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Quem não mede não gerencia

Embora o Brasil tenha desenvolvido bons e variados sistemas de medição da inflação, eles acabaram por se desatualizar e perder acuracidade, seja pelo advento de novos fatores e costumes, seja pela diversificação das relações de consumo.
Por  Rubens Menin
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Sob título semelhante, desenvolvi neste blog, em setembro do ano passado, um tópico em que chamei a atenção para a falta de estatísticas claras e abrangentes acerca do setor de Construção Civil nacional. Naquela ocasião, mencionei que: “É muito difícil aos gestores privados e à própria administração pública planejarem com eficiência e segurança os desempenhos empresariais e as políticas de Estado nessa área. Tudo parece um vôo cego, quando o piloto tem que tomar decisões baseadas na sua própria intuição, por absoluta falta de apoio em leituras objetivas da realidade e em dados concretos”.  Registrei, também, a minha opinião de que, “quem não mede não pode gerenciar”. Um ano depois, decidi voltar ao tema, focando, desta vez, o apagão de conhecimento na área das contas nacionais e das variáveis macroeconômicas, que tem trazido enorme prejuízo ao planejamento e à gestão.

Com efeito, a falta de dados suficientes, abrangentes e confiáveis pode levar – como de fato está levando – os gestores públicos e privados à produção de diagnósticos equivocados e imperfeitos do quadro econômico nacional.Isso compromete a fixação de metas de crescimento de médio e longo prazo e o delineamento de políticas eficazes para o estímulo ao desenvolvimento econômico e social. Todos entendem com facilidade as conseqüências de um erro de diagnóstico que possa ocorrer na Medicina. Nos casos mais graves, um erro de diagnóstico pode resultar na própria morte do paciente. Pois, na Economia, as relações de causa e efeito não são muito diferentes, agravadas pelo fato de que atingem grandes massas populacionais. À propósito disso, quero destacar, desta vez, os conceitos de inflação e renda.

Medir a evolução (para maior ou para menor) da renda nacional, de partes de seu território ou de estratos sociais específicos com base na “renda bruta” costuma produzir grandes distorções. Para possibilitar diagnósticos mais confiáveis e acurados, melhor que se use, neste caso, a “renda líquida”, ou seja, aquela da qual já foram descontados todos os impostos e demais custos incidentes de caráter não voluntário. No caso brasileiro, não é muito difícil perceber que tivemos um crescimento de renda nos períodos mais recentes, principalmente após o advento do Plano Real. Nem sempre óbvia, mas igualmente verdadeira, é a circunstância de que tivemos, nos mesmos períodos, significativo crescimento da carga tributária. Nos países em que a carga tributária permanece estabilizada ou com crescimento muito pequeno em grandes períodos de tempo, todo crescimento observado na “renda bruta” costuma significar um real acréscimo no rendimento auferido pelas pessoas e pelas famílias. Mas, no caso brasileiro, cuja carga tributária vem crescendo constantemente, o aumento do rendimento bruto nem sempre significa um ganho real para as pessoas e para as famílias.

No que diz respeito à inflação, podem estar sendo cometidos erros parecidos de diagnóstico. Embora o Brasil tenha desenvolvido bons e variados sistemas de medição da inflação, eles acabaram por se desatualizar e perder acuracidade, seja pelo advento de novos fatores e costumes, seja pela diversificação das relações de consumo. A maioria dos indicadores oficiais é calculada com base em uma cesta de produtos que raramente excede 90 itens. No entanto a variação de preços de alguns produtos e serviços que passaram a estar mais presentes no cotidiano nacional – como “tablets”, eletrônicos e viagens de turismo, por exemplo – não são captados nas medições. Além disso, o efeito de alguns custos indiretos progressivamente crescentes – como aumento do consumo de combustíveis pelo trânsito cada vez mais difícil, os maiores gastos com planos de saúde por deficiência dos serviços públicos disponibilizados nessa área e aumento nas despesas condominiais para prover segurança privada, também por exemplo –  ficam igualmente de fora dos instrumentos habituais de medição da inflação.

Em resumo, as deficiências nos instrumentos de medição podem produzir a falsa impressão de que a renda do brasileiro teria crescido, nos últimos tempos, mais do que aquilo que de fato ocorreu e de que a inflação está sob relativo controle. Temos que aprimorar a atualizar os métodos de medição e aferição. Afinal, também para a economia, vale a recomendação de que é preciso medir melhor para gerenciar melhor.

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