Estrangeiro acredita em Bolsonaro, mas ainda não quer “pagar para ver” e segue fora da Bolsa

Mesmo diante de um rali de início de ano, gestores apontam que o clima global é de cautela sobre o Brasil e que a reforma da Previdência é a chave para destravar uma nova alta

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Mesmo com uma alta de mais de 7% em apenas 8 pregões, o rali do Ibovespa em 2019 ainda não conta com o apoio do investidor estrangeiro, que representa cerca de 47% do volume negociado na bolsa brasileira. E se de um lado o que justifica as recentes altas é o otimismo com o novo governo, é exatamente a chegada de Jair Bolsonaro no poder que está segurando o “gringo”.

O estrangeiro não só não está vindo para o Brasil, como segue tirando seu dinheiro daqui. Segundo dados da B3, até o dia 9 de janeiro o fluxo de capital estrangeiro está negativo em R$ 1,139 bilhão. Em 2018, o resultado foi negativo em R$ 11,5 bilhões, sendo que apenas em dezembro a saída de estrangeiros chegou a R$ 2 bilhões na bolsa.

Para Axel Christensen, estrategista-chefe de investimento na América Latina da BlackRock, desde o final de 2018 os investidores globais aumentaram sua cautela geral sobre ativos mais arriscados, incluindo emergentes como o Brasil. Este movimento se deu pela preocupação sobre as taxas de juros nos Estados Unidos e também sobre a guerra comercial dos americanos com a China.

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Por outro lado, ele afirma que o cenário está melhorando neste início de ano, embora ainda existam razões para cautela dos investidores. “Nesse contexto, esperamos que os investidores globais aumentem a exposição ao mercado emergente, incluindo o Brasil”, afirma o estrategista da BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, com cerca de US$ 6,5 trilhões sob gestão.

Cautela com o governo Bolsonaro
Apesar do movimento de cautela ter atingindo os mercados do mundo todo no ano passado, o caso brasileiro tem suas particularidades e o início do novo governo – marcando uma forte mudança sobre o que o país viveu nos últimos anos – faz com que o investidor estrangeiro não entre no clima de otimismo atual da bolsa.

James Gulbrandsen, sócio da gestora NCH Capital, que administra US$ 3 bilhões, acredita que há um grande ceticismo no exterior com o Brasil e que o estrangeiro ainda não se convenceu de que Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, vão realmente conseguir trabalhar juntos. “A aprovação da reforma da Previdência seria um choque”, afirma.

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Ele ressalta que o “gringo” quer entender direito tudo que está acontecendo e precisa de fatos concretos para realmente se animar em investir por aqui. Gulbrandsen cita ainda o fato da imprensa estrangeira estar fazendo duras críticas ao novo presidente, o que piora o sentimento do investidor global. Apesar disso, o gestor acredita que, lentamente, o estrangeiro irá retornar para o Brasil e que isso já está criando boas oportunidades no mercado.

Já Peter Taylor, chefe de ações para Brasil da Aberdeen, gestora que possui US$ 730 bilhões sob gestão, explica que a falta de fluxo estrangeiro relevante é fruto desta cautela e que o “gringo” está esperando por uma maior clareza sobre o nível de governabilidade de Bolsonaro e sua equipe, em especial quanto a possibilidade de aprovação da reforma da Previdência.

“Se tivermos notícias positivas nesse âmbito, acreditamos que o fluxo estrangeiro deve voltar de forma mais significativa e dará novo folego para que a alta na bolsa continue, em especial se o ambiente externo estiver favorável dada a influência de eventos globais na bolsa brasileira”, afirma.

Christensen complementa e diz que o atual programa econômico de Bolsonaro deve ser positivo para os investidores, mas também pondera que haverá “um exame minucioso de como a agenda de reformas será lançada”.

É comum no mercado financeiro vermos movimentos de antecipação, com investidores comprando ou vendendo de acordo com projeções, que é o que ocorre atualmente na B3 com este otimismo sobre o novo governo.

A questão é que para o estrangeiro, que nos últimos meses tem passado por um clima de maior tensão, será preciso mais que apenas uma boa projeção para que ele coloque seu dinheiro no Brasil, será preciso respostas concretas de mudança no País.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.