Retrospectiva 2004: dólar cai frente ao real em ano de forte influência externa

Política monetária nos EUA e mercado de câmbio internacional ditaram o comportamento do dólar frente ao real em 2004

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Quem investiu em dólares em 2004, a exemplo do que já havia ocorrido no ano anterior, certamente não atingiu a rentabilidade esperada. A moeda norte-americana acumulou queda de 8,58% em relação ao real no ano. Apesar da queda acumulada no ano, o período não foi todo de calmaria no mercado de câmbio, já que o dólar chegou a acumular alta de 10,7% em relação ao real no primeiro semestre.

Logo no início do ano, o real manteve a trajetória de queda apresentada ao longo de 2003. Após romper o suporte de R$ 2,80, entretanto, o Banco Central passou a realizar leilões de compra, que fizeram com que o dólar rompesse a trajetória de queda ainda em janeiro e passasse a oscilar em torno de R$ 2,90 até o final de abril.

No final de abril, as expectativas de elevações na taxa básica de juro norte-americana trouxeram forte temor ao mercado e fizeram com que o dólar iniciasse uma tendência de alta, encerrando no dia 20 de maio cotado a R$ 3,213.

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Temores cederam na metade do ano

O temor era de que houvesse uma saída abrupta de capitais do país, caso a taxa básica de juro dos EUA (Fed Funds), fosse elevada. Com isso, havia a percepção de que a maior atratividade dos ativos de renda fixa norte-americanos poderia levar a uma evasão de divisas de países emergentes, o que exerceu influência também no Brasil.

Em junho, o mercado percebeu que os Fed Funds não deveriam subir de maneira rápida e que deveriam continuar em patamares relativamente baixos, o que aliviou os temores. O principal fator a contribuir para o início desse processo foi a afirmação do presidente do banco central norte-americano, Alan Greenspan, de que os Fed Funds subiriam em um “ritmo moderado”.

Com isso, o dólar reverteu a trajetória de alta e passou a cair forte, especialmente em agosto, quando o mercado recebeu positivamente duas notícias do cenário econômico doméstico: a elevação da meta de superávit primário de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto) para 4,50% da PIB, além do crescimento de 4,2% do próprio PIB em 4,2% no primeiro semestre.

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Cenário externo passou a favorecer queda do dólar

Em setembro, a moeda norte-americana passou a apresentar uma forte desaceleração da trajetória de queda e até o mês de novembro oscilou entre R$ 2,80 e R$ 2,90. Foi então que o cenário externo voltou a exercer forte influência, fazendo com que o dólar voltasse a apresentar uma tendência de queda acelerada.

Com a reeleição de George W. Bush para a presidência dos EUA, o temor do mercado frente aos chamados déficits gêmeos da economia norte-americana passou a pressionar o dólar frente às principais moedas do mundo, dentre elas o real. O mercado teme que com a eleição de Bush, não seja dada a atenção necessária ao problema dos déficits em conta corrente e fiscal do país.

Já em dezembro, com o intuito de compor reservas, o Banco Central passou a realizar compras no mercado doméstico de câmbio, a partir do dia 6 de dezembro, que fizeram com que o ritmo das quedas diminuísse. Foi a primeira intervenção desde fevereiro e parte do mercado acredita que o verdadeiro intuito do BC tem sido impedir maiores perdas, que pudessem prejudicar as contas externas.

Dólar atingiu menor patamar desde junho de 2002

Isso não impediu o dólar de atingir, no dia 30 de dezembro, o menor patamar frente ao real desde junho de 2002, chegando a ser cotado a R$ 2,65. Assim, o dólar encerrou o ano acumulando queda de 8,58% no ano, cotado a R$ 2,653.

Entretanto, frente ao euro, a moeda brasileira encerrou praticamente estável no ano, já que no final da tarde do dia 30 de dezembro a cotação da moeda única européia era de R$ 3,6187, o que representa uma queda de 0,68% em relação ao real no acumulado do ano.

Percebe-se, dessa maneira, que o cenário externo foi de fundamental importância para a compreensão do comportamento da cotação do real frente ao dólar em 2004. A redução dos temores relacionados à taxa básica de juro norte-americana permitiu a valorização do real frente ao dólar, impulsionada posteriormente pelos movimentos no mercado internacional de câmbio.