BRF disparou mais de 20% em dois dias; vale a pena comprar agora?

O InfoMoney conversou com analistas e gestores para entender o cenário da empresa mais comentada na última semana

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – O anúncio de substituição de Abilio Diniz pelo presidente da Petrobras, Pedro Parente, no comando do conselho de administração da BRF, trouxe um grande alívio para as ações da empresa, que carregam o fardo de ser a maior desvalorização do ano dentre os papéis que fazem parte do Ibovespa. Do fechamento de terça-feira (17) até a máxima de quinta-feira (19), os ativos BRFS3 marcaram impressionantes 20,63% de alta, mas apesar disso a queda acumulada em 2018 ainda está em 30,68%. Mas afinal, já é hora de encarteirar as ações da BRF ou o investidor precisa esperar alguma mudança mais concreta? O InfoMoney conversou com analistas e gestores que acompanham o papel e trouxe as conclusões sobre a empresa que mais ganhou destaque no noticiário corporativo da última semana.

Nascida de uma fusão da Sadia com a Perdigão em 2011, a BRF se tornou uma empresa muito grande que possui um racional de investimento focado no crescimento global, tirando um pouco a dependência do mercado brasileiro e focando em ganhos de exportação. Dessa forma, até em anos de crise ela consegue atuar no papel de price maker ao ditar o preço do mercado.

Com esse racional de investimento, a empresa de proteínas se materializou entre 2013 e 2015, alcançando uma capacidade de vendas muito alta e um potencial de crescimento global, o que a permitiu apresentar no período um crescimento de margem, assim como bom faturamento e lucro.

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De 2015 pra frente, a BRF passou por um verdadeiro “inferno astral”: agravamento da crise econômica do Brasil, problemas dentro da gestão, escândalos policiais e crescimento dos concorrentes colocaram a empresa em um pesadelo sem fim na bolsa.

O aumento da competitividade e uma queda de demanda do mercado exterior contribuíram para o enfraquecimento dos resultados. Mais tarde vieram problemas com a Operação Carne Fraca, e sua terceira fase, a Operação Trapaça, que prendeu ex-presidente da BRF, Pedro Faria. Os resultados ruins somados à queda do preço do frango e aumento do preço do milho (que entra como “custo” no resultado da companhia), encurtaram a margem operacional da empresa. O golpe final veio em 2018, com a divulgação de resultados terríveis no 4º trimestre de 2017, o que acabou de vez com a harmonia entre Abilio Diniz e os principais acionistas da empresa, em especial os fundos de pensão Petros e Previ.

Em meio a tudo isso, as ações da BRF chegaram a valer R$ 21,02, valor 42,57% abaixo do fechamento de 2017 e 70,12% abaixo dos preços de 2015. O mercado clamava por mudanças na direção da companhia, e o primeiro passo foi o “consenso” na escolha de Pedro Parente, um profissional muito respeitado no mercado e que atingiu notoriedade novamente nos últimos anos ao assumir com excelência o cargo de CEO da Petrobras – durante sua gestão, a estatal voltou a valer R$ 20 por ação na bolsa, bem distante dos R$ 4 vistos em 2016.

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Para muitos investidores, a chegada de Pedro Parente é um respiro em meio à “turbulência” vivida pela empresa. Por sua credibilidade e por ser considerado um nome de consenso para comandar o conselho da empresa em crise, pode significar mais tranquilidade no momento de resolução de desavenças entre acionistas.

Analistas do mercado, apesar de concordarem com o bom trabalho de Parente na Petrobras, não acreditam que sua chegada à BRF possa mudar muita coisa. E mais, que além de um novo nome no Conselho, ainda há muito a ser feito para colocar a casa em ordem. “Eu acho que tem muita euforia para o novo conselho, que pode trazer mais credibilidade, melhora nas decisões em conjunto e uma decisão mais unificada, mas esses problemas racionais ainda continuam”, explica Raul Grego, analista na Eleven Financial. 

Para o gestor de uma grande instituição financeira, Parente é um ótimo nome e está fazendo um ótimo trabalho na Petrobras, mas o desafio em BRF é grande. “Não acho que as mudanças vão ser rápidas. Os fundamentos são bons, os níveis estão subindo muito forte, mas no curto prazo deve permanecer ruim”, diz. 

“Ainda não é o momento de reversão de resultados operacionais e financeiros. É preciso esperar os desdobramentos estratégicos para o curto e médio prazos, dado que a Europa deve manter os embargos por algum tempo”, afirma Grego, referindo-se a outro problema envolvendo a empresa: o embargo feito na última quinta-feira (19) pela União Europeia, de 20 estabelecimentos brasileiros de exportar carne, principalmente frango, para o mercado europeu – afetando 12 unidades da BRF. 

Em relatório, o Itaú afirmou que qualquer medida que aumente as chances de não ter mais mudanças na administração no momento é algo positivo. Porém, acredita que “as dificuldades para aumentar as margens continuam grandes considerando os fortes ventos contrários em mercados externos seguindo a Operação Trapaça”. “Ainda vemos riscos para carregar o papel de BRF, que está vulnerável ao downside, e não compraríamos BRF por causa dessas notícias”, reforçam os analistas.

BRFS3 na Carteira InfoMoney
Thiago Salomão, analista da Carteira InfoMoney, conta que acompanha BRF como uma possível oportunidade de investimento, mas que está esperando uma mudança mais concreta antes de tomar uma decisão. “Você pode até tentar se antecipar e comprar agora, mas tenha ciência de que se por um lado você pode ter um retorno maior, por outro lado você pode ter um prejuízo inesperado por ‘queimar a largada’. É o puro risco-retorno: quem esperar mais um pouco para comprar pode ter menos upside, mas correndo menos risco, e é isso que eu pretendo fazer”.

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