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Com ventos favoráveis, “janela de compra” está aberta para as siderúrgicas – mas o tempo é curto

Analistas destacam notícias com potencial positivo para o curto prazo após meses de volatilidade
Por  Lara Rizério
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – Dono de um desempenho pouco expressivo em geral no ano de 2017, o setor siderúrgico volta a ganhar a atenção dos analistas de mercado. Além de uma série de notícias positivas para o setor no curto prazo, diversos bancos voltam seus olhares para os balanços do segundo trimestre de 2017 a serem divulgados entre o final deste mês e o começo de agosto – e com expectativa de que algumas empresas tragam surpresas positivas. 

Contribuindo para o nervosismo até então do setor, está a volatilidade do mercado global de aço, afetando o setor em meio à intensa oscilação na China (HRC começou o ano em US$ 500 a tonelada, corrigiu para US$ 410 e depois voltou para US$ 480 a tonelada).

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Contudo, no curto prazo, os ventos externos têm sido favoráveis: expansão do “metal spread” (diferença entre o preço da matéria-prima e do produto final) na China, a alta da demanda aparente de aço em 7% na comparação anual, os estoques balanceados, restrições de oferta/cortes de capacidade, exportações chinesas mais lentas, múltiplas fontes de protecionismo (com atenção para o caso dos EUA, que detalharemos mais abaixo) podem gerar um efeito positivo para algumas empresas brasileiras com a estabilização dos preços das matérias-primas.

“Dito isso, as variáveis parecem apoiar o setor no curto prazo e, com isso, vemos uma ‘janela de compra’ aberta”, apontam os analistas. E não é só o cenário externo que está positivo.  Enquanto isso, o Brasil ainda desponta para uma recuperação, com os aços planos registrando um desempenho superior aos aços longos, como reflexo de uma melhora no setor automotivo.

Protecionismo nos EUA: ponto para a Gerdau

Sobre as questões protecionistas e os seus impactos nas empresas brasileiras do setor, a chamada investigação 232 feita pelos EUA (que trata dos riscos à segurança  representados pelas importações de aço) ganha especial importância. Em apresentação recente, o CEO da Gerdau (GGBR4), André Gerdau Johannpeter, afirmou esperar que, como produtora norte-americana, a siderurgia desfrute dos benefícios da investigação da Seção 232 e as possíveis medidas subsequentes para combater o comércio desleal.  

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O atual governo americano estuda a revisão das importações de aço em meio à suspeita de que as importações das commodities possam estar prejudicando seus interesses. Em caso de uma decisão protecionista, o governo poderá impor elevadas taxas alfandegárias; com uma grande operação nos EUA, a Gerdau pode ser uma beneficiária deste movimento.  

A visão é corroborada pelo Bradesco BBI que, em relatório, destacou que a empresa se beneficiaria tanto em termos de preços quanto de volumes. O spread de metal norte-americano se expandiria entre US$ 50 a tonelada e US$ 100 a tonelada, com a Gerdau também ganhando participação de mercado das importações, apontam os analistas. 

Porém, vale ficar atento às reações de outros mercados, aponta o Credit Suisse, a depender da medida a ser implementada. Uma possível medida como “cota tarifária deve ter um impacto menos agressivo, uma vez que é preciso atingir um determinado patamar de importação antes de que a tarifa vigore. Assim, em um primeiro momento, o anúncio da Seção 232 deve levar os investidores a ficarem mais otimistas com as siderurgicas americanas e negativos com as europeias. No entanto, a Europa deve também implementar alguma medida para se proteger e evitar um potencial deslocamento da oferta que era para os EUA para o continente. Outras regiões do mundo devem ser vistas com cautela, caso outro país não implemente medidas de protecionismo”, afirmam os analistas.  

Dumping de aço

Outro tema que ganha destaque é sobre a investigação do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) sobre suposta existência da prática de dumping nas exportações de aço planos laminado a quente da Rússia e da China para o Brasil. O ministério investiga se empresas dos dois países estão trazendo ao país mercadorias com preços mais baixos que o valor normal. Pelo cronograma estabelecido, o Departamento de Defesa Comercialtem ate o dia 31 para divulgar a decisão final e, após isso o MDIC tem um prazo para dar sua opinião (com expectativa de uma decisão final entre agosto e setembro). 

Caso o MDIC seja favorável a medidas antidumping, espera-se uma queda de importação de aço dos dois países mesmo antes de as novas regras serem aplicadas. “A decisão poderia trazer um melhor ambiente para preços no Brasil. O principal impacto seria um suporte para os preços atuais e, consequentemente, uma menor demanda por parte dos clientes por reduções de preços”, afirmam os analistas do Credit. 

Porém, os analistas ressaltam que as possíveis medidas não trariam um impacto tão significativo no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). Além disso, os aumentos de preços para os laminados planos nao devem ser fáceis de implementar, principalmente em funcao de um nivel de estoque bastante alto. De qualquer forma, caso a decisão seja favorável, a notícia deve ser positiva para as companhias. 

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Mais um catalisador: os resultados

Além de todos esses acontecimentos, as próximas semanas devem reservar um novo catalisador para as ações do setor e a separar o “joio do trigo”, em meio aos resultados do segundo trimestre de 2017. As casas de análise, aliás, já apostam nas vencedoras: Gerdau e Usiminas (enquanto a CSN não aparece como destaque entre as casas de análise). 

O BTG Pactual avalia que o resultado da Gerdau (a ser divulgado no dia 9 de agosto, antes do pregão) deve ser bom e superar as estimativas do mercado, um dos fatores para a ação da companhia ser a top pick do setor. O BofA também aponta para resultados sólidos e expectativa de Ebitda de R$ 1,081 bilhão no período. 

“A Gerdau deve ter uma recuperação sólida após um primeiro trimestre muito fraco”, aponta o Citi. Em suas estimativas, os analistas do banco veem a margem Ebitda do Brasil atingindo 15% (versus 14% no primeiro trimestre deste ano) com melhores preços. Já a margem Ebitda dos EUA deve atingir 7% (contra 4% nos primeiros três meses do ano) por conta de melhores volumes e maior spread no metal. Por outro lado, para o ano, o banco reduziu as estimativas do Ebitda de R$ 4,6 bilhões para R$ 4,4 bilhões devido a uma recuperação mais lenta da economia brasileira. 

Além da Gerdau, surpresas positivas também podem vir da Usiminas, aponta o Citi. A companhia, que apresentará seus números no próximo dia 28, deve apresentar uma forte margem (de 20% nas estimativas do Citi), enquanto o Ebitda deve cair 9% na comparação trimestral. Além disso, espera-se que os embarques de aço aumentem 4% na mesma base, impulsionados pelas vendas de exportação mais fortes.  

Como você viu nos parágrafos acima, muitos catalisadores estão no radar para as siderúrgicas, com destaque para a Gerdau e a Usiminas. Assim, o investidor do setor deve acompanhar de perto os próximos acontecimentos, com destaque especial para a temporada de resultados. Afinal, após acumular ganhos de apenas 1% no ano, a Gerdau vai conseguir se se animar na Bolsa? A Usiminas vai continuar subindo após acumular ganhos de 20% em 2017? O desfecho dos eventos listados acima serão cruciais para determinar se os ventos vão seguir a favor do setor. 

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Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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