que estendeu a interrupção de sua produção na fábrica de Guaíba (RS). 

Os analistas do banco, Leonardo Correa e Gerard Roure, ressaltam que a oferta vem decepcionando o mercado. “Onde está o tsunami de produção do projeto OKI?”, questionam, ao citar o projeto da APP (Asia Pulp & Paper) que mexeu com os papéis do setor no começo do ano, mas que só deve entrar em operação no ano que vem. Para eles, de qualquer forma, o mercado continua a superestimar a oferta da commodity. Além disso, em conversa com empresas, foi reforçada a visão de que os estoques na China e na Europa estão baixos, o que alivia a pressão sobre os preços.

Assim, “ao contrário do final do ano passado, quando vimos uma ‘destocagem’ agressiva na China, esse movimento parece ser altamente improvável”, afirmam os analistas. Outra grande mudança em relação ao final de 2016 é que o nível de “assimetria informacional” no mercado é extremamente baixo. “No ano passado, tivemos a notícia sobre OKI, por exemplo, e sabíamos muito pouco sobre o que estava por vir. Neste ano, teremos mais informações sobre o que virá”, apontam. 

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Já para o ano que vem, 2018 pode ser de acomodação para os mercados, levando a uma queda nos preços. Contudo, dada a base muito alta e o fato do mercado estar mais equilibrado, há um menor potencial negativo (os analistas preveem que os preços passarão de US$ 792 no final deste ano para US$ 780 em 2017). 

Muito além das commodities…

Além do preço da celulose com atenção especial para China e novos projetos no radar, o noticiário das empresas brasileiras está bastante movimentado, com atenção para as apostas sobre quem levará a Eldorado, que está à venda pela J&F. Se, por um lado, a notícia movimenta o mercado, por outro, os analistas ressaltam que, independentemente de quem assumir o ativo, não espera-se que a dinâmica dos preços de curto prazo sofra, nem que os players locais paguem muito caro caso queiram levar a companhia. Por enquanto, as últimas notícias apontam que a APP deve levar a empresa da controladora da JBS. 

E é justamente a perspectiva de um novo competidor estrangeiro que tem levado o mercado a colocar no radar um outro mega movimento para o setor: a fusão entre Fibria e Suzano. A avaliação sobre a junção entre as duas companhias, um “velho sonho” do mercado, voltou a ganhar força após a  notícia do Valor Econômico apontando que a possível fusão é bem vista por executivos de ambas as empresas.

Conforme apontou o analista da XP Investimentos, Marco Saravalle, durante o programa XP Connection da última quarta-feira, a união entre as duas companhias tem chance de acontecer – mas não deve ocorrer no curto prazo e depende ainda de alguns outros fatores – sendo um deles justamente a venda da Eldorado (e quem ficará com ela). Veja o XP Connection clicando aqui

“[A fusão] é um cenário possível e acreditamos que ela possa acontecer, só não acreditamos que isso deva ocorrer no curtíssimo prazo. (…) No cenário-base, seria bom para os dois  papéis”, avaliou Saravalle durante o XP Connection. Ele lembrou ainda que, enquanto a Fibria já está no Novo Mercado (segmento com as regras mais rígidas de governança da B3), a Suzano anunciou no início do mês que irá migrar para o segmento e fará a conversão das ações preferenciais da companhia em papeis ordinários na proporção de 1 para 1. “A Suzano não migraria para o Novo Mercado fazendo essa conversão se não tivesse algo para acontecer, o que poderia ser a fusão com a Fibria”, ressaltou o analista.

Na mesma linha, os analistas do BTG ressaltaram que, mais a longo prazo, atribuí-se uma probabilidade muito alta de que Fibria e Suzano se juntem, criando assim muito valor aos acionistas. Eles também reforçam que o último movimento da Suzano para a entrada no Novo Mercado foi um passo importante nessa direção. 

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Já ao ser questionado sobre possíveis impedimentos da fusão pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Saravalle ressaltou que o Conselho tenderia a ver a operação globalmente, já que grande parte da produção é exportada. Por essa ótica, haveria menos impedimentos à criação da gigante do setor de papel e celulose. Contudo, apesar de apontar que haveria sinergias importantes caso elas se fundissem, o analista ressalta o noticiário ainda é muito especulativo. 

Qual ação investir?

Tendo em vista esse cenário, os analistas fazem as contas e ressaltam quais são as ações que podem ser mais beneficiadas no atual cenário. Enquanto o Bank of America Merrill Lynch recomenda compra para Fibria e Suzano, os analistas do BTG vão além e colocam a Suzano como top pick do setor. 

“Há muito tempo nós argumentamos que a Suzano está sendo negociada a um múltiplo descontado e nós não estaríamos se os múltiplos fossem para o nível de 7 a 7,5 vezes a relação entre o valor da empresa e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações)”, destacam, lembrando ainda o movimento recente para a entrada no Novo Mercado. Além disso, operacionalmente, a companhia continua a surpreender as estimativas mais otimistas em termos de desempenho de custos e mais valor deve ser extraído de seus negócios adjacentes. Assim, o BTG não vê os papéis negociando em níveis condizentes com a qualidade dos ativos e melhora na governança corporativo. Com isso, os analistas elevaram o preço-alvo de R$ 18 para R$ 23. 

Confira abaixo o desempenho das ações da Suzano nos últimos meses:

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Já o preço-alvo da ação da Fibria foi elevado de R$ 38 para R$ 45, também com recomendação de compra. Os analistas ressaltam que a companhia sofreu com o aumento dos índices de alavancagem e de custos.  . “No entanto, acreditamos que os números operacionais e as métricas de alavancagem devem melhorar significativamente com avanços de projetos no segundo semestre com menor custo global”, avaliam, o que torna inegável a perspectiva de uma melhora nas métricas da companhia. Além disso, os analistas não acreditam que a companhia poderá fazer uma ofensiva para levar a Eldorado e pagar um preço alto pelo ativo, o que dá “conforto” para a recomendação dos analistas. 

Confira abaixo o desempenho das ações da Fibria nos últimos meses:

Por fim, a Klabin segue com recomendação neutra, tendo o preço-alvo elevado em R$ 1,00, de R$ 18 para R$ 19, apontando que, embora veja como positivo o projeto Puma (ainda mais tendo em vista a melhor perspectiva para o setor de papel e celulose), os múltiplos das units estão sendo negociados a níveis razoáveis e o mercado ainda esperará mais para precificar os ativos. 

Em meio a tantas notícias tanto do ambiente macro quanto micro para o setor, o mercado volta a olhar com atenção para as empresas do setor de papel e celulose, em especial para Suzano e Fibria. Se no longo prazo, a perspectiva é de que elas virem uma só, o curto prazo também traz boas notícias para as companhias. 

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Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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