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De volta à realidade, minério cai 30% em dois meses e puxa Vale para baixo: o que fazer com a ação?

A realidade chegou para o setor de mineração e analistas apontam: mesmo com a forte queda da ação da Vale, ainda não é hora de comprar a ação
Por  Lara Rizério
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – De US$ 95 a US$ 66 em cerca de dois meses – uma baixa de quase 30%. Foi esse o movimento do minério de ferro: da glória à derrocada, a commodity teve uma forte queda nos últimos meses, entrando em bear market (baixa de 20% desde a máxima) e continuando o movimento de baixa – e levando as ações da Vale (VALE3;VALE5) para o mesmo cenário. 

A última terça-feira foi emblemática neste sentido: com a baixa de 8,5% do minério em Qingdao com a China desovando estoques, as ações da mineradora tiveram uma baixa superior a 4%. Já nesta segunda, a queda foi de 3,5%, com o minério chegando a US$ 66,25 e levando a mineradora a cair cerca de 2% na mínima do dia. Se contar do dia 20 de fevereiro (quando o papel PNA fechou cotado a R$ 34,24) até a sessão desta segunda, quando o papel marcou uma mínima a R$ 25,75, houve uma queda de cerca de 25% em pouco menos de dois meses. Ou seja, os papéis da mineradora caíram quase que no mesmo ritmo que a derrocada do minério.

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Alguns fatores estão por trás dessa derrocada: além do ânimo exacerbado até fevereiro (muitos analistas previam uma queda forte do minério após a commodity beirar os US$ 100 a tonelada) dando lugar ao ceticismo, o sinal da volta de muitas empresas juniores no mercado com a alta do minério, levando ao aumento da oferta também contribuíram para a baixa, assim como as perspectivas de mudança na matriz de crescimento econômico chinês. Nesta segunda-feira, nem mesmo o PIB da China levemente maior do que o esperado, com alta de 6,9% no primeiro trimestre ante expectativa de 6,8% ajudou a melhorar o cenário. Isso porque o aumento dos estoques de minério de ferro nos portos e as expectativas de que a demanda vai desacelerar com Pequim tentando esfriar a atividade do setor imobiliário afetaram os preços.

Vale: nada de otimismo após as quedas recentes

Em meio a todas essas indicações de que o rali do minério chegou ao seu fim, quais são os impactos para as ações da Vale e o que fazer com elas em meio a esse cenário negativo? A palavra, como não poderia deixar de ser, é cautela – e nada de otimismo para a mineradora, apesar da forte queda recente. 

Em relatório da semana passada, os analistas do Bradesco BBI Thiago Lofiego e Arthur Suelotto apontam que o cenário agora para o minério é de “volta para a realidade”, com a commodity chegando aos US$ 60 esperados pelo banco tanto para o segundo semestre deste ano quanto para 2018. 

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Para os analistas, a pressão continua e ainda é cedo para “pular” na Vale. “Enquanto a mineradora deve gerar fluxos de caixa saudáveis ??mesmo com preços deprimidos de minério de ferro (eles preveem um retorno sobre o fluxo de caixa livre de 9,9% com o minério a US$ 55 a tonelada, 13% a US$ 60, 17% a US$ 65 e 20% a US$ 70 a tonelada), nós acreditamos que o sentimento negativo deva persistir nos próximos meses, pressionando a a ação da companhia”, apontam Lofiego e Suelotto.

Eles apontam que a ação da Vale está agora refletindo o minério de ferro a US$ 60 a tonelada, mas uma baixa mais forte do minério pode levar a uma queda do papel em meio à maior percepção de risco. “Dito isto, pensamos que é muito cedo para comprar nos ‘mergulhos’ e esperamos uma correção adicional que nos tornem positivos sobre as ações. Nós mantemos nossa avaliação neutra, com preço-alvo de US$ 11,50 por ADR”, afirmam.

Além disso, eles apontam: “assim como estávamos no caminho para cima, onde o sentimento positivo levou a uma mudança irracional nos futuros de minério de ferro, o que, por sua vez, teve impactos nos mercados físicos, agora pensamos que o contrário também pode acontecer. A recente deterioração do sentimento pode provocar uma nova correção nos preços futuros (especialmente nas bolsas de mercadorias futuras), que podem influenciar as negociações sobre os mercados a preços abaixo dos níveis de ‘equilíbrio’ – que estimamos ser de cerca de US$ 60 a tonelada”.

 Os analistas do Bradesco BBI também fizeram um teste de sensibilidade para os ADRs da Vale e as perspectivas para o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), a relação entre o EV (Valor da Empresa) e o Ebitda e o retorno sobre o fluxo de caixa livre em diferentes cenários para o minério de ferro, como você pode conferir abaixo:

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Outra casa de análise que apontou bastante cautela com relação à Vale foi o BTG Pactual, que mantém recomendação neutra para os ativos da companhia. Na semana passada, os analistas Leonardo Correa e Caio Ribeiro publicaram um detalhado relatório sobre o setor, apresentando perspectiva para o minério de ferro, análise de oferta e demanda e estudo de curva de preços. Os analistas esperam que o minério feche o segundo trimestre a US$ 70 a tonelada, o terceiro trimestre a US$ 60 a tonelada e encerre o ano a US$ 55 a tonelada, devendo se manter neste patamar no próximo ano. O aumento da oferta e as distorções de mercado foram apontados como fatores para essa pressão, o que levaram os analistas a manterem a recomendação neutra para o ADR da Vale, mas com o preço-alvo sendo elevado de US$ 9 para US$ 10,00.

“Reconhecemos o progresso feito pela companhia nos últimos tempos, como redução de custos e alavancagem (de 3.5 vezes para 2.1 vezes), desinvestimento em ativos non-core e melhorias na governança corporativa, mas o case continua altamente dependente do preço do minério”, afirmam os analistas. Desta forma, Correa e Ribeiro seguem cautelosos e veem os preços de minério no pico, apesar de ainda enxergarem algum valor a ser extraído de desalavancagem.

A companhia mantém a previsão de queda de dívida líquida de US$ 25 bilhões para US$ 15 a 17 bilhões, a ser atingido no fim do ano, com FCF (Fluxo de Caixa Livre) de US$ 6,6 bilhões em 2017. “Assumindo preços de minério se estabilizando em US$ 80 a tonelada em 2017 e corrigindo para US$ 55 a tonelada de 2018 em diante, ainda enxergaríamos 20% de potencial de valorização para o papel. Contudo, a volatilidade do minério atual e o potencial de valorização não justificam estarmos posicionados no papel agora”, apontam os analistas.

Outros fatores no radar

Apesar de ser crucial para a Vale, não é só o minério de ferro que está no radar da companhia, conforme ressalta o Bradesco BBI. Além do minério de ferro, eles veem alguns catalisadores à frente: (1) aprovação de código de mineração entre o segundo e o terceiro trimestres com royalties provavelmente entre 2 e 4% (versus 2% atualmente); (2) reinício da operação da Samarco no segundo semestre de 2017; (3) acordo da Valepar, com incorporação da classe de ações ON / PN em junho; (4) entrada em operação da S11D – Carajás e (5) o novo discurso de entrada do CEO da Vale, Fábio Schvartsman, que deve oferecer informações valiosas sobre os próximos passos estratégicos para a empresa.  

Em meio a esse cenário, os analistas apontam: há muitos catalisadores para a ação da Vale. Contudo, o minério de ferro continua a ser a estrela para os papéis da mineradora. E levando em conta esse cenário, ainda parece cedo voltar para os ativos da companhia. 

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Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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