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Consequências “estratosféricas” mesmo que só no curto prazo? Na dúvida, evite consumir carne na Bolsa agora

Analistas apontam que cenário de longo prazo é positivo para frigoríficos mas, em meio à Operação Carne Fraca e restrições a exportações, é melhor evitar o setor por enquanto 
Por  Lara Rizério
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO –  As suspeitas em torno da qualidade da carne brasileira, geradas pela operação Carne Fraca da Polícia Federal, arranharam a imagem do Brasil no exterior e podem resultar em um prejuízo de valores “estratosféricos”. A frase é do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que apontou uma forte queda das exportações brasileiras: na última terça, o Brasil exportou US$ 74 mil do produto, bem abaixo do valor médio de exportações em março por dia útil, de US$ 60 milhões. 

Após a Operação Carne Fraca os seguintes países suspenderam as importações de carnes:  Arábia Saudita, Hong Kong, China, Chile, Egito, Argélia, Jamaica, Trindad e Tobago, Panamá, Emirados Árabes Unidos, México e Bahamas. Além disso, há aquelas nações que que fizeram um suspensão de maneira parcial, apenas de plantas frigoríficas que estão sob investigação da Polícia Federal: Japão, África do Sul, União Europeia, Suíça e Rússia. Em meio a esse cenário, algumas situações aconteceram: uma cidade de Goiás que não sabe o que fazer com tantos perus, enquanto dois frigoríficos de Curitiba fecharam as portas e já demitiram 280.

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O cenário de “terra arrasada” se repete na Bolsa uma vez que, desde a última sexta-feira, as ações da BRF (BRSF3)  e JBS (JBSS3), implicadas na Operação, já caíram 9,5% e 9,2% desde a Operação, enquanto Minerva (BEEF3), que sequer foi citada, caiu 8,5% no período desde então em meio ao efeito cascata com os danos nas exportações. Já Marfrig (MRFG3) ficou no zero no período. O fato de que China, Hong Kong, Egito, Emirados Árabes, México e Chile respondem juntas por 55% das exportações de carne de boi, 32% de frango e 35% da carne suína dão a dimensão do cenário preocupante para o setor. “Ajudando” a piorar a imagem, esteve a Operação Carne Fria deflagrada na última quarta-feira: em operação de combate ao desmatamento na Amazônia, o Ibama embargou nesta semana 2 frigoríficos da JBS e outras 13 empresas acusadas de comprar gado oriundo de áreas de desmate ilegal. 

Reputação: o risco de longo prazo

Conforme destaca o Santander, fica claro que a reputação do Brasil foi danificada, e a recuperação desse golpe pode levar mais tempo do que o inicialmente esperado”. Já o Bradesco BBI aponta que a semana foi caótica para o mercado, com as exportações no setor sendo virtualmente zero. Assim, apesar da percepção geral de que as restrições comerciais sejam de curta duração (semanas ou meses), o setor seguirá oferecendo riscos na Bolsa. Além disso, “as restrições comerciais, a publicidade negativa e as proibições de exportação podem potencialmente ter graves implicações a longo prazo para a indústria, refreando os recentes esforços para desbloquear novos mercados de exportação”, aponta o Santander. 

Em meio a esse cenário, o que esperar para as ações do setor de frigoríficos – no curto e longo prazos? Primeiro, vale destacar as análises sobre o impacto no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações): expectativa de queda de 13% na Minerva, 9% por Marfrig, 7% para BRF e 3% para JBS, aponta o Bradesco BBI. 

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Corroborando esse cenário em que a JBS será a menos impactada, o Santander aponta a companhia como “a maneira mais segura” de se posicionar na recuperação. Os analistas Ronaldo Kasinsky e Luis Miranda apontam a menor exposição às vendas domésticas ( de cerca de 15%) e às exportações do Brasil (de cerca de 12%), enquanto colocam Minerva como a mais exposta às barreiras à exportação (cerca de 63% das vendas).

Contudo, além de JBS,  os analistas continuam a ter uma visão construtiva de longo prazo sobre o setor, com recomendações de compra para BRF, Marfrig e Minerva, mas reduzindo as convicções de curto prazo. Isso porque eles esperam que esta notícia tenha implicações negativas para todos os players listados nos próximos trimestres. Desta forma, o Santander recomenda aos investidores: “esperem um pouco
mais antes de entrar no setor, já que as repercussões dessa investigação ainda são desconhecidas”. E, conforme afirmou à Rádio Eldorado o fiscal agropecuário federal Daniel Gouveia Teixeira, responsável por denúncias que levaram à Operação Carne Fraca, “nem 1% do que foi descoberto pela PF foi mostrado”,  Ou seja, mais pode estar por vir. 

O Itaú BBA dá especial ênfase à questão tempo, apontando que ele está passando. Para os analistas, a restrição nacional será de curta duração, mas importa muito quão rápido as restrições serão levantadas. “Ainda assim, evitamos a exposição ao setor neste momento”, reforçam os analistas Antonio Barreto e Thomas Budoya. 

Conforme destaca o banco, algumas restrições não fazem sentido como, por exemplo, várias restrições à carne bovina brasileira mesmo quando a maioria das investigações se concentram em empresas avícolas. “Mas elas fazem parte do jogo de poder do comércio internacional, e não podemos negar que poderia ter efeitos colaterais importantes sobre outros nomes do setor nacional. No entanto, mesmo se as restrições forem levantadas, o tempo é crítico – e deve acontecer rápido. O grau de dano à indústria pode ser enorme se as proibições não forem levantadas em breve. Acreditamos que algumas ações têm precificado um cenário extremamente negativo, como no caso da Minerva, que não esteve envolvido em nenhuma das investigações. Mas o dano de curto prazo ainda pode se estender dadas as repercussões da proibição – se não levantada imediatamente -, sobre os volumes e os preços médios em 2017”, afirmam os analistas do Itaú BBA. 

Agora, os analistas mantém recomendação outperform para Minerva e JBS, marketperform para BRF e underperform para a Marfrig, mas apontam que podem reavaliar as recomendações e preços-alvos nos próximos dias. “Por enquanto, evitamos a exposição a todos os nomes do setor”. 

Se o fator tempo é importante, o BTG Pactual acredita que a suspensão da importação por parte de China, Hong Kong e Egito (48% do total exportado pelas companhias brasileiras) será breve e revista no curto prazo. E, apesar das suspensões e possíveis embargos terem consequências diretas no preço dos produtos, os analistas lembram algumas características do setor que levariam a um impacto menor em margens e maior em volumes. Isso porque os preços menores levam as companhias a reduzirem as compras de gado e, dessa forma, diminuíram os preços de gado também. “Como o mercado local representa cerca de 20% da produção brasileira de carne bovina, acreditamos que o mercado doméstico não terá uma sobre-oferta tão grande”, avaliam.

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Eles ainda apontam que os  países que suspenderam a importação dos nossos produtos representam 28% e 9% das receitas de Minerva e Marfrig, respectivamente. Por outro lado, os impactos podem ser menores pois: i) ambas as empresas possuem unidades de processamento de carne bovina fora do Brasil; e ii) parte do volume desses mercados podem ser realocados para outras regiões. “Dessa forma, a forte queda dos papéis nos últimos dias nos parece exagerada se assumirmos que as suspensões de China, Hong Kong e Egito sejam de fato temporárias”, afirmam Thiago Duarte e Vito Ferreira. 

A visão de que a Marfrig e a Minerva podem contornar as restrições também é apontada pelo Bank of America Merrill Lynch; além disso, a BRF produz na Argentina, Oriente Médio, Tailândia e Europa, enquanto a JBS tem uma plataforma sólida nos EUA. E também apontam: o fato do Brasil ser um grande exportador para vários países reforça a visão de que essas restrições não durarão muito. Logo abaixo, estão em destaque as estimativas do BofA para as exportações de cada frigorífico por região e qual a participação do Brasil no mercado mundial de carnes. 

 

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Desta forma, dada a grande importância das exportações brasileiras para o mercado mundial e a grande importância da exportação para os frigoríficos nacionais, o setor frigorífico passa por um período difícil na Bovespa, apesar de ser visto como breve. Neste cenário, os analistas recomendam: não consuma carne agora na Bolsa. 

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Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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