Moratória argentina destruiu mitos de mercado

Investidores em Eurobonds não receberam seu dinheiro de volta, ao mesmo tempo em que multinacionais cortaram o suporte às sua subsidiárias locais

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – A crise argentina, em função da gravidade e duração, pode ser certamente considerada como uma das piores já enfrentadas por um país emergente. Porém, no que diz respeito ao tratamento dado aos investidores estrangeiros, o caso argentino de longe supera tudo o que de pior já havia ocorrido.

Além de ser o primeiro país soberano de importância a decretar moratória nas suas emissões de Eurobonds, o fato de que diversas empresas estrangeiras estão deixando suas subsidiárias na Argentina entrarem em default nas suas dívidas mostra a gravidade da situação.

Investidores em Eurobonds não recebem juros e principal

Apesar da seriedade das crises enfrentadas pelo México em 1995, por diversas economias asiáticas em 1997, pela Rússia em 1998 e pelo Brasil em 1999, em nenhuma delas o tratamento dispensado aos credores foi tão desfavorável como no caso argentino.
Mesmo na crise de 1982, que gerou uma onda de moratórias que incluiu países latino-americanos, asiáticos, africanos e do Leste Europeu, os investidores em Eurobonds acabaram recebendo seu dinheiro de volta. Na época, a maior parte da dívida externa destes países estava nas mãos dos bancos comerciais norte-americanos e europeus, e apenas pequena parte ficava com os investidores em Eurobonds. Somente a Costa Rica não teve recursos para pagar seus Eurobonds.
No caso da Argentina, o default decretado na dívida externa atingiu todos os investidores em títulos do país, desde os bancos e investidores institucionais norte-americanos até investidores de varejo europeus. Neste último caso, o impacto foi bastante sentido, pois ninguém acreditava no conceito de que um país como a Argentina, com fortes vínculos com economias européias como Espanha e Itália, pudesse simplesmente deixar de pagar suas obrigações.
Os efeitos já começam a ser sentidos, inclusive pelo Brasil, que teve dificuldade para colocar títulos no valor de 500 milhões de Euros no mês passado, em função do ceticismo dos investidores europeus, principalmente dos pequenos investidores de varejo.
Empresas com sócios estrangeiros também decretaram moratória

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Além do governo argentino e de empresas privadas de capital argentino, também grandes empresas com fortes sócios estrangeiros decretaram default em seus pagamentos de obrigações de dívida. Novamente, esta é uma situação pouco usual, pois na maioria das vezes as grandes multinacionais preferem pagar as dívidas de suas subsidiárias a passar pela situação constrangedora de ver suas controladas não cumprirem suas obrigações.
Somente nas últimas semanas, duas empresas deste calibre entraram em moratória: a Metrogas e a Telecom Argentina. A Metrogas, distribuidora de gás que tem a espanhola YPF-Repsol e a britânica BG Group (a controladora da Comgas) como principais acionistas, anunciou que não tem condições de pagar dívidas no valor de US$ 425 milhões.
O caso mais grave, porém, foi o da Telecom Argentina, uma das duas empresas que controlam o setor de telecomunicações na Argentina, juntamente com a espanhola Telefónica. Os dois maiores acionistas da empresa, a France Telecom e a Telecom Itália, anunciaram que não iriam dar suporte à controlada, além de realizar pesados ajustes em seus balanços para provisionar perdas na Argentina.
A empresa argentina, que tem dívidas totais de US$ 3,2 bilhões, divulgou que está suspendendo seus pagamentos de principal, embora continue a pagar juros, em função dos efeitos da desvalorização do peso e da “pesificação” das tarifas de serviços de telecomunicações.
Caso argentino deve servir de lição

A situação da Argentina deve servir de alerta para todos, principalmente para países que, como o Brasil, apresentam sérias deficiências estruturais na economia. A aplicação de políticas econômicas equivocadas pode levar a uma forte deterioração econômica e social, além de praticamente fechar as portas para o capital estrangeiro, tão necessário para países onde a poupança interna é insuficiente.

Além disso, a situação argentina mostra que, ao contrário do ocorrido no Brasil em 1999, a insistência em não querer enxergar a gravidade da situação pode criar um problema ainda maior. Os efeitos têm sido e serão sentidos, infelizmente, não somente pela Argentina, mas também pelos seus vizinhos como o Brasil.