Société Générale: à parte de mitos e crenças, decoupling sai do papel neste ano?

Questão é se o mundo evoluiu o suficiente para que BRICs sejam capazes de absorver turbulências dos países desenvolvidos

Publicidade

SÃO PAULO – Bolsas em alta, conquistas de investment grades, taxas de crescimento econômico expressivas. Este é o cenário apresentado por muitos mercados emergentes nos últimos meses, a despeito dos temores de forte desaceleração econômica – podendo culminar em um quadro recessivo – nos EUA.

De fato, tudo parece apontar para a configuração efetiva da tese do descolamento, conceituada pela equipe do Société Générale como “a habilidade da economia global de manter um crescimento robusto e sustentável, ao passo que a maior economia do mundo, a norte-americana, entra em uma recessão”.

Ainda que a considerável diminuição do peso do consumo dos EUA no sistema econômico internacional seja inquestionável, na visão dos analistas do banco francês, a principal questão a ser debatida é se a economia global evoluiu o suficiente para o ponto em que os mercados emergentes sejam capazes de absorver as turbulências nos países desenvolvidos.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Fortalecimento dos emergentes

Nesse sentido, embora a combinação de menores taxas de consumo nos EUA e enfraquecimento do dólar mundo afora impacte negativamente o resultado de companhias exportadoras, o Société observa que a dependência da produção industrial dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) frente ao mercado norte-americano fez-se sensivelmente decrescida nos últimos anos.

Boa parte desta tendência deve-se à ampliação da pauta exportadora, um efeito típico da globalização. Mas também tem seu respaldo no fortalecimento da demanda doméstica em tais países, mais amadurecida em função dos fundamentos macroeconômicos mais sólidos. Por sinal, tal fato sustenta também as perspectivas de menor impacto da atual crise sobre mercados desenvolvidos que não os EUA, como a Europa.

Na esteira do crescimento econômico asiático, liderado pela China, exportações européias ao seu continente vizinho vêm se portando como um elemento-chave de absorção dos solavancos nos EUA. De fato, a Zona do Euro cresceu surpreendentes 0,7% no primeiro trimestre deste ano, demonstrando que, ao menos por ora, uma importação da recessão norte-americana está fora de questão.

Continua depois da publicidade

No entanto, o otimismo encontra obstáculos ao tentar se estender às perspectivas futuras ao desempenho macroeconômico europeu nos próximos trimestres. A valorização do euro e inflação crescente, assim como o preço do barril de petróleo, aliadas a uma recessão nos EUA constituem um cenário extremamente desafiador a diversos setores da economia européia ao longo deste ano e do próximo.

Afinal, descolamento sai do papel?

A conclusão que resta aos analistas do Société Générale é que não há uma resposta simples para a questão que vem atormentando a mente de economistas e investidores desde que a crise do subprime se iniciou: se o descolamento finalmente sairá do papel e se configurará como uma realidade de fato.

Na leitura do banco, generalizações são difíceis de serem traçadas, e nesse sentido, cada país, e mais, cada setor dentro de cada país, deverá responder de forma diferenciada de acordo com suas especificidades, principalmente no que concerne ao grau de dependência em relação à economia norte-americana.

A grande esperança do mercado é a China, potência asiática que vem mantendo seu robusto crescimento a despeito das turbulências na maior economia do mundo. “Mas a questão precisa ser refinada para se o país conseguirá crescer o suficiente para carregar consigo a economia global”, conclui a equipe.