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Com apenas 5 linhas, Caixa faz queridinha das seguradoras desabar 20% – mas nada está definido

Por sinal, o imbróglio pode se arrastar até 2021 em meio à novela da renovação ou não da Caixa com a francesa CNP
Por  Lara Rizério
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – A semana foi repleta de fortes emoções para a Wiz (WIZS3), seguradora que é “queridinha” de diversas casas de análise. 

Na última quarta-feira, a companhia entregou fortes resultados, conforme destacou o BTG Pactual, com a receita apresentando alta de 30% na comparação anual e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) tendo alta de 15% na mesma base de comparação, apesar dos efeitos não-recorrentes.

Após o balanço, os analistas do banco destacaram continuar bastante positivos com o papel, apontando-a como a top pick entre as small caps e também no setor de seguros. A companhia também segue com recomendação de compra pelo Bradesco BBI, enquanto os seus pares no setor, Porto Seguro (PSSA3) e SulAmérica (SULA11), BB Seguridade (BBSE3) possuem recomendação de venda, neutra e neutra, respectivamente. 

Porém, um fantasma que vem recorrentemente assombrando os investidores da Wiz assustou com grande força o mercado nesta sexta-feira, fazendo com que os papéis chegassem a cair 20%. O motivo para tamanha queda foi um comunicado de apenas cinco linhas da Caixa Seguridade, informando a decisão da francesa CNP Assurances de encerrar em 14 de fevereiro de 2021 o acordo operacional de exclusividade que detém com a Caixa Seguros Holding (51% pertencente à CNP e 40% à Caixa Seguridade) para o acesso exclusivo a rede de distribuição da Caixa para a venda de seguros. 

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O impacto ocorre uma vez a Wiz é corretora exclusiva da Caixa Seguradora nas agências do banco. Em outras palavras, o entendimento é que a rescisão deste contrato desencadearia também a rescisão do contrato de exclusividade entre a Wiz e a Caixa Seguros.  

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O impacto

Os analistas do BTG Pactual, inclusive, classificaram o comunicado da Caixa Seguros como o último capítulo da “saga francesa-brasileira”, uma vez que a novela já se arrasta por alguns meses, sempre dando sustos para as ações da Wiz. 

O comunicado de hoje foi curto e grosso: “a CAIXA Seguridade Participações S.A. informa ao mercado em geral que comunicou à CNP Assurances S.A., nesta data, sua decisão de encerrar em 14 de Fevereiro de 2021 o Acordo Operacional vigente que disciplina o acesso exclusivo por parte da coligada Caixa Seguros Holding S.A. e suas controladas à rede de distribuição da CAIXA”. 

Contudo, conforme ressaltou o BTG, ele foi praticamente igual ao divulgado pela CNP 45 dias atrás: “como a CNP Assurances e a Caixa Seguridade não conseguiram chegar a um acordo sobre a renovação, a partir de fevereiro de 2021, do contrato de distribuição de produtos de sua filial comum no Brasil, a Caixa Seguros, da rede Caixa Econômica Federal, as discussões foram interrompidas”.  

Segundo aponta o BTG, esta pode ter sido ou exigência regulatória ou até estratégia de negociação. Ou seja, faz parte do “jogo” de negociação entre as duas empresas. Assim, os analistas Eduardo Rosman e Thiago Kapulskis continuam avaliando que o cenário mais provável é a de renovação com a CNP.

“Dado que o contrato é vigente até 2021, é difícil acreditar que outra companhia, além da CNP, estaria disposta a pagar hoje por uma receita gerada a partir de 2021. Além disso, economicamente para Caixa e do ponto de vista operacional, faria muito mais sentido um potencial novo entrante entrar no lugar da CNP na Caixa Seguros. Nesse cenário, nada mudaria pra Wiz”, afirmam os analistas. 

Os dois cenários – e o que esperar para cada um deles

Já o Itaú BBA destaca dois cenários que devem ser considerados pelos acionistas: i) a Caixa Seguridade estabeleceria uma relação com outro/alguns outros seguradores e a Wiz acabe não sustentando o seu papel como seguradora nos moldes atuais – o que seria muito negativo ou ii) A Caixa Seguridade estabelece uma relação com outros (ou alguns outros) seguradores e a Wiz sustenta seu papel de corretora neste quadro, o que é visto como mais provável.

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Neste segundo cenário, a Wiz teria que negociar novos acordos com outros subscritores escolhidos pela Caixa, podendo levar a resultados semelhantes, melhores ou piores do que o contrato que possui atualmente com a Caixa Seguros. A Wiz não deverá sair perdendo, de acordo com os analistas do Itaú BBA, uma vez que tem feito um bom trabalho, e que tem claramente se refletido nos ganhos de participação do mercado para a Caixa.

Além disso, há um outro fator que aponta para um desfecho positivo: os acionistas controladores da Wiz, antiga Par Corretora, tem como principais acionista a Fenae (Federação dos Funcionários da Caixa), a Caixa Seguradora e a GP Investments.  “Do ponto de vista político, pode ser delicado excluir Wiz do ecossistema de seguros da Caixa, devido às consequências negativas para a Fenae. Por último, trazer outro corretor de seguros para o ecossistema da Caixa leva a mudanças complexas, como de Tecnologia de Informação, o que pode ser indesejável”, afirmam os analistas. 

Em conversa com a Caixa Seguridade nesta sexta, após o comunicado (e a queda das ações), o Itaú BBA acabou confirmando a sua avaliação. De acordo com a empresa, o comunicado da véspera não significa que a CNP estará necessariamente fora do ambiente de seguros da Caixa – o resultado final dependerá, em última análise, de decisões que a Caixa Seguridade deve assumir, com a ajuda de seus assessores. Além disso, é possível que a Caixa tenha mais de um parceiro no seu sistema de seguro no futuro, o que poderia incluir o CNP ou não (mais uma vez, isso ainda está indefinido). Durante a conversa com a empresa, os analistas do Itaú BBA também fizeram questão de reforçar a questão sobre a satisfação com os serviços da Wiz – e a resposta foi positiva.  

O BTG Pactual apontou ainda que, em um cenário extremo, onde o contrato da Caixa Seguros acaba em 2021,  deixando assim a Wiz sem um contrato de exclusividade, mesmo assim os analistas continuam avaliando que a Wiz tem todas as condições de ser a corretora exclusiva. 

A Suno Research também apontou para dois cenários: um ruim e um positivo para a Wiz. No negativo, a empresa continuará com sua estrutura atual até 2021, e estes contratos remanescentes (que já estão performando) vencerão aos poucos. Contudo, ao longo deste período, a empresa deverá entregar em torno de 70% do valor de mercado em dividendos para os acionistas. Ainda assim, a empresa continuaria com suas outras operações, como a Finanseg, por exemplo, e novos investimentos que a empresa pretende realizar de forma a diversificar seus negócios, sem ter que depender exclusivamente da Caixa. 

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Já o segundo cenário, positivo, é a companhia conseguir entrar novamente em operações de seguros formalizando novos contratos, seja com a Caixa Seguradora ou com novos players. “Este cenário seria bastante positivo, já que mitigaria o atual risco da empresa e a companhia teria um contrato de mais 15 ou 20 anos para operar no longo prazo”.

Queda exagerada?

Olhando para todos esses fatores, o Itaú BBA ressaltou que a queda das ações da companhia é bastante exagerada, mantendo recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) com preço justo de R$ 21,00, “embora o nível de confiança neste case tenha naturalmente diminuído”. Já o BTG afirmou que essa queda pode levar a uma oportunidade de compra. 

Contudo, ressaltam os analistas do Itaú BBA, é bom ficar preparado para novas emoções: a WIZ provavelmente estará sujeita à volatilidade na esteira de novas notícias sobre anúncio, particularmente enquanto o grau de incerteza nesta frente permanecer alto.

“Os investidores provavelmente exigirão um maior potencial de aumento para estarem expostos ao papel, o que pode impedir que ele atinja os múltiplos que seriam possíveis devido ao seu crescimento e perspectivas de dividendos à frente”, apontam os analistas do Itaú BBA, lembrando que os resultados do segundo trimestre foram notáveis ??e deram o tom para um catalisador à frente.  

Conforme destacou um gestor ao InfoMoney, o processo de negociação pode continuar até 2021, quando vence o contrato. Até lá, novas emoções devem guiar os investidores – e os termos do contrato estarão bem atrelados à importância da Wiz para a operação da Caixa. Por enquanto, ele apontou, as perspectivas são positivas: “a Wiz está muito bem posicionada nesse cenário e tem se tornado uma peça cada vez mais estratégica e relevante do ‘ecossistema’ da Caixa”, apontou.

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Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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