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Fujam do Brasil ou grande oportunidade? As previsões e ações de analistas e gestores após a “bomba política”

Desde a última quinta-feira, analistas e gestores têm revisado cenário para os investimentos - e divergem entre cautela e otimismo
Por  Lara Rizério
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – O Brasil acabou para os investidores ou essa é uma grande oportunidade para investir? 

 É esse o dilema que os investidores enfrentam desde quarta-feira à noite após a eclosão da nova crise política, que tornou o presidente Michel Temer alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) e fez o cenário para as reformas, que já era complicado, muito mais nebuloso.

Após essas revelações, as principais casas de análise e bancos passaram a revisar as suas perspectivas para o Ibovespa e para as ações do índice, revendo a sua estratégia de papéis mais arriscados para papéis mais resilientes, enquanto muitos investidores estrangeiros destacaram a grande oportunidade para comprar as ações.

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A avaliação geral é de que, independentemente de Michel Temer continuar no cargo de presidente ou não, o que importa é a continuidade ou não da agenda de reformas. Neste sentido, os analistas se dividem sobre o quão urgente essa agenda tem que ser votada – e se ela conseguirá ser votada. Enquanto algumas casas de análise reduziram as suas estimativas para o Ibovespa ao ver o cronograma bastante comprometido, outras destacaram que não há tanto motivo para pessimismo. De qualquer forma, a palavra de ordem é cautela e, cada vez mais, os analistas recomendam ações de empresas resilientes.  Outras ainda destacaram os efeitos que a hecatombe política pode ter para as eleições presidenciais de 2018. Abaixo, o InfoMoney traz uma compilação do que cada casa de análise espera para a Bolsa, além da análise de muitos estrangeiros que estão vendo boas oportunidades de compra no mercado brasileiro em meio à hecatombe política. Confira:

UBS

Na quinta-feira, um dia após a eclosão da crise política, o banco UBS traçou o cenário para a crise política e em quais ações  aponta que o cenário mais benigno seria se acusações fossem rapidamente refutadas. O ambiente “meio-termo” para o mercado envolveria a renúncia do presidente, seguida pela eleição de um líder que manteria a atual equipe econômica e tentaria reiniciar os esforços com as reformas, criando incertezas de curto prazo. O cenário mais negativo seria processo de impeachment, que traria incerteza política prolongada. Neste cenário, o UBS recomendou ações com ganhos em dólar e bons balanços. São elas: Ambev (ABEV3), QGEP (QGEP3), Cesp (CESP6), Transmissão Paulista (TRPL4), Telefônica Brasil (VIVT4), Klabin (KLBN11) e BRF (BRFS3).

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Morgan Stanley

Também na quinta-feira, o Morgan Stanley destacou que a agenda de reformas do Brasil está morta até o início de um novo ciclo político. O estrategista Guilherme Paiva destaca o cenário negativo com o Ibovespa a 50 mil pontos e aponta que o case de investimentos para as ações brasileiras passa a ser relacionado à eleição presidencial de 2018. “Precisamos reavaliar o mercado a um nível de preços que leve em conta: 1) a liderança do ex-presidente Lula nas pesquisas; 2) a ausência de um candidato definido com políticas macroeconômicas ortodoxas e 3) o fato de haver um longo período de quase 18 meses até a eleição presidencial de 2018.

Neste cenário, o estrategista aponta preferência por empresas de alta qualidade e com balanços sólidos, que devem ser capazes de suportar o período prolongado de incerteza política e fraqueza econômica. “Destacamos a Ambev, a Fibria (FIBR3), a Odontoprev (ODPV3) e a Ultrapar (UGPA3)”.

JPMorgan

Também na quinta-feira, JP Morgan cortou a recomendação para as ações brasileiras para neutra. “Ainda que a tendência positiva para crescente atividade econômica e taxas de juros mais baixas deva persistir, nós rebaixamos taticamente as ações brasileiras de overweight para neutra em meio à percepção de risco maior de execução para aprovação das reformas”, escreveram estrategistas do JP Morgan liderados por Pedro Martins Junior em nota.

O JP Morgan informou que as incertezas decorrentes do escândalo devem levar os investidores a reduzir a exposição a ações sensíveis às taxas de juro e ao crescimento, bem como elevar o peso de ações fora do setor financeiro, de matérias-primas e papéis defensivos atrelados ao dólar.

Santander

Nesta terça-feira, o Santander reduziu a recomendação para as ações brasileiras, que passou de overweight para neutra, enquanto a de ações do México foi elevada de neutra para overweight. O banco também reduziu projeção para o Ibovespa no final de 81 mil pontos para 67 mil pontos.  

Além disso, os estrategistas destacaram que a crise no Brasil respinga na região como um todo. “A visão positiva sobre a recuperação da América Latina está temporariamente (não estruturalmente) adiada devido à menor probabilidade da entrega da agenda de reformas do Brasil”.

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Entre as dez ações de América Latina preferidas pelo Santander, as inclusas foram as seguintes. Do México: Alsea, Banorte, Gap e Pinfra; do Brasil: Energisa (ENGI11), Itaúsa (ITSA4), Lojas Americanas (LAME4), Localiza (RENT3); da Argentina: TGS; do Chile: Itau Corpbanca. As removidas foram Bradesco (BBDC4), Gruma, Hypermarcas (HYPE3), Pampa Energia e Taesa (TAE11). 

Itaú BBA

O Itaú BBA também cortou recomendação de overweight para equalweight, enquanto o México também cortado para equalweight. O banco espera uma “maior volatilidade relacionada com a incerteza da reforma da Previdência” e introduz um portfolio “mais resiliente” no Brasil. 

Neste cenário, os estrategistas introduziram um portfólio muito mais conservador ao adicionar Embraer (EMBR3), Minerva (BEEF3), Suzano (SUZB5), Telefônica Brasil Hypermarcas e Ultrapar”. Bradesco, Vale (VALE5), Sabesp (SBSP3) e Energias do Brasil (ENBR3) mantidos em overweight, enquanto Petrobras foi alterada para equalweight. 

BTG Pactual

Outro banco a revisar as suas recomendações foi o BTG Pactual que, dada a expectativa do aumento do custo de capital, acreditam que se o índice cair para faixa entre os 55.000 pontos e 52.000 pontos “não será uma surpresa”.

Em meio ao cenário de aversão, eles mudaram suas recomendações para ações, saindo papéis com beta elevado – que são mais sensíveis aos movimentos do Ibovespa – e entram papéis com forte exposição ao câmbio. Isso porque, em um cenário “bear” (pessimista), de não aprovação da reforma da Previdência, os analistas do banco veem o dólar a R$ 3,45 até o final do ano (versus R$ 3,05 no cenário-base, antes do estouro da bomba em Brasília); e em R$ 3,65 no final de 2018. Outra consequência imediata ocorre na Selic, cujas projeções apontavam uma taxa entre os 7,5% e 8,5% até o fim deste ano; e agora muitos já duvidam até mesmo de cortes abaixo dos 9%.  

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Com isso, eles optaram por incluir neste momento os papéis da Suzano, Embraer e Minerva  – ambos com exposição ao dólar -, além de Fleury (FLRY3), “ação de alta qualidade”. Em contrapartida, saem as ações da Petrobras (PETR4), Itaú Unibanco (ITUB4), BM&FBovespa (BVMF3) e Rumo (RAIL3) – papéis com beta elevado e, no caso da Rumo, empresa altamente endividada, que sofre com uma Selic maior.  Estão ainda no portfólio de 10 ações do BTG a Multiplan (MULT3), Equatorial (EQTL3), Klabin (KLBN11), Telefônica Brasil, BB Seguridade (BBSE3) e Cosan (CSAN3).

Deutsche Bank

Enquanto isso, o banco alemão Deustsche Bank também ligou o sinal de alerta para o Brasil, tornando-se underweight com relação às empresas brasileiras (dentro do portfólio de América Latina, com exceção da Ásia), mas apontando preferência por Petrobras e exportadoras, estas últimas mais isoladas de dinâmicas domésticas potencialmente muito mais desafiadoras.

“Acreditamos que o caminho dos fundamentos de crédito no Brasil está em uma delicada encruzilhada e o momento de uma eventual estabilização da situação política é crítico para a continuação da história de recuperação para as empresas. A alavancagem (dívida líquida em relação ao EBITDA) permanece elevada no Brasil em cerca de 3,7 vezes, em comparação com o múltiplo de 2 vezes em outras regiões emergentes (com exceção do Chile e da China)”. 

Neste cenário, apontam os estrategistas, eventuais rebaixamentos de ratings de crédito soberano representam um alto risco para os ratings de cerca de 60% do universo de empresas brasileiras.

O relatório aponta ainda que, mesmo se o presidente Michel Temer sobreviver à turbulência política, ele terá “muito menos capital político para aprovar reformas impopulares”, como a Previdência. O banco ainda rebaixou o crédito soberano para underweight, por provável nova pressão de reprecificação e também revisou a recomendação da Argentina para marketweight, devido à correlação com o Brasil. Além disso, apontou: a negociação do dólar deve ficar entre R$ 3,50 e R$ 3,60 com rumores de impeachment de Temer, longe de ficar acima dos R$ 4,00, como no caso da ex-presidente Dilma Rousseff.

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Bank of America Merrill Lynch

Em relatório, o Bank of America Merrill Lynch destacou que, em meio ao barulho político, os catalisadores-chave para o Ibovespa estão em risco, incluindo: i) a agenda de reformas; ii) a recuperação do crescimento e iii) o ciclo de queda de juros. Assumindo que não há crescimento dos lucros e o valuation em linha com o histórico, o índice poderia cair para 55 mil pontos. 

Em um outro documento em que trata sobre o setor de papel e celulose, o BofA destaca as ações de Fibria e Suzano em meio aos preços de celulose mais altos e também levando em conta a alta do dólar. Vale ressaltar que, em meio à crise política, os papéis têm sido destaques de ganhos.

E quem está otimista (ou menos pessimista)?
Todos os cenários vistos acima são de bastante cautela para o Ibovespa, mas há quem esteja bastante otimista, conforme destacado por notícia da Bloomberg na última segunda-feira: “o Brasil é atraente demais para investidor temer crise”, apontando ser essa a percepção de  alguns dos maiores gestores de recursos do mundo, que preveem que a investigação envolvendo o presidente não tirará a recuperação econômica do País dos trilhos.

Para Mark Mobius, presidente executivo da Templeton Emerging Markets Group, os investidores deveriam considerar comprar ativos brasileiros com preços em queda em meio à crescente preocupação no campo político e investigações de corrupção. “Eu acho que é incrível o que esta acontecendo no Brasil. É revolucionário e sem precedentes. Em nenhum lugar do mundo você teve tal movimento, e será muito bom para o país. É definitivamente o momento para estar mais ‘bullish’ em Brasil. Agora, com a retração (de preços), é uma oportunidade incrível”, afirmou. Mobius ainda apontou que ativos do setor de consumo estão interessantes.  “Se você olhar para o mercado de consumo, por exemplo, terá de haver uma retomada. Então qualquer empresa do mercado de consumo deverá estar bem”.

Já Bryan Carter, chefe de renda fixa para mercados emergentes da BNP Paribas Investment Partners em Londres, que comprou dívidas do Brasil quando os preços caíram na semana passada, afirmou: “as fortes baixas são simplesmente oportunidades de compra, e o que está acontecendo no Brasil é positivo para as instituições a longo prazo. Essa investigação provou a independência do Judiciário, do procurador-geral, da polícia e do Supremo Tribunal Federal, que se mostraram livres de pressão presidencial. Que outro mercado emergente pode ostentar instituições tão fortes? A democracia brasileira está mais forte que nunca. Isto é muito, muito positivo a longo prazo.” Outras grandes gestoras, como a Aberdeen Asset Management e BlackRock também apontaram otimismo com o Brasil, como você pode conferir aqui.

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Além dessas, a consultoria britânica Ashmore apontou que o mercado vem precificando um cenário de não aprovar a reforma da Previdência, além da possibilidade de que Lula volte ao poder por meio de eleições diretas, “o que parece excessivamente negativo” para a agenda econômica. 

De acordo com a consultoria, não há dúvidas de que a mudança na previdência é importante para a perspectiva fiscal a longo prazo, mas as finanças públicas nacionais poderão lidar com um atraso no cronograma até que a próxima administração tome posse. Segundo eles, o próximo governo não teria muita escolha sobre o assunto. ainda mais levando em conta a PEC do teto de gastos, que limita os gastos públicos. A gestora destaca que nomes de políticos como de Lula tem baixas chances de serem eleitos e aponta nomes como de João Doria (PSDB) como com grandes chances de se elegerem para 2018. Além disso, os estrategistas apontam que, após uma longa recessão, a economia brasileira está lentamente voltando a se recuperar.  

Assim, os bancos e grandes investidores estão de olhos bem abertos com o Brasil e seguem com perspectivas positivas para o País. Porém, em meio ao cenário nebuloso, o momento é de cautela – e de mudança na exposição de ações. Com a hecatombe política, todo cuidado parece pouco. 

 

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Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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