Marina Silva: a história da ambientalista que volta a ser ministra ao lado de Lula

Eleita deputada federal por São Paulo, Marina SIlva será ministra do Meio Ambiente no terceiro mandato de Lula

Marina Silva
Nome completo:Maria Osmarina Silva
Data de Nascimento:08 de fevereiro de 1958
Local de Nascimento:Rio Branco, Acre
Formação:História pela Universidade Federal do Acre
Ocupação:Ambientalista e política
Cargos que ocupou:Ministra do Meio Ambiente, senadora, deputada estadual e vereadora. É deputada federal eleita
Filiação:Rede Sustentabilidade
Estado Civil:Casada, quatro filhos

Quem é Marina Silva?

Marina Silva é uma ambientalista e política brasileira. Deputada federal eleita pela Rede em São Paulo em 2022, ela obteve 237.526 votos e ficou em 13º lugar entre os candidatos à Câmara mais votados no estado. Antes, Marina foi ministra do Meio Ambiente, senadora, deputada estadual no Acre, seu estado natal, e vereadora em Rio Branco. Disputou por três vezes a Presidência da República, em 2010, 2014 e 2018.

Em 2022, Marina se reconciliou politicamente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de quem foi ministra do Meio Ambiente, e já na campanha para o primeiro turno apoiou a candidatura do petista à Presidência. A Rede integrou a coligação Brasil da Esperança, que elegeu Lula.

Com a vitória do petista contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno, em 30 de outubro de 2022, o nome da Marina passou a ser um dos mais cotados para assumir a pasta do Meio Ambiente no terceiro mandato de Lula, que terá início em 1 de janeiro de 2023. A confirmação para o cargo aconteceu antes do ano acabar, em 29 de dezembro.

Mesmo sem a confirmação, Marina atuou como interlocutora informal do futuro governo na área ambiental. Ela participou da 27ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações sobre Mudanças Climáticas (COP 27), em Sharm El-Sheikh, no Egito.

“A sociedade sabe que agora a prioridade é combater sem trégua o desmatamento criminoso para que se alcance o desmatamento zero”, disse Marina, segundo a BBC Brasil. O desmatamento é a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa do Brasil.

Lula prometeu que seu governo vai lutar pelo desmatamento zero na Amazônia. A expectativa é que, com o retorno de petista ao poder, o Brasil volte ter protagonismo nas pautas internacionais ligadas ao clima e ao meio ambiente.

Sob Bolsonaro, a fiscalização na área foi fragilizada e o ritmo do desmatamento cresceu. De 2018 a 2021, a taxa anual de desmatamento aumentou 73%, de 7,5 mil quilômetros quadrados para 13 mil km2.

Nos dois primeiros mandatos de Lula, o volume anual de desmatamento caiu 67,6%, de 21,65 mil km2 em 2002 para 7 mil km2 em 2010, graças em grande parte às políticas aplicadas por Marina enquanto ela esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente (MMA), de 2003 a 2008.

“[O desmatamento zero] não é algo que seja fácil, porque hoje nós temos uma situação incomparavelmente mais grave do que tínhamos em 2003, mas temos uma vantagem. Nós já temos uma experiência que deu certo”, declarou Marina à BBC Brasil.

O que esperar da nova ministra

Para ela, desta vez a política ambiental será um das prioridades do governo como um todo e não só do Ministério do Meio Ambiente. Em 2008, ela pediu demissão da pasta em meio a atritos com outros ministros, que a acusavam de travar o licenciamento ambiental de projetos. Um dos principais embates foi com a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, responsável pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Sem conseguir o respaldo que gostaria de Lula na ocasião, Marina saiu do governo e, posteriormente, do PT, legenda à qual foi filiada por 30 anos.

“O presidente Lula mudou. Naquela época, o combate às atividades ilegais e a política ambiental eram diretrizes só do ministério (do Meio Ambiente). Agora, o próprio presidente assumiu como sendo de todo o governo”, afirmou Marina à BBC Brasil. “Foi ele que disse que a política ambiental vai ser transversal. Foi ele que disse que o clima está no mais alto nível de prioridade e que queremos chegar ao desmatamento zero”, acrescentou.

Entre as propostas de Marina, segundo o site Brasil de Fato, estão a recomposição e a ampliação de verbas e pessoal do ministério, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Sistema Florestal Brasileiro (SFB), além do retorno do SFB e da Agência Nacional de Águas (ANA) à alçada do MMA.

“Temos de convencer as pessoas de que a floresta em pé é mais rentável do que destruída”, afirmou ela à revista Veja. “Também temos de investir em atividades públicas sustentáveis, como agricultura de baixo carbono, reflorestamento de milhões de hectares, geração de energia com redução de CO2, criação de unidades de conservação de terras indígenas e viabilização de uma autoridade nacional para riscos climáticos”, destacou.

Filha da floresta

Maria Osmarina Silva nasceu no seringal Bagaço, a 70 quilômetros de Rio Branco, no Acre, em 08 de fevereiro de 1958. Filha de Pedro Augusto da Silva e Maria Augusta da Silva, quando criança ajudava a família na coleta de látex e castanha, e na roça.

Não havia escola onde morava. Ela só aprendeu a fazer contas aos 14 anos. Aos 15, ficou órfã de mãe. Aos 16, contraiu hepatite e foi se tratar em Rio Branco. Acabou ficando. Chegou a trabalhar como emprega doméstica e durante dois anos morou no convento das irmãs Servas de Maria Reparadoras. Tinha intenção de tornar-se freira.

Na época, entrou em contato com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e passou a frequentar reuniões das comunidades eclesiais de base da Igreja Católica. Aprendeu a ler e a escrever, conclui o primeiro e o segundo graus no supletivo e, aos 20 anos, entrou no curso de História da Universidade Federal do Acre. Já tinha deixado de lado a ideia de ser freira.

Teve contato com o marxismo na universidade e chegou a integrar o Partido Revolucionário Comunista (PRC), organização clandestina de oposição à ditadura militar. Foi monitora de Sociologia na faculdade, tornou-se professora de História da rede pública do estado e participou do movimento sindical.

Adepta da Teologia da Libertação, atuava na paróquia do Cristo Ressuscitado, onde organizava comunidades carentes. Na ocasião, conheceu o seringueiro Chico Mendes, líder do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, de quem se tornou amiga. Mendes foi assassinado em 1988.

Ao lado de Mendes, Marina foi uma das fundadoras da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Acre, em 1984. Em 1985, formou-se em História e se filiou ao PT.

Trajetória política

Em 1986, foi candidata a deputada federal constituinte, fazendo dobradinha com Mendes, que pleiteava vaga na Assembleia Legislativa. Não conseguiram se eleger. Em 1988, porém, Marina foi eleita vereadora em Rio Branco, tendo sido a parlamentar mais bem votada da capital acreana.

Em 1990, ela concorreu a uma vaga na Assembleia e foi eleita deputada estadual com o maior número de votos. Na época, ficou doente e foi diagnosticada contaminação por metais pesados. Passou por longo tratamento para recuperar a saúde.

Em 1994, foi eleita para o Senado com 64 mil votos. Ao assumir a cadeira, em 1995, tornou-se a mais jovem senadora da história da República. No mesmo ano, assumiu a posição de secretaria nacional de Meio Ambiente do PT. Integrou a lista de “Jovens de Futuro no Mundo” da revista norte-americana Time.

Em 1996, recebeu do então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, prêmio da Goldman Environmental Foundation por seu trabalho com seringueiros e índios na Amazônia. Em 1996, foi premiada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) por sua militância ambiental.

Em 1997, Marina tornou-se evangélica pentecostal. Ela frequenta a igreja Assembleia de Deus.

Em 1999, ela passou a ser líder do PT e do bloco de oposição no Senado. Na época, o Brasil era governado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Marina foi reeleita em 2002, com 157.588 votos.

Primeiro ministério (também no governo Lula)

Com a primeira eleição de Lula para presidente, foi nomeada ministra do Meio Ambiente. No Senado, foi substituída pelo suplente Sibá Machado (PT-AC). O combate ao desmatamento foi o grande desafio do início do governo. Sob influência de Marina, o governo criou o Plano de Ação para a Prevenção e o Controle do Desmatamento na Amazônia Legal. A iniciativa reunia ações do MMA e mais 13 pastas.

O monitoramento por satélite foi aperfeiçoado, com a criação do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Sistema Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe). O Plano criou também 24 milhões de hectares de unidades de conservação.

Durante a passagem de Marina pelo MMA, foram aprovadas a Lei da Mata Atlântica e a Lei sobre Gestão de Florestas Públicas, e criados o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal. Em 2006, a então ministra fez parte de uma lista de dez pessoas que mais lutavam pelo meio ambiente no mundo, publicada pelo jornal britânico The Guardian. Em 2007, ganhou o prêmio Campeões da Terra, a principal premiação ambiental da ONU.

No segundo mandato de Lula, Marina entrou em rota de colisão com outros ministros, numa espécie de oposição entre desenvolvimentistas e ambientalistas. No final de 2007, no entanto Lula, atendeu orientações de sua auxiliar e adotou novas medidas contra o desmatamento frente ao risco de recrudescimento da devastação. Em 2008, Marina foi citada pelo jornal britânico The Guardian como uma das “50 pessoas que podem salvar o mundo”.

Em 2008, o governo lançou o Plano Amazônia Sustentável (PAS), e Lula chamou Marina de “mãe do PAS”, assim havia chamado Dilma de “mãe do PAC”. No entanto, cedeu a coordenação do programa ao então ministro extraordinário do Núcleo de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger.

Dias depois do anúncio do PAS, Marina entregou sua carta de demissão. Além da entrega da coordenação do plano a outro, pesou na decisão impasses sobre a retomada momentânea do desmatamento em 2008, a transposição do Rio São Francisco, o licenciamento de hidrelétricas na Amazônia e outros.

Além da queda histórica do ritmo de desmatamento, outros legados deixados por Marina foram a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, a prisão de mais de 700 criminosos ambientais, o desmonte de mas de 1,5 mil empresas ilegais e inibição da grilagem de 37 mil propriedades. Foram ainda homologados 10 milhões de hectares de terras indígenas. Marina foi substituída pelo deputado estadual Carlos Minc (PT-RJ, hoje no PSB).

De volta ao Senado, Marina deixou o PT e se filiou ao PV. Continuou a receber prêmios internacionais por sua atuação nas áreas ambiental e climática.

Candidata Marina Silva

Em 2010, Marina disputou a Presidência pela primeira vez. Obteve 19,6 milhões de votos, ou quase 20% dos votos válidos, e ficou em terceiro lugar, atrás de Dilma Rousseff (PT), que venceu, e José Serra (PSDB).

Em 2011, Marina e aliados deixaram o PV e lançaram o Movimento por uma Nova Política, que futuramente resultaria na criação da Rede Sustentabilidade.

Nas eleições de 2014, Marina saiu como candidata a vice na chapa do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), à Presidência. Com a morte de Campos em acidente aéreo durante a campanha, a ex-ministra foi promovida a titular. Como a Rede ainda não havia sido homologada pela Justiça Eleitoral, o PSB deu legenda para Marina e seus aliados. O deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) saiu como vice.

Mais uma vez Marina ficou em terceiro lugar, com 22 milhões de votos, ou 21,32% dos votos válidos, atrás de Dilma, reeleita, e Aécio Neves (PSDB). A ex-ministra chegou a ameaçar a liderança de Dilma e o segundo lugar de Aécio durante a corrida, o que a tornou alvo de ataques cada vez mais agressivos das campanhas dos adversários. Inconformada com a agressividade da propaganda petista, Marina acabou declarando apoio a Aécio no segundo turno.

“Depois daquele ano, eu e Dilma nunca mais tivemos contato. Só agora no segundo turno nos encontramos e celebramos a vitória do presidente Lula”, disse Marina recentemente à Veja. Em 2016, Marina apoiou publicamente o impeachment de Dilma.

Em 2018, Marina se candidatou novamente à presidente, finamente pela Rede. Bolsonaro e Fernando Haddad (PT) foram para o segundo turno, enquanto as demais candidaturas sofreram forte desidratação. A ex-ministra teve apenas 1,06 milhão de votos, ou apenas 1% dos válidos. Bolsonaro. Seus quatro anos de governo incentivaram a reaproximação de antigos aliados.

“Nós acabamos de ter uma eleição com um presidente (Bolsonaro) que não reconhece a derrota e que considera manifestações na frente dos quartéis. Estamos vivendo uma situação impensável de ver a democracia ameaçada. É um novo tempo e espero que tudo que aconteceu nesse segundo turno nos permita nos reinventar”, afirmou a deputada eleita à Veja.

Marina foi casada com Raimundo Souza, de 1980 a 1985, com quem teve a filha Shalon e o filho Danilo. Separada, casou com o técnico agrícola Fábio Vaz Lima, com quem está de 1986 até hoje. Eles têm duas filhas, Mayara e Moara.